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junho 13, 2016

MAC de Niterói reabre com três exposições

MAC Niterói reabre, após reforma inédita, mirando seus 20 anos

Reabertura do museu marca o lançamento do programa ‘MAC + 20’, com exposições que ressaltam a importância da Coleção MAC Sattamini e celebra novas perspectivas curatoriais com colaborações nacionais e internacionais

Símbolo da cidade e considerado uma das maravilhas arquitetônicas do mundo, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC Niterói) – será reaberto ao público no dia 16 de junho, quinta-feira, às 18h, depois de passar por um inédito conjunto de obras.

Três exposições reabrem o MAC, formando um único programa curatorial de integração e colaboração em diálogo, que parte da arquitetura circular e a Coleção MAC - Sattamini, com a mostra Ephemera: Diálogos Entre-Vistas, com curadoria de Luiz Guilherme Vergara; passa pelas obras reunidas pela curadora norueguesa convidada, Selene Wendt, para a exposição A Arte de Contar Histórias, e compõe ainda com a instalação Da Escuta da Matéria aos Escombros do Ser, do artista sonoro Marcelo Armani, que reúne, na Praça do MAC (área externa), um conjunto de experiências multissensoriais da produção artística interagindo com o acervo do museu.

Na ocasião, haverá show do consagrado músico Léo Gandelman.

Assim, o MAC se reinventa como um laboratório de interfaces artísticas que se complementa com um dia inteiro de ocupações em todos os seus espaços - dentro e fora do museu. Vale ressaltar, ainda, a instalação do artista Rodrigo Petrela, no Museu Janete Costa de Arte Popular, como parte da exposição a ‘A Arte de Contar Histórias’, com a colaboração curatorial do professor Wallace de Deus, que inaugura também o circuito integrado da Boa Viagem.

“Ephemera: Diálogos Entre-Vistas”e a “A Arte de Contar Histórias”

As duas exposições, concebidas como novas perspectivas de colaborações curatoriais nacionais e internacionais, oferecem ao visitante uma experiência de passeio arquitetônico circular integrando paisagem, obras e instalações atravessadas pela maravilhosa paisagem.

A abordagem curatorial reforça o compromisso do museu em dar atualidade às obras que constituem os tesouros das Coleções MAC e João Sattamini, sob o titulo “Ephemera: Diálogos Entre-Vistas”. São 60 anos de história da arte contemporânea brasileira (pós anos 50) que estão presentes como temas e dilemas sociais, políticos, éticos e estéticos do Brasil e mundo de hoje. No museu redondo, as obras das duas exposições se entrelaçam como um laboratório do tempo e memória do passado, presente e futuro. “A Arte de Contar Histórias”, organizada por Selene Wendt, reúne instalações artísticas inspiradas no legado literário latino-americano e universal. O museu, assim, afirma sua plena vocação de convergência de valores e modos de expressão artística local, nacional, transnacional e universal. Tudo é “efêmero”, tudo é entre-visto pela participação da sociedade, que circula e se mira diante do espelho invertido de si mesmo, dos vários outros de nós e não nós em cada um. Invoca-se, nesta perspectiva, uma visão de museu como laboratório de diferentes expressões artísticas e produções de novos modos de percepção e pertencimento ao mundo contemporâneo.

Em “Ephemera: Diálogos Entre-Vistas”, as obras são representantes expressivos e multissensoriais de diferentes gerações da história da arte contemporânea brasileira presentes nas Coleções MAC e João Sattamini. Entre-vistam-se arte e sociedade no tempo presente como vozes e testemunhas de ressonâncias e ecos dos acontecimentos que representam uma época que não acabou. São 60 anos contidos de Ephemera simultaneamente encapsulados como intuições palpáveis nas obras (esculturas, objetos e pinturas) de Anna Bella Geiger, Ângela Freiberg, Antonio Dias, Antonio Henrique Amaral, Antonio Manuel, Artur Barrio, Cildo Meireles, Cristina Salgado, Eliane Duarte, Flávio-Shiró, Franz Weissman, Iole de Freitas, Ione Saldanha, Jorge Guinle Filho, Katie Van Scherpenberg, Leda Catunda, Luiz Zerbini, Lygia Clark, Nelson Leirner, Roberto Magalhães, Rubens Gerchman, Raymundo Colares, Tunga Victor Arruda, entre outros artistas. Três participações especiais se incluem neste conjunto de obras: Ricardo Basbaum e Daniela Mattos, além do artista visual Daniel Leão com o vídeo com entrevistas do projeto “Amor Pela Arte”- gravadas com artistas da exposição "Fique à Vontade", de 2014.

As mudanças inacabadas, sofrimentos e conquistas da mulher no mundo contemporâneo estão presentes pela ‘A Mona Lu’, de Rubens Gerchman; a misteriosa ‘mulher sem rosto’, de Lygia Clark; o ‘Vestido de Noiva’, de Eliane Duarte; ou o ‘enxoval’, de Katie Van Scherpenberg. Mas, acima de tudo, sendo elas representadas e representantes de sua própria voz e visão de mundo. ‘O Pensador’, de Cildo Meireles, uma pedra sentada que tanto olha para o visitante e faz um contraponto enigmático com as imagens delirantes do Brasil pelas lentes giratórias do Sérgio Bernardes e música de Guilherme Vaz. ‘A velocidade dos ônibus cruzados’, de Raimundo Colares, é também um momento de atravessamentos de tempos simultâneos entre-vistos com a obra de Iole de Freitas. A frieza das dobras metálicas encontra nos ‘Amassadinhos’, de Franz Weissman, um gesto de desencanto entre o projeto construtivo brasileiro e a ditadura militar. Destas dobraduras do tempo, da vida, arte e política, é sempre uma presença e parte da re-existência da arte, a ‘Reconstituição’, de João Câmara, que apresenta uma figura humana com olhar fixo para todos nós passageiros do agora, rodeada de corpos esquartejados. O quanto de atualidade está presente nesta aflição humana também vizinha de época da angustia existencial da pintura ‘Pollockiana’, de Victor Arruda, onde dois indivíduos se confrontam em diferentes lados do mesmo precipício da (in)comunicação e solidão. Da mesma forma, a ‘Ideologia’, de Anna Bella Geiger, lembra de nossa educação incompleta.

De acordo com Luiz Guilherme Vergara, diretor do MAC Niterói e curador da mostra, uma coleção de obras de arte não é um simples coisário, mas sim um relicário de cruzamentos de vidas e ressonâncias de múltiplas vozes e narrativas. “Assim, o sentido público de expor e do museu do contemporâneo não se limita a perpetuar histórias e narrativas fixas do passado, mas a promover a sua atualidade e atualização permanente pela produção e inauguração de modos de entre-vê-las em diálogos com a sociedade. Por isso também trazemos os conceitos da física de “Ephemeras e Momentum” para inaugurar esta abordagem curatorial orgânica e relacional entre a coleção e a inspiradora arquitetura circular do museu como lugar de múltiplas ‘contemporalidades’ da arte, da existência e do universal. A exposição é, antes de mais nada, um acontecimento de encontros com o tempo presente. Acrescenta-se, então, o cuidado da escolha das obras, que terão o papel de guardiães do tempo em diálogos entre-vistas com as exposições temporárias, a co-movente arquitetura redonda de Oscar Niemeyer e principalmente, os visitantes passageiros da nossa época - Ephemera”, explica Vergara.

A mostra “A Arte de Contar Histórias”, exposição acolhida pelo MAC, segue a perspectiva de diálogos vivos entre exposições, arquitetura e sociedade, reunindo artistas brasileiros e estrangeiros inspirados pelas grandes obras literárias latino-americanas e universais. A mostra - que acontece, ao mesmo tempo, no MAC e no Museu Janete Costa - conta com instalações, objetos, vídeos e poesia visual. Cada artista intervém, se apropria e reinterpreta este legado literário, propondo novas formas de reinventá-las como leituras e espelhamentos multissensoriais de cada um no mundo hoje.

Por meio das intervenções artísticas de Dulcinéia Catadora, Fábio Morais, Ernesto Neto, Rosana Ricalde, Elida Tessler, os imaginários literários de Jorge Luis Borges, Mario Vargas Llosa, Virginia Woolf, Carol Lewis e Guimarães Rosa serão reinventados como textos recortados, deslocados e reencarnados na paisagem e arquitetura do MAC e de outros centros culturais da Boa Viagem. Há também a participação de outros artistas como Andre Parente, Cristina Lucas e Magne Furuholmen.

Destaca-se, ainda, na reinauguração do museu, a grande vídeo-instalação “Três Telas, Nós e não Nós”, de Sérgio Bernardes e Guilherme Vaz, no Salão Principal, explorando as múltiplas faces da realidade aberta da cultura brasileira. Neste mesmo ambiente central do MAC, a escultura “Cicleprototemple”, de Ernesto Neto, dará forma a um habitat – coração vermelho com tambores acolhendo os visitantes como participantes das pulsações de um museu vivo.

Já na Praça do MAC, os visitantes encontram a mostra “Da Escuta da Matéria aos Escombros do Ser”, do artista Marcelo Armani. Trata-se de uma instalação sonora site specific, composta por cadeiras escolares com alto falantes, que parte inicialmente do conceito de silêncio proposto nas pesquisas e nas obras do compositor norte americano John Cage. O público interage com a obra, que tem o objetivo de alterar a paisagem e o cotidiano da área externa do MAC, promovendo um diálogo entre os visitantes. Esta instalação foi selecionada especialmente para o MAC através do Edital de Ocupação de Equipamentos Culturais realizado pela Fundação de Arte de Niterói.

Segundo Vergara, no MAC o público é convidado a ser parte do museu de arte contemporânea, circular como um carrossel de múltiplas temporalidades. “O novo no MAC é sempre trazido e atualizado pela renovação de vínculos do museu com a cidade, como lugar de criação pública da experiência compartilhada de pertencimentos e afetos mútuos entre arte e sociedade, exposições e coleção. A renovação da obra arquitetônica de Niemeyer para o MAC deve ser também continuamente reafirmada pelos compromissos estéticos éticos da forma circular que projeta na paisagem uma utopia democrática voltada para a diversidade social e cultural, um lugar de interações ambientais com o exercício e direito à experiência da liberdade artística acessível para todos. Assim, forma e função arquitetônica são restauradas e reinauguradas em seu horizonte ético e estético ampliado - abraçando diferentes linguagens e mídias, engajado nas várias expressões e questões da vida atual: educação, meio ambiente, direitos humanos e justiça social”, completa o diretor do MAC.

Agora, os visitantes vão encontrar um museu mais sustentável e com inovações, que incluem um sistema de ar condicionado eficiente; impermeabilização da cobertura do prédio; limpeza e pintura da fachada e da rampa; troca de carpete dos salões expositivos (indicado pelo IPHAN); reforma dos banheiros; uma nova recepção e loja; nova iluminação em LED para o espelho d’água, prédio e entorno da Praça, com projeto de Peter Gasper; nova sinalização interna, substituição das grades da entrada por vidro, deixando ainda mais bela a fachada do MAC, que poderá ser admirada por pedestres e transeuntes das vias do Mirante da Boa Viagem.

A reabertura do MAC marca também o lançamento do programa ‘MAC + 20’, com exposições que ressaltam a importância e potência histórica da Coleção MAC Sattamini e, simultaneamente, celebram novas perspectivas curatoriais, através de colaborações nacionais e internacionais, tais como com a curadora norueguesa Selene Wendt, e a instalação do artista sonoro Marcelo Armani, selecionado em Edital da FAN, apontando a vocação do museu para acolher em seus diferentes espaços as ocupações experimentais artísticas.

Posted by Patricia Canetti at 12:36 PM