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maio 22, 2016

Erika Verzutti no Pivô, São Paulo

Em abril, o Pivô apresenta a exposição individual Cisne, Pepino, Dinossauro de Erika Verzutti, dentro de seu Programa Anual de Exposições. Trata-se da primeira exposição individual da artista em uma instituição brasileira. Serão exibidos quatro trabalhos, sendo duas obras inéditas concebidas especialmente para o espaço do Pivô.

[Scroll down for English version]

Verzutti exibe um conjunto enxuto de trabalhos, acentuando a aridez do espaço expositivo do Pivô, ao mesmo tempo em que oferece uma síntese de seu pensamento escultórico. Ao observar juntos nesse espaço dois trabalhos mais antigos – Tarsila com Novo (2011) e Nessie (2008) -, e os monumentais Cisne Bambolê e Cisne Passarela, produzidos na ocasião dessa exposição, o visitante entra em contato com importantes momentos dos seus mais de dez anos de produção.

O gesto de puxar verticalmente a argila para cima, testando possíveis pontos de sustentação, é recorrente na obra de Erika Verzutti e resulta em formas que, segundo a artista, referem-se diretamente à pintura Sol Poente (1929) de Tarsila do Amaral. A artista toma emprestada essa forma da pintora modernista com a mesma fluência com que manuseia o material mole, transformando o que Tarsila descrevia como um tronco que via da janela da fazenda* em pescoços de cisnes e dinossauros, pepinos, pés engessados e todo um léxico de associações formais que a acompanham há muitos anos.

O primeiro cisne, Cisne com Pincel (2003), modelado em argila crua pintada, encontra seu ponto de sustentação em um pincel – talvez o próprio pincel com que foi constituído -, num gesto metalinguístico que anunciava há mais de uma década as palavras citadas pelo ator que contracena com a escultura Cisne com Palco (2015), em uma espécie de monólogo tragicômico e autorreferente escrito pela artista e realizado recentemente no Sculpture Center em Nova Iorque.

As obras de Erika Verzutti nunca são assépticas: admitem o erro e associam, sem cerimônia, objetos banais e escalas domésticas a referências canônicas da história da arte, incorporando elementos mágicos e misteriosos. Suas formas guardam rebarbas, respingos, amassados mas essas marcas de manufatura não escondem o rigor conceitual e de execução empregados em cada uma de suas peças.

Nos novos trabalhos que se moldam a partir do espaço do Pivô, os pescoços gigantes dos cisnes encontram e respondem à escala e às curvas improváveis de sua arquitetura. As pesadas chapas de ferro que acompanham os cisnes, modelados em isopor, papel e fibra de vidro, são como uma espécie de versão “adocicada” – ou “caseirinha”, nas palavras da artista -, das viris chapas de metal dobradas industrialmente de Richard Serra ou Amílcar de Castro. A longa passarela sustentada pelo Cisne Passarela e o palco redondo insinuado no Cisne Bambolê aguardam altivos e um tanto melancólicos a presença do público, esperando quem queira ativá-los, como uma espécie de esfinge que se insinua, mas não esconde o seu perigo: decifra-me ou devoro-te.

*(AMARAL, Aracy A. Tarsila: sua obra e seu tempo. 34. ed. São Paulo)

Erika Verzutti nasceu em 1971 em São Paulo. Entre suas principais exposições estão:, “Swan with Stage”, Sculpture Center, Nova Iorque, EUA (2015), 34º Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP, São Paulo (2015), “Mineral”, Tang Museum at Skidmore College, Nova Iorque, EUA (2014), “Under the Same Sun: Art from Latin America Today”, Solomon R. Guggenheim Museum, Nova Iorque, EUA (2014), “Carnegie International”, Carnegie Museum of Art, Pittsburgh, EUA (2013), 9ª Bienal do Mercosul, Fundação Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2013), ), “Home Again”, Hara Museum of Contemporary Art, Tokyo, Japan (2012) e 11º Biennale de Lyon, Lyon, França (2011). Em 2016, a artista participará ainda da 32ª Bienal de São Paulo e do SITE Santa Fé (EUA).


In April 2016 Pivô presents Erika Verzutti’s solo exhibition Swan, Cucumber, Dinosaur as part of its Annual Exhibition Programme. This is the artist’s first solo exhibition in a Brazilian institution. It showcases four artworks, of which two are newly commissioned site-specific pieces.

Verzutti presents a concise collection of works, highlighting Pivô’s arid exhibition space, offering at the same time an overview of her sculpture practice. By looking at the combination, in the same space, of two older works – Tarsila with New (2011) and Nessie (2008) – and the monumental Cisne Bambolê and Cisne Passarela, especially produced for this exhibition, visitors have access to important moments of the artist’s career spanning over a decade.

The particular use of clay, which she extends vertically in order to create possible points of support, is recurrent in Verzutti’s practice, resulting in forms that, according to the artist, refer directly to Tarsila do Amaral’s painting Sol Poente (1929). The artist borrows the modernist painter’s forms with the same fluency that she handles the soft material, transforming what Amaral described as a tree trunk seen from the farmhouse window* into swans and dinosaurs’ necks, cucumbers, feet in plaster and a whole repertoire of formal associations that have been following the artist for years.

Her first swan, Swan with Brush (2003), in painted raw clay, is supported by a paintbrush, perhaps the same paintbrush that created it, in a metalinguistic gesture that announced, over ten years ago, the words cited by the actor performing alongside the sculpture Swan with Stage (2015), in a sort of self-referring tragicomic monologue written by the artist and recently delivered at the Sculpture Center in New York.

Erika Verzutti’s works are never sterile: they acknowledge errors and associate, without ceremony, banal objects and domestic scales to the canons of the History of Art, incorporating magical and mysterious elements. Despite its handcrafted appearance, with rough edges, spots and wrinkles, her sculptures are made in a very rigorous way.

In her new works shaped around Pivô’s space, the gigantic swan necks meet and respond to the scale and unusual curves of the architecture. The heavy steel plates that go with the swans, modelled in polystyrene, paper and fiberglass, are a ‘toned down’ or, in the artist’s own words, ‘homemade’ version of Richard Serra or Brazilian artist Amílcar de Castro’s industrially folded heavy steel plates. The long walkway supported by Cisne Passarela and the round stage suggested by Cisne Bambolê proudly but melancholically yearn for the public, waiting for someone to activate them, as a sphinx seducing visitors without hiding its dangers: decipher me or I will devour you.

*(AMARAL, Aracy A. Tarsila: sua obra e seu tempo. 34. ed. São Paulo)

Erika Verzutti was born in São Paulo, Brazil, in 1971. Main exhibitions include:), “Swan Stage”, Sculpture Center, NY, USA (2015), “G.I.F.T., Der Tank”, Campus der Künste, Basel, Switzerland (2015), 34º Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP, São Paulo, Brazil (2015), “Under the Same Sun: Art from Latin America Today”, Solomon R. Guggenheim Museum, NY, USA (2014), “Carnegie International”, Carnegie Museum of Art, Pittsburgh, USA (2013), 9ª Bienal do Mercosul, Fundação Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brazil (2013), “Home Again”, Hara Museum of Contemporary Art, Tokyo, Japan (2012) and 11º Biennale de Lyon, Lyon, France (2011). Still in 2016 the artist will participate in 32ª Bienal de São Paulo and Site Santa Fe (USA).

Posted by Patricia Canetti at 11:00 PM