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agosto 13, 2016
Luiz Paulo Baravelli na Marcelo Guarnieri, Rio de Janeiro
Artista expõe na Galeria Marcelo Guarnieri obras que retomam uma série produzida para a 41ª Bienal de Veneza e totens mostrados no MAM carioca em 1970
No dia 13 de agosto, a Galeria Marcelo Guarnieri abre as portas para uma nova exposição que mostrará duas fases da extensa produção assinada pelo artista paulistano Luiz Paulo Baravelli. Daí o nome Duas das Partes: uma alusão à reunião de mais de uma série – nesse caso quatro esculturas KrazyKats, mostradas no MAM do Rio de Janeiro pela primeira vez há 40 anos, e sete obras do trabalho Caras, série originalmente exposta na Bienal de Veneza em 1984 e retomada por Baravelli no ano passado como sequência de uma cronologia circular – e não-linear – de trabalho.
Em outras palavras, nesta atual exposição,Baravelli retoma o que foi produzido no começo da década de 1980, e também apresenta um pulo de 32 anos: o que ficou para trás e o que só agora faz sentido.
“Assim, esses acessórios para as paisagens do KrazyKat, de 40 anos atrás, têm uma relação não evidente com as grandes obras de Caras. Em uma pintura como a Mona Lisa há uma grande figura em primeiro plano e lá no fundo há uma paisagem. A noção de espaço de um pintor é telescópica ao englobar duas distâncias em um conjunto coerente. Esta ‘telescopagem’ acontece aqui, de modo mais radical ao vermos rostos em extremo close e elementos de uma paisagem sem a paisagem”, explica o artista. “Acessórios de paisagens contrastados com rostos vistos em close colocam uma questão curiosa de chegar perto e ir para longe que é tão importante em meu trabalho.”
E o conceito de profundidade extrapola o espaço, discorrendo no tempo. Baravelli explica: “retomei a experiência de criação das caras 32 anos depois e este hiato faz uma espécie de percurso por uma paisagem temporal. As peças viajaram de uma exposição no MAM do Rio em 1976 até outra em Ipanema no ano de 2016.”
Sobre as novas e antigas caras de Baravelli, elas não possuem corpos, são autônomas e vivem dentro de sua lógica. Sem corpo a cabeça pode escolher a perna que bem entender, o pé que achar mais interessante, a vida que quiser seguir. Essa lógica se estende para a construção das obras - materiais dos mais diversos usos - tinta acrílica, encáustica, crayon, esmalte e goma-laca - utilizados sobre compensado recortado. As curvas dos trabalhos sugerem as imagens que são completadas pela pintura: uma mão que é cabelo e um cabelo que também é mão.
A escala dos trabalhos é algo fundamental, um rosto sem corpo que encara o espectador impondo uma presença intimidadora em a escala maior que a do corpo humano. O trabalhos maiores têm a dimensão de 220 x 160 cm, os menores 120 x 90 cme são complementados por uma série de desenhos que serviram de apoio para a construção dos trabalhos da atual mostra.
As obras, que ficarão expostas até o dia 17 de setembro, oferece aos visitantes uma compreensão maior dos rumos seguidos por um artista que é parte importante da história da arte brasileira. Baravelli é a prova viva da riqueza e atemporalidade da inteligência criativa que move artistas e estudiosos, mantendo-os sempre na ativa.
Luiz Paulo Baravelli, nascido em 1942 na cidade de São Paulo, onde vive e trabalha, estudou arquitetura na FAU-USP, desenho e pintura na Fundação Armando Álvares Penteado e, mais tarde, com o pintor Wesley Duke Lee, o qual exerceu grande influência em sua carreira. Foi um dos fundadores da Escola Brasil ao lado de Fajardo, José Rezende e Frederico Nasser, um espaço onde os artistas ministravam cursos livres de arte, e que movimentou a cena cultural de São Paulo nos anos 70. Foi co-editor da revista Malasartes, entre 1975 e 1976, e da revista Arte em São Paulo, no período de 1981 a 1983. Teve como alunos Leda Catunda, Flavia Ribeiro, entre outros, que foram o responsáveis pela volta da pintura nos anos 80, e que tinham em Baravelli o seu mestre.
O artista sempre explora diversos materiais e técnicas em suas obras as quais frequentemente aparecem em “suportes não-suportes” com formatos irregulares (recortes) e se transfiguram como a própria natureza humana e a natureza das coisas em geral. São imagens-objeto.Aborda um “consciente virtual” que mistura impulsos humanos, espaço, tempo e referências culturais e se torna uma representação que desafia a realidade aparente, uma miseenscène da sociedade contemporânea ao estilo do artista.