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janeiro 27, 2016
Tertúlia na Fortes Vilaça, São Paulo
Com trabalhos de Adriana Varejão, Agnieszka Kurant, Alejandra Icaza, Beatriz Milhazes, Erika Verzutti, Jac Leirner, Janaina Tschäpe, Leda Catunda, Lucia Laguna, Marina Rheingantz, Marine Hugonnier, Rivane Neuenschwander, Rosângela Rennó, Sara Ramo, Sarah Morris, Tamar Guimarães e Valeska Soares
A Galeria Fortes Vilaça tem o prazer de apresentar Tertúlia, exposição que reúne trabalhos das mulheres artistas que integram e/ou integraram a trajetória da galeria ao longo de seus 15 anos de atuação. Obras recentes e históricas mesclam-se com documentos de arquivo – entre reportagens, fotos e postais –, a partir de uma seleção afetiva do inventário da Galeria.
Tertúlia, cujo significado é reunião de amigos ou familiares, promove o encontro entre essas diversas mulheres e destaca a pluralidade de seus diferentes suportes, discursos e contextos. Exemplos dessa diversidade criativa estão, por exemplo, no diálogo entre a pintura inédita Seaford (2016) de Marina Rheingantz com a enigmática Tropical II (2012) de Rosângela Rennó. Apesar de ambos os trabalhos lidarem com a paisagem, cada um manipula a seu modo a experiência do real, oferecendo ao espectador apenas sugestões ou vestígios.
Em Big Polvo Color Wheel I (2015), Adriana Varejão emprega suas tintas Polvo (desenvolvidas a partir de tons de pele) para construir uma pintura circular, similar a um diagrama cromático. Dessa maneira, a artista transforma um método científico – o círculo de cores é comumente usado para esquematizar a forma como vemos a cor-luz – em um instrumento para ver a cor da pele (ou raça), atribuindo às matizes um viés político-social. Erika Verzutti também apropria-se de uma roda cromática na sua escultura de bronze Goethe (2016). Aqui, porém, o círculo converte-se em uma íris ocular, em alusão bem-humorada à teoria da cor formulada pelo pensador alemão.
Artistas estrangeiras também são apresentadas, refletindo o diálogo profícuo que a Galeria Fortes Vilaça mantém com o circuito internacional. Em A.A.I. 10 (2015), a polonesa Agnieszka Kurant “terceiriza” a produção artística a cupins de laboratório. Trabalhando com entomologistas, a artista fornece aos insetos materiais diversos como ouro e cristais para a construção de seus cupinzeiros, resultando em formas híbridas. A francesa Marine Hugonnier, por sua vez, apresenta com Anima (2014) uma série de esculturas abstratas. O título faz referência às palavras: alma ou espírito ou psyche (tradução grega). Estas obras estão posicionadas em bases espelhadas nas quais o reflexo agrupa o espectador, seu entorno e a escultura em si para criar um único corpo.
Concebida pela própria equipe da Fortes Vilaça, Tertúlia celebra o protagonismo exercido pelas mulheres na arte do Brasil em um momento em que se discute cada vez mais sobre a representatividade feminina na cultura. Trata-se de uma posição historicamente consolidada por nomes como Tarsila do Amaral e Lygia Clark (para citar apenas duas) e que reverbera até os dias de hoje, nacional e internacionalmente. A história das mulheres da Galeria Fortes Vilaça relaciona-se, portanto, com essa tradição singular e ao mesmo tempo contribui para manter seu importante legado na arte contemporânea.