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agosto 11, 2016
Thiago Honório no MASP, São Paulo
A instalação reúne, no 1º subsolo do museu, ferramentas de trabalhadores utilizadas durante o restauro de um prédio histórico no centro de São Paulo
O MASP apresenta, a partir de 11.8, a instalação Trabalho, do artista Thiago Honório (Carmo do Paranaíba, MG, 1979), que ocupa o mezanino do 1º subsolo do museu. A instalação integra o acervo do MASP e reúne uma coleção de ferramentas que pertenceram a mestres-de-obras e pedreiros envolvidos no restauro de uma antiga subestação de energia do centro de São Paulo, um edifício da década de 1920, recentemente restaurado. A partir de conversas e negociações com os trabalhadores, durante uma residência artística, Honório propôs a troca das ferramentas, entregando a eles instrumentos novos. Parte delas também foi doada espontaneamente pelos trabalhadores. Algumas, inclusive, foram construídas pelos próprios pedreiros, a partir do conhecimento adquirido em anos de trabalho, por meio de suas vivências. É o caso da “gambiarra”, espécie de luminária usada para verificar a qualidade da pintura nas paredes.
Entre as ferramentas expostas na instalação estão pás, talhadeiras, escadas, picaretas, enxadas, marretas, desempoladeiras, serrotes, rolos, pincéis e espátulas, entre outras. Elas conferem à instalação uma aparência áspera e fria, em contraste com a percepção tradicional de “obras de arte” e de “belas artes”, porém alinhada às próprias características da arquitetura brutalista – com estruturas expostas e sem acabamentos luxuosos – do prédio do MASP.
Segundo Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e o curador Fernando Oliva, que assinam juntos o texto da exposição, a presença do trabalho de Thiago Honório vai ao encontro de preocupações atuais do programa do museu, no que se refere à revisão crítica não só de artistas, mas também de técnicas e modos de produção que foram deixados de lado, eclipsados pelas narrativas hegemônicas da história da arte, frequentemente por não estarem associadas aos modos, gostos, ofícios e estilos das classes dominantes. “Estas questões estão claramente presentes na reencenação de A mão do povo brasileiro — a histórica exposição de Lina Bo Bardi de 1969, que ocupará o primeiro andar do museu a partir de 1.9. No lugar de arte ou artefato, Lina propunha justamente a noção de trabalho para dar conta tanto de uma pintura de Candido Portinari, quanto de uma ferramenta, ambas, afinal, produtos de um trabalho humano, daí a pertinência desse Trabalho neste momento, no museu”, escrevem eles.
Essa é a terceira configuração inédita da mostra. As duas configurações anteriores, em 2013 e 2014, o artista articulou à medida em que negociava as trocas dos instrumentos, bem como recebia doações espontâneas, assim determinando os tipos e a quantidade de ferramentas que formariam cada conjunto. A configuração exibida no MASP inclui aqueles objetos que se aproximam do vocabulário de pintura e de acabamento, relacionados a noções de restauro, reforma ou, ainda, construção civil.
A exposição tem curadoria de Fernando Oliva, da equipe do MASP.
Thiago Honório (1979) concluiu o Bacharelado em Artes Plásticas na UNESP (2000), o Mestrado (2006) e o Doutorado (2011) em Artes Visuais na ECA/USP e desde 2006 é professor da Faculdade de Artes Plásticas da FAAP. Em 2012 apresentou a mostra Voilá, como artista convidado da 44a Anual de Arte da FAAP, no Museu de Arte Brasileira – MAB/FAAP, e Suite de variations, na Cité des Arts, em Paris. No mesmo ano participou do Programa de Residência Artística da Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP em parceria com a Cité des Arts, em Paris, e do Programa Rumos Artes Visuais 2012/2013. Em 2010 foi um dos artistas selecionados para o Goethe-Institut Online Project. Foi vencedor da etapa nacional do Premio Unión Latina a la Creación Joven en Artes Plásticas (2005), semifinalista no Prêmio CNI/SESI Bolsa Marcantonio Vilaça (2004) e recebeu menção especial na 4ª edição da Bolsa Iberê Camargo (2004). Entre as diversas mostras de que tem participado, integra a exposição o Agora, o Antes – uma síntese do acervo do MAC, em cartaz no MAC USP Nova Sede, com a obra Documents, de 2012, incorporada este ano ao acervo do Museu.