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maio 2, 2016
Gisela Motta & Leandro Lima na Vermelho, São Paulo
Em março de 2011 e abril de 2012, Gisela Motta e Leandro Lima acompanharam dois encontros de xamãs na aldeia Watoriki, no Amazonas, a fim de colaborar em um registro audiovisual dos encontros. O resultado desse testemunho é um média-metragem de direção compartilhada entre a dupla com o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, a pesquisadora de cinema Stella Senra e o etnólogo-escritor Bruce Albert.
Xapiri é, no entanto, um filme experimental que não se formula ao redor do ideal da objetividade impessoal. É, segundo Bruce Albert, “uma tentativa de tornar sensível, através de imagens digitais, certas ideias yanomami sobre as imagens xamânicas, sua ontologia e sua estética, sua transdução e mutabilidade nos corpos. Trata-se, antes de tudo, de uma homenagem visual à riqueza intelectual e poética do xamanismo yanomami”.
O filme acompanha sensorialmente os trabalhos dos xapiri (Xamãs ou pessoas-espírito), desde seu encontro em Watoriki, até a evolução dos rituais Utupë, aonde os xamãs atraem entes que os ajudam a conduzir curas-batalhas contra o mal que atinge a ordem cosmoecológica aparente do mundo. A câmera e edição do filme acompanham simbolicamente as diferentes etapas do ritual com aproximações, sobreposições e deformações da imagem que geram uma imersão profunda do espectador na cerimônia. Mais uma vez com Bruce Albert: “o trabalho realizado sobre estas imagens escapa do registro documentário a fim de produzir uma simulação técnologica livre a partir do universo visual e conceitual do xamanismo yanomami”.
Xapiri se situa em um recorte da pesquisa de Gisela Motta e Leandro Lima iniciado em 2005 a partir de uma colaboração feita com Claudia Andujar para a instalação Yano-a. Na videoinstalação, uma fotografia em preto e branco é projetada para ganhar movimento em cores. A partir de uma sequência de fotogramas dos anos 70 que registra uma oca pegando fogo, Andujar e Motta e Lima sobrepõe à imagem estática da oca um fogo vivo, colorido, em ação.
Mais tarde, em 2008, Motta e Lima realizaram Amoahiki, que pode ser vista até 22 de maio no Itaú Cultural, em São Paulo, e até 26 de junho no SESC Santo Amaro, também em São Paulo. Com imagens, captadas em 2008, na mesma Watoriki, a instalação de Motta e Lima revela um ponto de fuga idílico entre as “Amoahiki”, as árvores de onde os índios Yanomami ouvem o espírito do conhecimento, denominados pela tribo de “Xapiri pë”.
Finalmente, em Xabori, de 2011, uma série de painéis lenticulares revela imagens do instante de transformação do corpo nos rituais de xamanismo yanomami. Cada painel é formado por 12 imagens que, vistas simultaneamente, se relacionam a trama usada para construir, mais tarde, parte das imagens de Xapiri. Três peças da série Xabori podem ser vistas agora em diálogo com a exibição de Xapiri.
Em comum, as obras que pertencem a esse recorte da pesquisa de Gisela Motta e Leandro Lima buscam de modo imersivo aproximar o espectador de questões relativas aos povos indígenas brasileiros, jogando luz sobre sua cultura e seu valor. Embora trabalhem em uma chave diferente da que Claudia Andujar atua nesse tema, a dupla vê a importância da artista na possibilidade de sua aproximação com essa cultura, criando assim, o campo ideal para o diálogo entre a produção de Motta e Lima e de Andujar nessas duas exposições que acontecem simultaneamente na Galeria Vermelho.