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agosto 3, 2016
Regina Parra + Tatiana Blass na Millan, São Paulo
Galeria Millan e Anexo Millan recebem as novas individuais das artistas Tatiana Blass e Regina Parra
A Galeria Millan tem o prazer de apresentar as novas individuais das artistas paulistanas Tatiana Blass (Anexo Millan) e Regina Parra (Galeria Millan), a partir de 21/07, quinta-feira. Vídeos, pinturas, desenhos e uma instalação integram Por Que Tremes, Mulher?, de Regina Parra, enquanto Tatiana Blass apresenta, em A Desprofissão, novas séries de pinturas e videoinstalações, além de vídeos recentes pouco exibidos em sua trajetória.
Em sua primeira exposição individual na Galeria Millan, “Por Que Tremes, Mulher?”, com curadoria de Moacir dos Anjos, a artista Regina Parra reúne nove pinturas, uma série de desenhos, instalações e um vídeo. Os novos trabalhos refletem uma espécie de “arqueologia da violência”. Não a brutalidade que ganha destaque da mídia diariamente, mas aquela que, muitas vezes, está por trás dela: a violência velada nas relações do dia-a-dia. A hostilidade invisível que funciona como uma ferramenta cotidiana para submeter o outro, especialmente quando esse outro está em uma posição mais frágil. E todo tipo de outro – mulher, imigrante, negro, índio – trava uma luta contra sua própria redução a estereótipos: a mulher domesticada, o imigrante servil, a “nega maluca”, o bom selvagem.
Na instalação sonora "Sim, Senhor", por exemplo, todos os personagens repetem a mesma frase (“- Sim, senhor.”) como uma estratégia de sobrevivência. Ou, nas pinturas a óleo, são reduzidos a estátuas decorativas de fazendas escravagistas de São Paulo, eternamente servis e sorridentes. E abaixam a cabeça no conjunto de desenhos vermelhos de Parra. No olhar da artista, a estratégia de sobrevivência pode ser enxergada como um meio de resistência. As esculturas decorativas blackamoor retratadas em seus óleos sobre papel deixam de ser “enfeites exóticos” para revelar a brutalidade de sua origem. As figuras cabisbaixas representadas ali talvez estejam, enfim, levantando suas cabeças.
Nas pinturas da série que dá nome à mostra, "Por Que Tremes, Mulher?", os versos do poema "Tragédia no Lar", de Castro Alves, fazem as vezes de legendas em cenas de florestas primordiais. Nelas, a violência funciona como ponto de intersecção entre natureza e cultura. Essas mesmas paisagens são o habitat do pássaro Lipaugus vociferans, conhecido como Capitão-do-Mato. A alcunha vem de seu canto estridente, que, no passado, servia para denunciar o movimento de escravos em fuga. Essa espécie de “antifábula” ganha novo significado no grupo de pinturas "Aquele Que Grita" e também no vídeo "Capitão-do-Mato", filmado na Amazônia tendo como personagem um exímio imitador de pássaros. E na instalação em neón, a frase "Manter-se Aterrorizada" é, ao mesmo tempo, o avesso e o espelho da sentença "Tornar-se Terrível". Um dilema essencialmente contemporâneo, de um tempo em que a violência contra a mulher está em evidência, da reação feroz às ondas de imigração e do aumento da desigualdade. Um tempo onde o outro ainda é perseguido.
Já a nova individual de Tatiana Blass, intitulada “A desprofissão”, ocupa o Anexo Millan e marca também o lançamento do primeiro livro a abarcar toda a trajetória da artista (“Tatiana Blass”, Editora Automática).
O primeiro bloco reúne cerca de vinte pinturas inéditas, em pequenas dimensões, feitas em guache sobre algodão e sobre papel. A artista se inspirou em cenas de peças de teatro clássicas, nas quais os atores, ou personagens, são absorvidos pelo espaço ao redor, o que faz com que figura e ambiente tornem-se um só corpo pictórico. As cores intensas e opacas próprias da tinta guache, e as formas sem contornos determinados, características da pintura de Tatiana Blass, dão uma ambiguidade interessante às pinturas.
Junto a elas, Tatiana exibe vídeos inéditos da série Desprofissão. São três “vídeo-pinturas” nos quais a artista estabelece uma relação cromática entre os elementos. Eles então são expostos como pinturas, em monitores ambíguos, emoldurados como se fossem quadros. Em todos os vídeos, um profissional realiza sua atividade mas alcançando um resultado oposto ao esperado. O lavador de carros torna-se um “deslavador”, ao lavar o automóvel com água suja de barro; a manicure vira uma “desmanicure”, que pinta toda a mão da cliente exceto suas unhas; e o pichador grafita por cima das pichações já existentes, usando um spray da mesma cor da parede e, assim, “despichando-a”.
A artista exibe também, e pela primeira vez no Brasil, a videoinstalação “Bocejo”, originalmente realizada para um projeto solo na feira ARCOMadrid deste ano. São onze vídeos sincronizados em diferentes equipamentos audiovisuais, produzidos de acordo com seus formatos e características específicas. Cada um deles exibe uma cena com pessoas que bocejam e então desencadeiam bocejos nos demais personagens. Em seguida, as telas “dormem” e ficam escuras, em modo stand-by, para depois “acordarem” e voltarem a exibir os vídeos em looping, criando assim um círculo de bocejos bastante instigante – e possivelmente contaminador para quem os assiste.
Além disso, Tatiana expõe trabalhos anteriores em vídeo pouco exibidos ao longo de sua carreira. São eles “Cisma” (2014), “Encrenca_Trøbbel” (2014), “Electrical Room” (2013) e “Hard Water” (2012). Todos são videoperformances protagonizadas por atores que realizaram a ação especificamente para esses trabalhos.
Já o livro sobre a obra de Tatiana Blass (homônimo), editado pela Automática e com realização da Galeria Millan, tem o seu lançamento oficial no dia 06/08 (sábado), às 11h30, no Anexo Millan, quando haverá também uma conversa com os críticos Moacir dos Anjos e José Augusto Ribeiro sobre o trabalho da artista. O livro, porém, estará à venda já na abertura da individual, em 21/07.