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agosto 2, 2016
Cássio Michalany na Mul.ti.plo, Rio de Janeiro
Artista plástico paulista Cássio Michalany expõe pela primeira vez no Rio suas pinturas-objeto, em que a permutação de cores e relevos permite vários pontos de vista da obra de arte
Em sua primeira individual no Rio, o artista plástico paulista Cássio Michalany mostra, a partir do dia 3 de agosto na Mul.ti.plo Espaço Arte, uma nova vertente de trabalho, na exposição O lugar do outro. São pinturas-objeto – como batizado pelo artista – que trazem, para dentro de caixas de madeira, uma evolução de suas pinturas, ampliando a percepção de profundidade com a tridimensionalidade. São nove pinturas-objetos recentes e algumas inéditas, em que ele reorganiza o espaço da obra de arte, com a distribuição interna de finas peças de madeira pintadas. “O trabalho é todo pensado desta forma: há, digamos, um ‘gabarito inicial’ destes relevos internos, bastante estudado e extremamente construtivo. Entretanto, há até quatro possibilidades de visualização do interior de uma mesma caixa, variando de acordo com a montagem da exposição, que possibilita ‘rodar’ a obra, obtendo uma nova composição”, explica Michalany. A mostra também terá quatro pinturas em madeira de diversas fases de sua carreira – todas, assim como as pinturas-objetos, sem título.
Todas as caixas partem de uma organização espacial bastante criteriosa e singular – a origem é sempre com uma peça alinhada em um dos cantos. A partir daí toda a composição se desenvolve, seguindo coordenadas imaginárias que se complementam. “O enfrentamento direto com a matéria, madeira e tinta dispensa categorias gerais e conceitos anteriores que aprisionam o trabalho. O resultado são pinturas tridimensionais que constroem espaços indeterminados, mas que não possuem nada de aleatório, e que não cessam de se mover e se transformar”, descreve o curador de arte Cauê Alves em um texto sobre as pinturas-objeto de Cássio Michalany.
Exímio colorista, Michalany sempre trabalha com tons mais sóbrios. Azuis, vermelhos e verdes sempre bem escuros, cores terrosas, ocres. “Mas nunca é uma cor simples, fácil. Principalmente porque quero sempre promover a permutação entre elas, uma cor deve interagir com a outra”, diz. No caso das pinturas-objeto, os tons fechados têm ainda outra dinâmica. “Não são cores que saltam aos olhos, são mais profundas. Isso faz com que o observador tenha outro tipo de atenção, os tons mais baixos precisam dessa profundidade”, diz.
A permutação na obra de Cássio Michalany serviu de metáfora para que o historiador da arte Rodrigo Naves comparasse essa interação ao meio social: “Sua pintura procura encontrar cores e relações de cores que correspondam à sociabilidade contemporânea. Há em suas telas a tentativa de reverter a serialização que comanda o dia-a-dia, um mundo impessoal e delimitado”, diz. Para Naves, pode-se considerar sua obra “em âmbito mais amplo, que supõe o reconhecimento do lugar do outro e a consideração de que a posição que ocupamos no mundo só pode ser compreendida se são supostas também as outras posições”. Como suas pinturas-objeto, com seus quatro possíveis pontos de vista e inúmeras interpretações.