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maio 7, 2016
Zed Nesti na Bolsa de Arte, São Paulo
O artista apresenta 21 pinturas a óleo que lançam olhar crítico sobre a identidade nacional e os clichês da cultura de massa, a partir de 15 de março
O artista Zed Nesti abre no dia 15 de março a individual Pra Inglês Ver na Galeria Bolsa de Arte de São Paulo (Mourato Coelho, 790). Composta de 21 pinturas a óleo inéditas, a mostra apresenta imagens que questionam a formação da identidade brasileira e a influência da cultura de massa nesse processo. Eventos históricos e o olhar estrangeiro recebem um olhar crítico, próprio da poética de Zed Nesti. É sua primeira individual na filial paulista da galeria de Porto Alegre.
A expressão que dá nome à mostra do artista carioca radicado em São Paulo vem dos livros de história. Ela foi (e vem sendo) a frase usada no Brasil e em Portugal para se referir especificamente à defesa da Inglaterra à abolição da escravatura – mesmo tendo se valido do comércio de escravos por mais de dois séculos – e o decreto do Governo Regencial de que os escravos desembarcados a partir de 1831 seriam livres, o que não aconteceu de fato. Incorporada à língua, ficou valendo para todos os tipos de leis ou regras que não seriam cumpridas na prática.
Por meio do recorte e tratamento dado às imagens nas pinturas a óleo, Zed Nesti tece um comentário sobre o papel da sociedade de consumo, à mídia de massa contemporânea. Também aponta uma descrença no mito do artista como criador e nos conceitos de propriedade intelectual, material e direitos autorais.
A mostra é formada por imagens aparentemente realistas que, após uma inspeção mais minuciosa, revelam inclusões nas telas como espirros de tinta e marcas de dedos. O artista, além de promover um efeito de trompe l’oeil, deixa entrever a origem impregnada de manipulação, já que muitas foram retiradas de meios como Facebook, Instagram, Pinterest, publicidade, moda, cinema e TV. Meios que trazem filtros que promovem uma saturação rebaixada das cores, o que pode ser visto em muitas das obras presentes na exposição, permeadas por um olhar setentista, década em que o artista era uma criança.
Há visíveis camadas de cores que contam a história dos processos e usos empregados por Zed Nesti, ou mesmo que conferem um caráter datado, como uma evidência histórica falsificada. Outro aspecto criado pelo artista é, por meio do contraste do fundo roxo de algumas imagens com as camadas mais superficiais, verdes, o surgimento de uma sensação de “fora de registro”, que lembra imagens veiculadas pela televisão ou impressas em má qualidade. As pinturas possuem dimensões que variam de 15x15 cm até 3,30m x 1,50 m.
Algumas imagens evocam a questão identitária de forma mais explícita. É o caso da pintura “Boys From Brazil”, realizada em uma tela de formato redondo, como um olho. Zed Nesti parte de um frame do filme homônimo, de 1978, estrelado por Gregory Peck e Laurence Olivier. Na trama, o médico nazista Josef Mengele realizava experiências genéticas nas florestas tropicais da América do Sul. Para o artista, “a imagem do menino de olhos azuis traça um paralelo entre o hábito comum do brasileiro de clarear o cabelo, os olhos e a pele e sua relutância em assumir sua constituição psíquica e cultural de origem índia, negra e ibérica”. A subserviência a um ideal estrangeiro na formação da auto-imagem é um dos temas centrais desta série de trabalhos.
Já em Souvenir, pintura com 2,10 cm de diâmetro, borboletas (símbolos de liberdade, vida e movimento) aparecem capturadas, encapsuladas e comercializadas para um visitante de fora, “numa relação que guarda uma mórbida semelhança com a relação império colônia e mesmo com a obra de arte – uma representação da vida para consumo”, diz o artista. A obra também traz um jogo de referências com as colagens de Damien Hirst. “Assim, reestabeleço a histórica conexão que originou a expressão e cutuco o fato de o Reino Unido ter se apropriado de vasta quantidade de ouro brasileiro na época da colonização”, enfatiza o autor.
Completam o rol de referências visuais à história brasileira dos anos 70, às imagens que habitam a memória afetiva do artista e aos produtos de exportação brasileiros, uma variedade de ícones: de Gisele Bundchen ao general Geisel, dos Secos e Molhados às pedras preciosas.
Zed Nesti possui uma pesquisa profunda de materiais como pigmentos, óleos, ceras, solventes e resinas aliada à produção de tinta e das telas usadas nos trabalhos. Boa parte das cores presentes na exposição são únicas e criadas por ele, resultando em uma rica variação de opacidade, contraste, saturação, luminosidade e tonalidades.
A exposição segue em cartaz até 7 de maio de 2016. No dia da abertura haverá o lançamento do catálogo com entrevista de Ana Finel Honigman, crítica e curadora americana, PhD em história da arte pela Universidade de Oxford.
Zed Nesti nasceu no Rio de Janeiro em uma família de artistas. Cursou a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) em São Paulo. Faz parte do elenco da Galeria Bolsa de Arte desde abril de 2015, quando apresentou uma individual homônima na Galeria de Porto Alegre.
Em “8 Emerging Artists”, na Galerie SHO Projects, em Tóquio (Japão), o artista apresentou sua série de pinturas “Celebs”, com retratos de celebridades como Madonna e Brad Pitt. Pintados a partir de fotografias, traziam como resultado final um forte contraste advindo da fatura rica em matéria pictórica.
Já em 2010 o artista apresentou a série “Book of Faces of Facebook”, uma coleção de retrados de amigos da rede social do artista exibidos na exposição “Mediações”, na galeria Motor, em São Paulo, e na coletiva “Found on Facebook”, na galeria Arthur M Berger, em Nova Iorque.