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setembro 4, 2016
Gustavo von Ha NO MAC USP Ibirapuera, São Paulo
O Museu de Arte Contemporânea da USP apresenta, a partir de 3 de setembro às 11 horas, a exposição Inventário: Arte Outra, com 34 trabalhos recentes e inéditos (telas, objetos e vídeo) do artista visual paulista Gustavo von Ha. As obras remetem a uma visualidade inscrita a partir do segundo pós-guerra, entre os anos 1950 e 1960, comumente denominada abstração expressiva ou gestual, pintura de ação, informalismo ou pintura matérica. Quase como um falsificador, von Ha se apropria de procedimentos, modos de fazer e mesmo da imagem de outros artistas, em trabalhos que evocam de Jackson Pollock a Alberto Burri. São citações e comentários de uma imagem genérica que pautou essa pintura de grande repercussão durante o segundo pós-guerra e que é celebrizada mesmo nos dias de hoje.
Von Ha recria o ambiente abstrato gestual oferecendo ao espectador telas e objetos que parecem eles mesmos originais. Para a curadora Ana Cândida de Avelar, crítica e professora do Instituto de Artes da Universidade de Brasília, “esses trabalhos aludem ao mito de um gesto artístico heroico. Uma marca sobre o suporte deixada pelo artista-criador que fundaria, assim, algo novo e original. O resultado são obras que participam de um imaginário da abstração expressiva como um banco de imagens que compõem nosso entendimento artístico”.
Von Ha não recria obras. Ele produz aquilo que poderia ter sido como numa serialização a partir de matrizes que simulam essa existência possível. Mas essas simulações não são escolhidas aleatoriamente e, além disso, não se trata de uma apropriação apenas da visualidade, mas dos procedimentos aos quais recorriam os principais nomes da pintura abstrato-expressiva. Assim, para a curadora “há uma dimensão de performance que percorre o processo produtivo de von Ha, ou seja, as obras aqui presentes revelam apenas parte daquilo que em realidade são”. Já suas pinturas matéricas, feitas do acúmulo de tinta, não são resultado de empasto, mas sim da raspagem de telas construtivas que von Ha realiza à maneira de um Volpi, de um Hercules Barsotti, entre outros. “O gesto em questão não é aquele que cria, mas o que desfaz a forma clara, de contornos rígidos, metamorfoseando-a num informalismo contemporâneo”, explica Ana Avelar.
Os trabalhos de von Ha contribuem, ainda, para os debates sobre a celebrização do artista, a originalidade e a novidade na arte contemporânea. A exposição, além de mostrar a produção recente de um artista presente no acervo do MAC USP, atualizando o conhecimento sobre seu trabalho, amplia o debate sobre obras pertencentes ao Museu, por meio do aprofundamento de temas como originalidade, imitação, cópia, ilusão, subjetividade e gesto.