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janeiro 21, 2016

AquiAfrica no Sesc Belenzinho, São Paulo

Sesc Belenzinho abre na próxima 2ª feira, aniversário de São Paulo, apresentando a exposição “AquiAfrica”, que revela a África contemporânea através de 13 artistas de diferentes gerações, originários de onze países da África negra

O Sesc Belenzinho abre excepcionalmente na próxima 2ª feira, 25 de janeiro, para o aniversário de 462 anos da cidade de São Paulo. Entre as atrações da unidade neste feriado, está a exposição AquiAfrica, que tem entrada gratuita e poderá ser visitada das 11h às 19h, no Galpão, Área de exposições e Átrio da Torre.

Com curadoria de Adelina von Fürstenberg e projeto da ART for the World, a mostra apresenta a África através dos olhos de 13 artistas contemporâneos, de diferentes gerações, originários de onze países da África subsaariana – ou África negra. São eles: Abderrahmane Sissako, Barthélémy Toguo, Chéri Samba, Edson Chagas, Frédéric Bruly Bouabré, Idrissa Ouedraogo, J.D.’Okhai Ojeikere, Kudzanai Chiurai, Leonce Raphael Agbodjelou, Omar Ba, Rigobert Nimi, Romuald Hazoumè e Samuel Kané Kwei.

Na seleção de obras, estão pinturas, fotografias, desenhos, esculturas, vídeos e instalações, que abordam questões-chaves para o povo africano, como os problemas de imigração, a xenofobia, o consumo desenfreado, as tradições culturais e os sistemas de poder vigentes em seu continente.

Entre os artistas participantes, dois vieram ao Brasil para produzir duas grandes instalações para “AquiAfrica”. O camaronense Barthélémy Toguo, que elabora instalações por meio de um processo de acumulação, com temas inspirados em suas viagens e na divisão entre ocidente e não ocidente, expõe “Estrada para o exílio”, que será montada em cima do vidro que cobre uma das piscinas da unidade. Um barco de aproximadamente 8 metros de comprimento flutua sobre um mar de garrafas PET (foram utilizadas cerca de 1000 unidades), equilibrando uma torre de sacolas plásticas e trouxas de roupas, numa alusão aos barcos de imigrantes que se arriscam no mar em busca de refúgio em outros países.

Já o senegalês Omar Ba, que em suas pinturas revela um mundo colorido, fantástico e às vezes caótico, construindo uma narrativa crítica em torno da política africana, apresentará “O Muro”. Com cerca de 600 caixas de papelão, pintadas de preto, ele criou um muro – 3 metros de altura e 18 metros de extensão –, no qual retratou diferentes figuras.

Na seleção também estão 230 desenhos – de duas séries – de Frédéric Bruly Bouabré, da Costa do Marfim, considerado um dos mais originais artistas africanos após ter sido descoberto na exposição “Les Magiciens de la Terre”, no Centre Georges Pompidou, em Paris, em 1989, a mesma que revelou o pintor conguês Chéri Samba, que também integra a mostra com três pinturas provocativas de grande dimensão .

O cineasta Abderrahmane Sissako, da Mauritânia, com dois filmes já exibidos no Festival de Cannes (“Esperando a Felicidade” e “Timbuktu”) é outro destaque de “AquiÁfrica”, que exibe seu curta “Dignidade” (N’Dimagou, 2008 – 3’15’’), um segmento do longa “Histórias de Direitos Humanos”, produzido para o 60° aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

“A arte contemporânea africana suscita uma questão de identidade. Se a arte tradicional continua fortemente ancorada no mundo e no ser africano, a nova arte se desenvolve favorecendo uma identidade social compartilhada. Os artistas africanos buscam inspiração tanto nas tradições do continente quanto na realidade urbana de uma África em mutação. Definir a arte africana hoje é definir a própria África”, diz a curadora suíça, que recebeu em maio de 2015, o Leão de Ouro pela curadoria do Pavilhão Nacional da Armênia na 56ª Bienal de Veneza.

Relação completa dos artistas e das obras

● Abderrahmane Sissako (filme)
Nasceu em 1961, na Mauritânia. É diretor de cinema e produtor, vive e trabalha na França e é um dos poucos cineastas da África Subsaariana a conquistar influência internacional. Em 2014, seu filme “Timbuktu” foi selecionado para concorrer a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Participou mais duas vezes do Festival de Cannes, em 2002, com o filme “Heremakono” (Esperando a Felicidade), e em 2007 com o “Bamako”.
Filme: “N’Dimagou” (Dignité), 2008, Curta-metragem, cor, som 3’15”
Segmento do longa-metragem “Stories on Human Rights” - Produzido por ART for The World, Genebra e SESC, São Paulo

● Barthélémy Toguo (instalação)
Nascido em 1967, em Camarões, vive e trabalha em Paris. Trabalha com escultura, pintura, vídeo, fotografia e performance, utilizando como referência em seu trabalho a divisão entre o Ocidente e o Não-Ocidente, e a crise imigratória. Em 2012, participou da Trienal de Paris e da Bienal de Havana.
Instalação: “Estrada para o exílio”, 2015. Será produzida no Sesc Belenzinho, com madeira, tecido, garrafas pet e sacolas plásticas.

● Chéri Samba (pintura)
Um dos artistas africanos contemporâneos mais famosos, Chéri nasceu em 1956, no Congo. Hoje, vive e trabalha na França e no Congo. Sua obra está presente nas coleções do Centre Georges Pompidou, em Paris, e do Museu de Arte Moderna de Nova York. Em 2007, participou da Bienal de Veneza. Suas pinturas quase sempre incluem um texto em francês e lingala (idioma falado no noroeste do Congo), comentando sobre a vida na África e no mundo moderno.
Pinturas: “O segredo do peixinho que cresceu”, 2002 (acrílico e glitter sobre tela), “O comum dos políticos”, 2003 (acrílico e glitter sobre tela), e “O mundo que vomita”, 2004 (acrílico sobre tela).

● Edson Chagas (fotografia)
Nasceu em Angola, em 1977, onde vive e trabalha. O artista usa a fotografia como um processo que investiga a vida cotidiana e também utiliza as imagens para fazer uma crítica ao consumismo. Em 2003, o pavilhão de Angola foi premiado na Bienal de Veneza com o Leão de Ouro de melhor participação nacional e Chagas foi o principal artista com a instalação de fotos “Luanda, Cidade Enciclopédia”.
Fotos: “Oikonomos”, 2011, série de fotografias, impressão cromogenica sobre papel fotográfico.

● Frédéric Bruly Bouabré (desenho)
Frédéric Bruly Bouabré (Costa do Marfim, 1919-2014) foi um dos artistas mais originais e inovadores da África. Descoberto na exposição Les Magiciens de la Terre, no Centre Georges Pompidou de Paris, em 1989, ficou conhecido no mundo todo. Seu trabalho tem sido exibido em diversas instituições internacionais. Participou da Bienal de Veneza de 2013 e da exposição Post-Picasso: Reacciones Contemporaneas, no Museu Picasso em Barcelona.
Desenho: 30 desenhos da série “Rio-Brésil/Africa”, 2010 (grafite e lápis colorido) e 200 desenhos da série “A Liberdade de Rir se Impõe a Todo Cidadão Brasileiro para Conduzir Seu Povo Rumo ao Bem-Estar”, 2012 (grafite, caneta esferográfica e lápis de cor sobre papelão).

● Idrissa Ouedraogo (filme)
Nasceu em 1954, em Burkina Faso, onde vive e trabalha. Graduou-se no Instituto de Estudos Cinematográficos Avançados (IDEHEC) de Paris, em 1985. Seu primeiro longa, “The Choice”, foi lançado em 1986. Ganhou o prêmio da crítica no Festival de Cannes de 1989, com o filme “Yaaba”. Em 1990, “Tilai” foi o vencedor do prêmio do grande júri de Cannes.
Filme: “A longa caminhada do camaleão, 2010, Curta-metragem, cor, som 6'30'
Segmento do longa-metragem THEN AND NOW Beyond Borders and differences
Produzido por ART for The World,Genebra e SESC, São Paulo.

● J.D.’Okhai Ojeikere (fotografia)
Nascido em 1930, na Nigéria, onde morreu em 2014. Suas fotos são dedicadas à cultura nigeriana. A série mais notável é a dos penteados esculturais e cotidianos das nigerianas, composta por cerca de 100 fotos. Seu trabalho está presente em várias instituições, como a Tate de Londres, a Fondation Cartier de Paris e o Guggenheim de Bilbao.
Fotos: 6 fotos da série “Penteados”, de 1974 a 2008.

● Kudzanai Chiurai (fotografia)
Nascido em 1981, no Zimbabwe, vive e trabalha na África do Sul. Sua obra circula pela street art, cultura jovem e grafite. Explora temas como exílio, xenofobia, refugiados e as máscaras performáticas dos líderes africanos. As fotos da exposição são da série “O Parlamento”, retratando personagens fictícios de um gabinete de governo imaginário. É uma paródia das representações midiáticas de masculinidade e poder político.
Fotos: 5 fotos da série “O Parlamento”, 2009.

● Leonce Raphael Agbodjelou (fotografia)
Nascido em 1965 em Benin, onde vive e trabalha na capital Porto Novo. Suas fotografias mostram a vida das ruas, seus amigos, familiares e clientes e as combinações incríveis dos tecidos, que criam gradações entre o fundo, o primeiro plano, a pessoa e suas roupas.
Fotos: 3 fotos da série “Vodou”, 2011.

● Omar Ba (pintura)
Nascido no Senegal, em 1977, vive e trabalha na Suíça. As pinturas do artista representam o mundo de maneira fantástica e até caótica, virando do avesso a percepção da realidade. Com imagens muito pessoais, funde metáforas intimas e símbolos ancestrais, refletindo sua crença que toda forma de vida humana, animal e vegetal, possui alma. O simbolismo do pintor constrói uma narrativa em torno de temas políticos, que criticam os sistemas de poder encontrados na África.
Pintura: 3 obras: “Conquistador”, 2013, tinta a óleo, guache, lápis sobre papel fotográfico e fotografia de Marc Asekhame; “O Muro”, instalação 2015, escultura, foto; e “Afrique Now”, 2015, óleo, acrílico e crayon sobre papel.

● Rigobert Nimi (escultura)
Nascido na República Democrática do Congo, em 1965, onde vive e trabalha. Sua obra é feita com materiais reciclados como detritos industriais, plásticos, chapas de metal, alumínio e componentes elétricos que encontra no caos de Kinshasa, onde reside. Desde 2000, ele produz uma série de complexas naves espaciais e robôs, inspirados em desenhos animados e filmes de ficção científica. A concepção, o método e a precisão técnica são a marca da execução dessas obras monumentais que levam mais de 15 meses para serem executadas.
Escultura: “Vênus”, 2001, ferro, aço, alumínio, cobre, plástico e componentes elétricos.

● Romuald Hazoumè (escultura)
Nascido em 1962, em Porto Novo, Benin, onde mora e trabalha, criando obras lúdicas e politizadas. Produz esculturas, pinturas e fotografias, mas é mais conhecido por suas máscaras, série feita com galões de plástico descartados e outros materiais. Estes galões são usados com frequência em Benin para transportar arroz até a fronteira com a Nigéria. Seu trabalho tem sido exibido em museus como o Georges Pompidou em Paris, o Victoria & Albert em Londres e o Guggenheim de Bilbao.
Esculturas: 26 esculturas, de 1995 a 2007, técnica mista.

● Samuel Kané Kwei (escultura)
Nascido em 1954 em Teshie, Gana, onde vive e trabalha. Aprendeu com o pai a decorar caixões, refletindo a vida do falecido. Seu pai esculpiu um caixão em formato de cebola para um produtor deste vegetal e de uma Mercedes Benz para um proprietário de frota de táxi, por exemplo. Samuel continuou a produzir caixões nestes formatos e também criou esculturas que refletem aspectos atuais da cultura popular e da vida cotidiana. Ele cria ainda esculturas não destinadas ao uso funerário.
Esculturas: “Caixão de cebola”, 1993, esmalte sobre madeira. “Caixão Mercedes”, 1993, esmalte sobre madeira, vidro, metal e tecido. “Tênis de corrida”, 1993, esmalte sobre madeira, vidro, metal e tecido.

Posted by Patricia Canetti at 4:22 PM