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maio 6, 2016
Acervo Videobrasil em Contexto #2: Karol Radziszewskie e Vitor Cesar no Galpão VB, São Paulo
O polonês Karol Radziszewskie o brasileiro Vitor Cesar apresentam no Galpão VB trabalhos que tratam do espaço urbano como arquivo aberto e materiais de coleções privadas que contam histórias LGBT no Leste europeu e Brasil
A exposição Acervo Videobrasil em Contexto #2 aprofunda a política de ativações do Acervo da Associação Cultural Videobrasil e apresenta no Galpão VB obras do polonês Karol Radziszewski e do brasileiro Vitor Cesar. Os dois artistas foram convidados para participar da segunda edição do projeto de residência artística da Associação e exibem agora trabalhos que investigam, a partir de princípios distintos, as noções de coleção e arquivo. A abertura acontece no dia 02 de abril (sábado), a partir das 13h, com visitação até 11 de junho de 2016.
O projeto Videobrasil em Contexto #2 é fruto da parceria entre o Videobrasil e o programa curatorial de residências artísticas A-I-R Laboratory– do Centre for Contemporary Art Ujazdowski Castle – como parte do programa de promoção da cultura polonesa no Brasil, organizado por Culture.pl em 2016. Tanto o Videobrasil quanto o Ujazdowski Castle são instituições reconhecidas pelo seu envolvimento com a cena de arte contemporânea e associadas a importantes coleções em seus respectivos países. Elas receberam os artistas para uma visita inicial de duas semanas, permitindo que tomassem contato com as realidades locais e elaborassem uma proposta de trabalho para os três meses seguintes de residência. Durante esse período, os artistas desenvolveram os trabalhos apresentados agora ao público de São Paulo na exposição Acervo Videobrasil em Contexto #2.
Na instalação Anfibologia, tradução, Vitor Cesar, aborda o espaço urbano como um arquivo aberto, lugar de encontros onde a experiência do cotidiano ganha novas e sutis camadas de significado (o termo anfibologia é proveniente do grego amphibolia que, na linguística moderna, significa ambiguidade ou duplicidade de sentido em uma construção sintática, tanto em ato consciente, quanto inconsciente). Criada durante residência no A-I-R Laboratory, a obra reúne frases e breves comentários elaborados a partir de olhares diversos sobre Varsóvia, mesclando a percepção pessoal do artista com reflexões e leituras sobre o espaço urbano feitas por seus interlocutores locais. Transposta para o Galpão VB,a obra ocupa as paredes do espaço expositivo e vai além, buscando outras relações com a arquitetura para estender sua investigação em torno da potência poética da ambiguidade e do caráter plural das palavras.
Karol Radziszewski apresenta o seu Queer Archives Institute (QAI), pesquisa em constante expansão que resgata de coleções privadas material gráfico e imagens relativas à experiência queer nos países do Leste europeu. Com o propósito de expandir seu acervo a outros países do Sul geopolítico, o artista acrescenta ao QAI materiais que permitem reconstituir uma breve história da presença de gays, lésbicas, transgêneros no Brasil. A diversidade de registros e períodos reunidos por Radziszewski busca traçar uma genealogia dessa produção, resgatando-a finalmente dos ambientes do segredo.Como artista em residência no Videobrasil, Radziszewski selecionou do Acervo da Associação três trabalhos que, abordando questões de gênero e sexualidade, estabelecem um diálogo rico com o QAI. Integram a exposição vídeos de Rita Moreira(Temporada de caça, 1988), Rafael França (O profundo silêncio das coisas mortas, 1988) e Virginia de Medeiros (Sergio e Simone, 2010). No dia 16 de abril, as 15h, o artista apresenta um projeto anterior, o filme Kisieland (2012), seguido de uma conversa sobre o Queer Archives Institute, como parte de uma atividade de programas públicos da exposição.
“Postas lado a lado, as obras de Cesar e Radziszewski apresentam duas dimensões complementares do gesto de arquivar e colecionar. Seja operando a partir daquilo que é público ou investigando os subterrâneos de certa produção cultural, os artistas iluminam aquilo que permanece em silêncio e, no entanto, é parte cotidiana da nossa experiência no mundo. Assim, a exposição Acervo Videobrasil em Contexto #2 lança um novo olhar sobre o sentido de colecionar, afirmando ao mesmo tempo sua relevância histórica e sua atualidade”, afirma Solange Farkas, curadora e diretora geral da Associação Cultural Videobrasil.
Além da experiência de deslocamento e intercâmbio e dos trabalhos apresentados na exposição do Galpão VB, o projeto Videobrasil em Contexto #2 contempla ainda o comissionamento de uma obra de cada artista, que passam a integrar os acervos da Associação e da Ujazdowski Castle. Vitor Cesar elaborou a publicação Anfibologia, tradução - observar construções atravessando monumentos, que será lançada durante o período da exposição no Galpão, em data a confirmar. Karol Radziszewski está atualmente em fase de produção de um filme, que tem finalização prevista para o final deste ano.
No mesmo dia e horário de abertura da exposição Acervo Videobrasil em Contexto #2 (02 de abril), acontece no Galpão VB a inauguração da mostrado artista sul-africano Haroon Gunn-Salie, resultado do 1º Prêmio SP-Arte / Videobrasil. Agridoce é um site specific que aborda o desastre das barragens de Mariana, Minas Gerais, reconstruindo a experiência do acidente em escala concreta e afetiva. As obras elaboradas em colaboração com os moradores da região formam uma espécie de monumento ao desastre ambiental, materializando a memória coletiva do evento e resgatando a dimensão humana da história. Esta exposição também permanece em cartaz até 11 de junho. Mais informações www.videobrasil.org.br
Karol Radziszewski é artista multidisciplinar, cineasta e curador, Karol Radziszewski concluiu mestrado pela Academia de Belas Artes em Varsóvia, em 2004. Por meio de uma metodologia baseada em arquivos, cruza múltiplas referências culturais, históricas, religiosas, sociais e de gênero. É editor-chefe da DIK Fagazine, revista que combina a pesquisa em arquivos queer com contribuições da arte contemporânea, e fundador do QueerArchivesInstitute. Seus trabalhos foram expostos em instituições como o Museu Nacional, Museu de Arte Moderna, Galeria Nacional Zacheta, (Varsóvia, Polônia); Kunsthalle Wien (Viena, Áustria); New Museum (Nova York); Cobra Museum (Amsterdã, Países Baixos); Museu de Arte Contemporânea de Wroclaw (Polônia); e MuzeumSztuki (Lodz, Polônia). Exibiu obras em bienais internacionais como PERFORMA 13 (Nova York); 7a Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Gotemburgo (Suécia); 4a Bienal de Praga (República Tcheca) e na 15a WRO Media ArtBiennale (Wroclaw). Vive e trabalha em Varsóvia.
Vitor Cesar é artista visual e designer. Sua prática artística parte de diferentes noções de público e aspectos da vida cotidiana. Desenvolve projetos gráficos em colaboração com artistas e instituições culturais. Estudou Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Ceará (2003) e realizou mestrado em Artes Visuais na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (2009), com pesquisa sobre noções de espaço público em práticas artísticas. Em Fortaleza, integrou o grupo de estudos em artes do Alpendre, fez parte do grupo Transição Listrada(1999-2004), que realizou ações e performances na cidade, e constituiu a BASE– lugar de encontros, debates e exposições. Co-organizou com Graziela Kunsch o projeto Arte e esfera pública (2008). Trabalha desde 2005 no projeto Basemóvel. Realizou as exposições Descrito como real, em colaboração com Enrico Rocha, Centro Cultural São Paulo (2015); Anfibologia, reciprocidade, Museo Experimental El Eco, Cidade do México (2013); e participou das coletivas Mano Fato Mano,Centro Cultural São Paulo (2014); 33º Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo (2013); 8ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2011). Integra O Grupo Inteiro, juntamente com Carol Tonetti, Claudio Bueno e Ligia Nobre. Vive e trabalha em São Paulo.