|
fevereiro 25, 2016
Marcelo Amorim na Zipper, São Paulo
A repetição de imagens padronizadas que passam a fazer parte de um certo imaginário coletivo e fórmulas de comportamentos impostas por instituições são alguns dos temas tratados por Marcelo Amorim em sua nova individual na Zipper Galeria. Em Maquinal, o artista goiano se debruçou sobre uma coleção da centenária revista norte-americana Popular Mechanics, importante por difundir a idéia de “Faça você mesmo”, para falar sobre um ideal de masculinidade associado a atividades braçais, seja na guerra, na reparação de máquinas ou em esportes de aventura.
Com curadoria de Priscila Arantes, a mostra contempla um conjunto de cerca de sete pinturas a óleo; uma seleção de fotografias antigas que mostram os rituais masculinos no cotidiano de soldados enquanto serviam o exército; e um vídeo composto por antigos filmes caseiros em Super 8, no qual homens exibem orgulhosamente suas conquistas como casas, carros e caças. Em comum, os trabalhos têm como ponto de partida a seleção e apropriação de imagens encontradas em sebos e na internet.
“Marcelo Amorim é um artista-colecionador; um artista-arquivista que, ao se apropriar de imagens de sebo e da internet, desvela o poder manipulador das imagens publicitárias. Em ‘Maquinal’, ele não somente explora a relação fetichista dos homens com as máquinas, mas revela, de maneira sutil, o poder manipulador das imagens técnicas - para utilizar uma expressão de Vilém Flusser- na construção dos valores e estereótipos sociais”, afirma a curadora Priscila Arantes.
Na série de pinturas “Maquinal”, que dá nome à exposição, a relação fetichizada que se estabelece entre homens e máquinas aparece como pano de fundo das situações retratadas, muitas delas inspiradas nas capas da publicação. A máquina pensada como uma prótese, “uma extensão do corpo capaz de multiplicar a força do homem e reforçar um certo delírio de poder”, nas palavras do artista, é outra ideia explorada por ele neste novo trabalho.
Ao contrário de suas pinturas anteriores, em que os tons monocromáticos predominavam, desta vez a paleta de cores mais vibrante também se aproxima das ilustrações ultracoloridas da revista.
Além de criticar o mecanismo vicioso da indústria cultural na divulgação de valores, o trabalho aponta para as relações ambíguas que mantemos com imagens ao mesmo tempo abusivas e sedutoras: “É uma espécie de síndrome de Estocolmo, onde o sequestrado se apaixona pelo sequestrador” diz o artista.