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agosto 8, 2016
Horror Vacui Tropical no LabART 760, Porto Alegre
‘Horror Vacui Tropical’ reúne obras de dez artistas com curadoria de Gaudêncio Fidelis
No próximo sábado, 11 de junho, o Laboratório de Experimentações Artísticas – LabART 760, inaugura sua segunda exposição desde sua abertura em abril. Horror Vacui Tropical (experiência 2) tem curadoria de Gaudêncio Fidelis e reúne 23 obras dos artistas Ana Norogrando, Britto Velho, Dudi Maia Rosa, Eduardo Haesbaert, Flávio Morsh, Frantz, Ilsa Monteiro, Oswaldo Maciá, Romanita Disconzi e Wilson Cavalcante.
Horror Vacui Tropical é uma exposição que aborda a manifestação do excesso na ocupação do espaço. O termo horror vacui, que designa “medo do vazio”, é uma característica que aparece na produção artística desde a antiguidade, na montagem de exposições da década de 1930, e no design e na decoração de interiores mais recentemente, encontrando assim correspondência em inúmeros aspectos da vida contemporânea. A mostra trata da ocupação do espaço a partir de uma perspectiva produtiva, recusando a estética minimalista do “cubo branco”, padronização muito comum na museografia encontrada em museus e galerias. “O objetivo é estabelecer uma experiência corpórea do espectador com a obra que não seja mais aquela do distanciamento estético, aproximando o contato com o corpo e a visão”, revela Fidelis.
A exposição retira seus ensinamentos da história pregressa das exposições Dadá e surrealistas da década de 1930, dos Penetráveis de Hélio Oiticica e da visualidade excessiva do espaço público da vida contemporânea, para construir uma relação mais direta com a obra de arte. “Podemos constatar de forma mais evidente o horror vacui no Barroco e seu contraponto no Minimalismo, com diversas nuances entre eles e outras manifestações artísticas”, conta. O Minimalismo projetou-se assim contra o horror vacui, enfrentando o “medo do vazio” e desenvolvendo uma estética voltada para a ausência de informação e a estetização dos objetos no espaço. A política da estética minimalista atingiu não só a obra dos artistas, onde sua manifestação estilística produziu obras surpreendentes, mas igualmente um espaço de exposições exclusionário, através de um arremedo da ausência, com seus projetos museográficos mínimos, destituídos de excesso e excessivamente estetizados. Em diversos momentos a obra de arte e seu conteúdo estético e artístico se confundiu com aquele do espaço, determinado por uma política do vazio e da “limpeza” arquitetônica.
De acordo com o curador, esta opção museográfica revela um desdobramento político desta tendência de desocupação. Trata-se de um processo equivalente de exclusão que se reflete tanto em uma tipologia de obras, expresso através de menos obras no espaço e, portanto, menos artistas representados nestas exposições, alimentando a exclusão dos artistas e suas obras.
Horror Vacui Tropicalista rejeita o vazio como manifestação estetizante dos mecanismos de display em uma exposição mediada por um desejo de ocupação produtiva do espaço. Segundo Fidelis, é uma perspectiva tropicalizada da abordagem do espaço, através do informalismo tropicalista da ocupação, com os ensinamentos de Hélio Oiticica e seus Penetráveis. “A abordagem labiríntica do espaço, advinda dos ensinamentos das favelas de onde a obra de Oiticica se alimentou, proporciona lições para que possamos repensar nossa relação com a obra de arte no espaço de exposições. Ao mesmo tempo a cultura visual do espaço urbano, com seu excessivo volume de informação proporciona inspiração para que trabalhemos sem as limitações estetizantes da exibição museográfica e os preconceitos da visão academicista da realização de exposições visualmente reducionistas”.
A exposição inclui obras de períodos diversos da produção destes artistas, que em sua disposição incitam a aproximação do público, promovendo um novo ponto de vista do expectador com obras fora do espaço institucionalizado, minimalista e asséptico que domina o mercado de arte.
Localizado no Caminho dos Antiquários, na rua Marechal Floriano, o LabART 760 é uma iniciativa independente comprometida em apoiar a produção, a crítica e a investigação interdisciplinar acerca das práticas artísticas contemporâneas. Na equipe, os curadores e historiadores Ana Zavadil e Márcio Tavares, a advogada e gestora cultural Marla Trevisan, e o advogado e artista visual Ricardo Giuliani.Horror Vacui Tropical segue em cartaz até 13 de agosto, com entrada franca. O LabART 760 funciona de segunda a sexta-feira das 14h às 18h, e aos sábados, das 10h às 15h, na Rua Marechal Floriano, 760.
Gaudêncio Fidelis (Brasil, 1965) é curador e historiador de arte, especializado em arte brasileira, moderna e contemporânea e arte das américas. É mestre em arte pela New York University (NYU) e doutor em História da Arte pela State University of New York (SUNY) com a tese The Reception and Legibility of Brazilian Contemporary Art in the United States (1995-2005). Foi fundador e primeiro diretor do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul em 1992. Publicou entre outras obras Dilemas da Matéria: Procedimento, Permanência e Conservação em Arte Contemporânea (MAC-RS, 2002); Uma História Concisa da Bienal do Mercosul (FBAVM, 2005) e O Cheiro como Critério: em Direção a uma Política Olfatória em Curadoria (Chapecó: Argos, 2015). Entre 2004 e 2005 foi curador-adjunto da 5a Bienal do Mercosul. É membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico Brasileiro do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). Foi diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS (2011-2014) e Curador-chefe da 10a Bienal do Mercosul (2014-2015).