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maio 10, 2016
Débora Bolsoni na Jaqueline Martins, São Paulo
Descaracter reúne obras inéditas, entre objetos, desenhos e instalações,desenvolvidos especialmente para a primeira individual da artista na galeria. Simultaneamente a artista apresenta um solo project numa das mais importantes feiras internacionais, a prestigiada Frieze NY, de 5 a 8 de maio.
Pensadas em escala reduzida a partir de pequenas alterações na arquitetura da Galeria Jaqueline Martins, em Pinheiros, duas instalações da artista carioca que vive em São Paulo Débora Bolsoni compõem a individual Descaracter, ao lado de objetos em tamanhos humanos e desenhos com forte apelo tridimensional, com abertura marcada para dia 2 de abril.
No piso térreo, uma dupla de objetos intitulados tubos terão a forma de tubulações hidráulicas, feitas de feltro vermelho e parafina branca, aplicada apenas no exterior deles, de modo que o vermelho do interior e sua textura fiquem ressaltados. “A ideia é que o observador se relacione com a obra de forma um tanto investigativa, procurando entender a sua materialidade”, conta ela. “Esta interioridade também ganha importância a partir do próprio desenho das peças que valoriza a interrupção do circuito que a tubulação faria pelo espaço”, completa.
Neste trabalho, Débora traz a tona o que normalmente fica escondido e só ganha visibilidade quando acontece uma ruptura, por exemplo, nos casos da tubulação da cidade. “Não é algo que a gente se detenha muito, a ideia inicial veio dessas manilhas que a gente vê na paisagem, quando quebra alguma calçada”, explica.
Já os desenhos, feitos com pastel oleoso sobre cartão parafinado, são imagens derivadas de objetos, “estudos” em torno deles, como um exercício de se aproximar das peças por outras vias, mais diretamente ligado ao procedimento com o suporte. “Assim como acontece com os objetos, a materialidade dos desenhos também não se esclarece muito facilmente. A impressão mais forte destes cartões parafinados é que trata-se de uma superfície de cimento queimado, mas o estranhamento quanto à espessura deixa em suspensão a sua natureza real”, diz Débora.
Site Specific
As duas instalações ocupam áreas que originalmente eram “fossos” do prédio. Um entre a fachada e o primeiro piso, e outro entre a construção principal e o escritório anexo. Junto a estes dois ambientes, a presença das estruturas metálicas do edifício ganham um outro sentido, dialogando diretamente com as obras. Na primeira delas, a passarela de tela metálica se transforma numa plataforma de observação para a obra campo de isopor que ocupa uma área de aproximadamente 3m2 do espaço que originalmente era um vão.
Na segunda, o gradil cuja função original era de guarda do ambiente, servindo de fechamento dos fundos da galeria, passa a delimitar um nicho expositivo. Com a retirada do guarda-corpo da janela dos fundos e a colocação de um piso de tela de aço, o público passa a ter acesso àquela área. O que antes era um “fosso” se transforma numa espécie de “gaiola” de cujo teto pende o maior objeto da exposição - uma peça intitulada O enforcado. Com dimensões próximas a de um corpo humano (1.70cm x 30cm x 60cm), o objeto é uma caixa suspensa por uma rede no centro da “saleta”, que pode ser manuseada pelo público, e se repete sob outras materialidades e dimensões em todo o espaço. “Ele serve de fio condutor entre os raciocínios arquitetônicos e conceituais da exposição”, afirma Débora. “Um acontecimento recorrente nesta seleção de obras é que seus materiais e procedimentos estão muito diretamente expostos, não há a intenção de ‘camuflar’ qualquer elemento, e, no entanto, temos a impressão de que são outras coisas”, completa.
Ler texto de apresentação de Ana Maria Maia