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maio 17, 2016
Prêmio CCBB Contemporâneo: Ana Hupe no CCBB, Rio de Janeiro
O Prêmio CCBB Contemporâneo apresenta o nono dos dez projetos contemplados para a temporada 2015-2016: a instalação da carioca Ana Hupe, Leituras para mover o centro, que, com fotografia, vídeo e modos experimentais de leitura, quer destacar uma produção à margem – a literatura feminina negra.
– Pensando na escrita e no livro como transmissores de conhecimento e lugar de elaboração e reflexão que ajudam na prática de exercícios de descolonização, entrevistei mulheres negras que vivem na Alemanha e imigrantes africanas vivendo no Brasil sobre seus livros favoritos. Como eles ajudam na compreensão do lugar da fala dessas mulheres?
Essa mesma pergunta orientoua série de retratos que Ana Hupe fez de 10 mulheres e um homem em Berlim e no Rio de Janeiro. Eles aparecem com as publicações da preferência deles. Cada fotografia é acompanhada de um texto fabular, em que a artista mescla a história verdadeira do entrevistado com trechos de fatos|personagens históricos.
Compõem ainda a instalação dispositivos de leitura de alumínio para uma, duas e três pessoas, em que o livro pode ser lido pelo visitante em pé, deitado ou sentado, sem que ele precise segurá-lo, e duas bibliotecas nômades – estrutura de metal que se veste como uma mochila –, contendo cerca de 50 volumes cada uma, que podem ser usadas pelo público. Nelas, há títulos que serviram de referência para a mostra: literatura afro-brasileira,crítica literária pós-colonial, dicionários de línguas africanas, textos sobre religiosidades negras, entre outros.
Completa a exposição um vídeo da série “Colonizados”, que junta depoimentos das pessoas fotografadas com elementos tirados da natureza, como conchas, besouros, borboleta, penas, corais etc, coletados na África do Sul. Quarenta desses ítens estarão em exibição na instalação, assim como plantas de resistência que vivem na água e não precisam de luz.
Natália Quinderé conclui assim o texto de apresentação de Leituras para mover o centro: “A artista caminha na corda bamba. Em uma ponta, utiliza práticas semelhantes às da política colonial (coleta, análise e invenção de tipos) para ficcionalizar um sujeito que se apresenta a partir de sua mediação. Na outra, fabula as histórias vividas por essas guerreiras que foram à lua e desceram aos confins da terra. Ana Hupe abraça o risco e expõe a força coletiva necessária para mover o centro”.
Rodas de leitura
Durante quatro sábados consecutivos, escritoras participam de rodas de leitura para ativar o espaço da exposição: 21 de maio – Conceição Evaristo [Prêmio Jabuti 2015, com “Olhos d’Água”, contos e crônicas]; 28 de maio – Miriane Peregrino [doutoranda em Ciência da Literatura pela UFRJ, idealizadora e coordenadora do projeto “Roda de leitura Carolina Maria de Jesus”, na Maré desde 2013]; 4 de junho – Julia Wähmann [carioca, 33 anos, autora de um livro de crônicas e dois romances]. [Falta a quarta convidada para 11 de junho].
Ana Hupe [Rio de Janeiro, 1983] vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Berlim. Sua pesquisa passa pelo que é intuído e não comunicado, pela invisibilidade das histórias, cujas palavras não dão conta de seus sentidos e pela procura de territórios utópicos.
Ela é doutoranda em Linguagens Visuais na EBA-UFRJ, tendo concluído recentemente um ano de pesquisa na Universität der Künste, Berlim, sob orientação da artista Hito Steyer, uma das representantes da Alemanha na Bienal de Veneza 2015. Hupe é Mestre em Artes Visuais pela UERJ e formada em jornalismo pela PUC Rio. Deu aulas no curso de graduação em Artes Visuais da UFRJ de 2012 a 2014.
A artista fez exposições individuais no Rio de Janeiro e em Buenos Aires [residência La Ene] e participou de dezenas de coletivas no MAM Rio [Novas Aquisições], Paço Imperial [Prêmio Arte e Patrimônio 2013, do Iphan], CCBB RJ, A Gentil Carioca, SP Arte, entre várias outras, e em Berlim, Lisboa, Singapura e na Cidade do Cabo, África do Sul.
Ana Hupe foi curadoria da mostra Claire Denis, um olhar em deslocamento, na Caixa Cultural, RJ, reunindo toda a obra da cineasta em 35mm.
Prêmio CCBB Contemporâneo 2015-2016
Em 2014, o Banco do Brasil incluiu, pela primeira vez, no edital anual do Centro Cultural Banco do Brasil um prêmio para as artes visuais: o Prêmio CCBB Contemporâneo, patrocinado pela BB Seguridade, que contemplou 10 projetos de exposição, selecionados entre 1.823 inscritos de todo o país, para ocupar a Sala A do CCBB Rio de Janeiro.
A série de dez individuais inéditas do Prêmio começou, em junho de 2015, com o grupo Chelpa Ferro [Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler], seguido das exposições de Fernando Limberger [RS-SP], Vicente de Mello [SP-RJ], Jaime Lauriano [SP], Carla Chaim [SP], Ricardo Villa [SP], Flávia Bertinato [MG] e Alan Borges [MG]. Depois da de Ana Hupe [RJ], a de Floriano Romano [RJ] encerra essa etapa do projeto em agosto de 2016.
O Prêmio é um desdobramento do projeto Sala A Contemporânea, que surgiu de um desejo da instituição em sedimentar a Sala A como um espaço para a arte contemporânea brasileira. Idealizado pelo CCBB, em parceria com o produtor Mauro Saraiva, o Sala A Contemporânea realizou 15 mostras de artistas ascendentes de várias regiões do país entre 2010 e 2013: Mariana Manhães, Matheus Rocha Pitta, Ana Holck, Tatiana Blass, Thiago Rocha Pitta, Marilá Dardot, José Rufino, do coletivo Opavivará, Gisela Motta&Leandro Lima, Fernando Lindote, da dupla Daniel Acosta e Daniel Murgel, Cinthia Marcelle, e a coletiva, sob curadoria de Clarissa Diniz.