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abril 4, 2016
Baravelli na Marcelo Guarnieri, São Paulo
A Galeria Marcelo Guarnieri (São Paulo) apresenta a exposição individual Os Sentidos do artista Luiz Paulo Baravelli. Após exibir em 2015 uma série de exposições retrospectivas - Objeto versus espaço, abstração versus empatia no Instituto Figueiredo Ferraz e outras duas individuais nas unidades da galeria de São Paulo e Ribeirão Preto, o artista retorna ao espaço de São Paulo e apresenta uma terceira exposição com trabalhos produzidos nos últimos seis meses. Com esse método, a galeria cria um arco histórico que acompanha a produção do artista por um período mais estendido, tentando entender cada época e contexto. O que ficou perdido e que pode ser encontrado, o que não foi executado e pode ser encenado, o que foi descartado e que pode ser resgatado.
Na atual exposição, Baravelli não retoma o que foi produzido no começo da década de 1980 - já que a produção é um parente distante e mais novo das obras produzidas para a Bienal de Veneza de 1984 e para a individual no mesmo ano da Galeria São Paulo. O que se apresenta é um pulo de 31 anos, o que ficou para trás e o que só agora faz sentido.
As caras de Baravelli não possuem corpos, são autônomas e vivem dentro de sua lógica. Sem corpo a cabeça pode escolher a perna que bem entender, o pé que achar mais interessante, a vida que quiser seguir. Essa lógica se estende a construção das obras - materiais dos mais diversos usos - tinta acrílica, encáustica, crayon, esmalte e goma-laca. Os materiais são utilizados sobre compensado recortado, as curvas dos trabalhos sugerem as imagens que são completadas pela pintura - uma mão que é cabelo e um cabelo que também é mão.
A escala dos trabalhos é algo fundamental, um rosto sem corpo que encara o espectador impondo uma presença intimidadora - a escala é maior que o corpo humano. Tem algo aí que não segue uma lógica linear. São apresentados 8 trabalhos na dimensão de 220 x 160 cm e uma série de desenhos-estudos que serviram de apoio para a construção dos trabalhos da atual mostra.
Perguntamos a Baravelli se ele gostaria de fazer o texto de sua própria exposição - já que por muitos anos o artista escreveu de forma disciplinar - ele enviou o seguinte texto:
“Perguntei certa vez a um estudante de Filosofia: ‘Como eles tratam da questão da arte na sua faculdade?’
A resposta:
'Não tratam – na filosofia não há lugar para o sensível.’
Não sei se ele estava certo, mas na hora e desde então, fiquei com uma sensação boa de estar todos os dias funcionando além de um limite.”
Depois disso perguntamos se ele podia nos explicar melhor o contexto e o que queria de fato dizer com esse excerto, ele nos respondeu utilizando-se de uma charada.
Sabemos que o universo de Baravelli é um lugar habitado por muitos outros seres e referências: recortes de jornais, História da Arte, humor, trabalho constante, uniforme, madrugadas etc etc etc. Tudo forma uma grande cena, um mundo vivido à parte e construído pelo próprio artista. As obras atuais funcionam como um resumo desses personagens: uma mulher recém-casada, um Armênio, um rapaz azul, uma jovem senhora, um estrangeiro, um turista, um padeiro e um ser rosado de difícil identificação.
Luiz Paulo Baravelli, nascido em 1942 na cidade de São Paulo, onde vive e trabalha, estudou arquitetura na FAU-USP, desenho e pintura na Fundação Armando Álvares Penteado e mais tarde, com o pintor Wesley Duke Lee, o qual exerceu grande influência em sua carreira.
Sempre explora diversos materiais e técnicas em suas obras as quais frequentemente aparecem em “suportes não-suportes” com formatos irregulares (recortes) e se transfiguram como a própria natureza humana e a natureza das coisas em geral. São imagens-objeto.
Aborda um “consciente virtual” que mistura impulsos humanos, espaço, tempo e referências culturais e se torna uma representação que desafia a realidade aparente, uma mise en scène da sociedade contemporânea ao estilo do artista.