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agosto 22, 2016
Roberto Magalhães na Carbono, São Paulo
Se em 1922 o Brasil rompia seus grilhões com a Europa - ou ensaiava isto com telas de Tarsila, florações de Mário de Andrade e poética de Manuel Bandeira - com a mostra Opinião 65, no MAM do Rio de Janeiro, o Brasil irrompia na via mundial dos proclamas pelas liberdades – as de Martin Luther King, dos Beatles, de Woodstock. Liberdade de corpo e espírito, de movimento e ritmo, de fusão das artes e da vida como já se ensaiava na música de Zé Ketti em Opinião – show que emprestou o título à mostra — em que a voz frágil de Nara Leão cantava: “Podem me bater/ Podem me prender/ Podem até deixar-me sem comer/ Que eu não mudo de opinião.
Opinião 65 tornou conhecidos os artistas Antonio Dias, Vergara, Gerchman e Roberto Magalhães. É com Roberto Magalhães que a Carbono Galeria homenageia o espírito de liberdade de Opinião 65 por meio da mostra Sem pé nem cabeça apresentando a edição de mesmo nome.
A série se apresenta em um imponente estojo/moldura de acrílico e traz em cada exemplar um original, dos anos 60 aos dias de hoje, escolhidos numa seleção rigorosa de importância histórica e qualidade. Muitos dos desenhos foram expostos em 2000 na grande mostra do artista no Instituto Moreira Salles, e outros foram reproduzidos em catálogos. Da moldura saem duas gavetas: a primeira contém um livro com a reprodução de todos os originais em grande formato, e a outra contém um rolo místico com a escrita enigmática de Roberto.
A realização é de UQ!Editions, com design de Lucia Bertazzo. Como escreve Leonel Kaz, editor da UQ!, no livro que compõe a obra: “Roberto Magalhães talvez seja o mais latino de nossos artistas brasileiros, incorporando símbolos, dissolvidos no tempo, de nossa ancestralidade ibérica. Seus desenhos se encontram em tempo-nenhum, apenas fios, traçados, lianas, cipós, um emaranhado de traços e pigmentos de cor que se originam na cabeça do artista. É bem ali, em seu imaginário aparentemente sem sentido e em sua memória afetiva, que habita toda esta coletividade de monstros, seres ou coisas. ”
Roberto Magalhães
Rio de Janeiro, 1940 | Vive e trabalha no Rio de Janeiro
O carioca Roberto Magalhães recebeu o primeiro incentivo para pintar pelo o pai e professores do colégio, que publicavam, no jornal semanal, caricaturas de seus colegas feitas pelo artista. Desenhista, gravador, pintor, frequentou cursos na Escola Nacional de Belas Artes como aluno livre. Em 1962, expôs desenhos na Galeria Macunaíma e em 1964, gravuras na Petite Galerie, de Franco Terranova. Um ano depois, tornou-se um dos principais integrantes do grupo de jovens pintores que fizeram a revolucionária exposição Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que trouxe uma nova linguagem visual para as artes plásticas no Brasil.
No mesmo ano de Opinião 65 recebeu o prêmio de gravura da 4º Bienal de Paris. Em 1966, ganhou o Prêmio de Viagem ao Exterior do Salão Nacional de Arte Moderna e viajou a Paris no ano seguinte, onde expôs, com Antonio Dias, em 1968, na Galeria Debret. Em 1992 o Centro Cultural Banco do Brasil organizou uma retrospectiva de seus 30 anos de carreira e, em 2000, o Instituto Moreira Salles realizou uma mostra significativa de seus desenhos.
Roberto é artista de estilo singular. Impressiona com seus desenhos, pastéis, gouaches, aquarelas ou pinturas que possuem características próprias. Waltércio Caldas foi curador de uma exposição de Roberto na Mul.ti.plo em 2012. O refinamento do traço, a busca obsessiva da cor ideal, a perseverança de sua mão inventora de coisas transforma gente, bichos e cidades em elementos aparentemente fantásticos e, ao mesmo tempo, vibráteis e integrados ao cotidiano.
Entre as exposições individuais mais recentes do artista destacam-se Eu, na Márcia Barroso do Amaral Galeria de Arte e na Arte 21, ambas no Rio de Janeiro, 2007; Otrebor – A outra margem, na Caixa Cultural de Brasília, 2008, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, 2008, e no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, 2009; Roberto Magalhães, na Referências Galeria de Arte em Brasília, 2008, na TNT Galeria no Rio, 2009; na James Lisboa em São Paulo, 2010, e no Art Museum of Beijing Fine Art na China, 2011; Quem sou, de onde vim, para onde vou, no Paço Imperial no Rio, 2012; Viagem Astral, na Marcia Barrozo do Amaral no Rio, 2013.