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fevereiro 25, 2016
Elaine Pessoa na Zipper, São Paulo
Entretempo, sobreposições e intervalos são algumas das chaves para compreender o trabalho apresentado pela artista Elaine Pessoa em sua primeira individual na Zipper Galeria. Com curadoria da pesquisadora e antropóloga Georgia Quintas, a mostra Tempo Arenoso reúne dez fotografias analógicas feitas na região do rio da Prata, em Montevidéu, onde a artista desenvolveu uma pesquisa entre 2013 e 2014. A série de fotografias integra o fotolivro publicado pela Olhavê, que leva o mesmo título, e foi ganhador do Prêmio Miolo(s) no ano passado, na categoria publicação de fotografia, e indicado como um dos melhores do ano na edição 2015 do PhotoEspaña.
Utilizando uma técnica de sobreposição de imagens feitas em um curto intervalo de tempo, Elaine parte deste recurso para refletir sobre um conceito de temporalidade que rompe com a medida linear. Inspirada por uma certa imobilidade melancólica deste rio, a artista também discute como essa temporalidade se relaciona com a fotografia.
“É um ensaio fotográfico que busca traduzir uma concepção do tempo anacrônico. Por meio de uma narrativa fotográfica inspirada em Henri Bergson e Mario Benedetti, “Tempo Arenoso” conta como as pessoas se relacionam com o rio da Prata, um rio que quase não corre, que parece mar e que talvez quisesse ser um lago. Um rio que deixa de ser rio pelo acúmulo de vivências daqueles que nele desaguam”, resume a artista.
A areia, sugerida pelo título da exposição, se mostra também quase fisicamente presente em sua série. O grão não é apenas uma representação, mas aparece como um elemento interior à fotografia, uma textura do que se vê.
A individual revela, ainda, um interesse de Elaine pelas particularidades dos detalhes, seja uma rede rasgada, uma estátua feita de concha e um fio de arame que surge no céu. Da mesma forma como as sobreposições, esses recortes criam, segundo ela, um outro olhar para o espaço, este que pode e deve ser ressignificado.