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junho 17, 2016
Poética da Resistência na cAsA – Obras Sobre Papel, Belo Horizonte
Coletiva traz obras de 23 artistas ligados à Escola Guignard e questiona o contexto da revogação da Lei 100
Resistir é verbo imperativo na história de vida da Escola Guignard, faculdade de artes da Universidade Estadual de Minas Gerais. É com foco neste traço do seu perfil, marcado nova e recentemente pelos impactos da revogação da "Lei 100", que a cAsA - Obras Sobre Papel abre suas portas para uma exposição coletiva de 23 artistas e professores da escola. Idealizada por Lúcia Palhano e com curadoria de Cláudia Renault, a mostra Poética da Resistência será inaugurada dia 7 de abril, quinta-feira, às 20h.
Com mais de 70 anos de história e tendo formado artistas de reconhecimento nacional e internacional, a Guignard já funcionou no Parque Municipal de Belo Horizonte, nos porões do Palácio das Artes, passou por alagamentos, além da precariedade de estrutura dada pelas Instituições. Durante a década de 60 enfrentou uma grave crise financeira, na qual vários ex-alunos deram aulas voluntariamente. "A Escola era pobre, sem recursos, mas rica em talentos. Vários artistas saíram dali e seguiram mais tarde seu próprio caminho”, conta Maria Helena Andrés, ex-diretora da faculdade.
Para 2016 um novo desafio: lutar pelos docentes que foram desligados de seus cargos, devido à revogação da "Lei 100”, que em 2007 efetivou 98 mil trabalhadores em Minas Gerais. Essa mesma lei foi julgada como inconstitucional, em 2014, pelo Supremo Tribunal Federal. Em dezembro de 2015 o Governo de Minas Gerais desligou milhares de servidores estaduais, como consequência dessa decisão.
”Com a revogação da ‘Lei 100’, corremos um sério risco de perder indivíduos importantes para o campo artístico. E o maior erro da sociedade é acreditar que todos os contemplados por essa lei são profissionais sem concurso. Os professores da Guignard participaram de processos seletivos de 94 até 2001, nos quais foram avaliados por professores, artistas e alunos da própria Escola”, diz Thereza Portes, professora de pintura e chefe do departamento de artes plásticas. A luta é no sentido de validar estes processos de seleção e manter estes artistas dentro da instituição.
"A Guignard sempre foi uma Escola pautada pela liberdade de criação, uma experiência bem sucedida durante 70 anos. Se ela quase fechou suas portas por falta de recursos financeiros, hoje corre o risco de se distanciar da verdadeira proposta”, conclui Maria Helena Andrés.
POÉTICA DA RESISTÊNCIA
A mostra “Poética da Resistência, na cAsA - Obras Sobre Papel, pretende dar voz aos professores da 3ª e 4ª geração da instituição de ensino, frente ao contexto atual de desligamentos. Trata-se de uma forma de manifesto a favor da arte dentro da escola, valorizando a obra e a carreira desses profissionais.
"Assisti a uma reportagem sobre a 'Lei 100' e as demissões na Guignard e pensei que isso daria uma exposição relevante, para mostrar o trabalho deles e contar essa história. E depois, estudando mais a fundo a Guignard, achei ainda mais lamentável o que aconteceu. Liguei para a Cláudia Renault, ela também gostou da ideia, reuniu os artistas e eles toparam. Marcamos um encontro e foi um desabafo completo”, conta Lúcia Palhano.
Serão mais de 40 obras dos 23 artistas afetados pela "Lei 100": Abílio Abdo, Ana Cristina Brandão, Carlos Wolney, Claudia Renault, Daniela Goulart, Eimir Fonseca, Humberto Guimarães, Isaura Pena, Lau Caminha Aguiar, Júnia Penna, Marcos Venuto, Nara Firme, Paula Fortuna, Paulo Henrique Amaral, Paulo Roberto Lisboa, Renato Madureira, Sebastião Miguel, Sérgio Vaz, Solange Pessoa, Sonia Assis, Sonia Labouriau, Thereza Portes, Tibério França.
Com curadoria de Cláudia Renault, que também é professora da Escola, os trabalhos apresentam técnicas como fotografia, colagem, desenho e gravura, respeitando o conceito da cAsA, que trabalha apenas com obras sobre papel. "Do ponto de vista artístico teremos uma coletânea de obras de muita qualidade. A exposição está linda e vai mostrar os trabalhos desses professores e artistas, não só da ótica da resistência, mas da relevância de cada um. A mostra represente o amor que eles têm à arte, ao trabalho e à Escola", diz.
Para Sônia Labouriau, professora da Guignard, a exposição chega para tornar toda a situação mais visível para a comunidade. “Corremos o risco de perder nosso principal patrimônio. Pois uma escola não é feita apenas de mesas, cadeiras e toda a estrutura burocrática. O corpo docente é a espinha dorsal para que ela se constitua. A proposta da cAsA de criar esta mostra com a Escola, que tem uma relação muito forte com a arte sobre papel, tem tudo a ver e nos dá força”, completa.