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janeiro 15, 2016
Museu Encantador no Caixa Cultural, São Paulo
Doações de “encantamentos” de dezenas de artistas brasileiros e portugueses fazem parte da instalação-performance proposta pelas artistas Rita Natálio e Joana Levi
A Caixa Cultural de São Paulo inaugura no dia 12 de dezembro, as 11 horas, a instalação-performance Museu Encantador, idealizada pelas artistas Rita Natálio e Joana Levi. Trata-se de um projeto de performance e artes visuais sobre “encantamento” e memória entre Brasil e Portugal, cujo desafio é pensar a construção de um museu como uma performance. Dentro da instalação são reunidos objetos e “encantamentos” doados pelos diversos colaboradores brasileiros e portugueses, onde o corpo se oferece como guia para reinventar a memória colonial.
Na instalação, reúnem-se as contribuições dos artistas-doadores, os brasileiros Bruno Rezende & Claudinho Dias, Fábio Zuker, Júlia de Carvalho Hansen, João Penoni, Icaro Ferraz Vidal Júnior, Gustavo Ciriaco, Laura Erber, Letícia Novaes, Marcela Levi, Paulo Bruscky, Peter Pál Pelbart e Suely Rolnik e os portugueses André E.Teodosio, Ana Gandum, Ana Borralho & João Galante, Miguel Pereira e Rita Brás. Cada um deles respondeu de sua maneira à pergunta: “o que você doaria a um museu do encantamento cultural entre Brasil e Portugal?”. E também as coletas audiovisuais em Alter do Chão, no Pará (Espaço Bicho), Recife (Espaço Fonte), Natal (Tecesol), Curitiba (Mostra p.Arte) e São Paulo (Casa do Povo), lugares onde foram realizados ensaios, oficinas, conversas públicas e mostras do trabalho em processo ao longo do ano de 2014.
Desenvolvida com Eduardo Verderame, junto com as diretoras do projeto, Rita Natálio e Joana Levi, a instalação é composta de tubos de PVC — literalmente uma trama de canos onde se penduram e escondem as doações dos artistas convidados. Nesses tubos são também acoplados dezenas de pequenos objetos da cultura popular portuguesa e brasileira, souvenirs e objetos de artesanato recolhidos nas residências (galos de Barcelos, cocares indígenas, camisetas da Amazônia, lenços minhotos, usados tradicionalmente pelas fadistas portuguesas, busto de Salazar, bandeiras, cravos alusivos à Revolução de 25 de Abril de 1974, etc.). Esses elementos, que compõem a coleção, junto com as doações dos convidados - vídeos, cartas, e-mails, fotografias, posters, ensaios, entrevistas - atuam como figuras de imitação, clichês de cultura, que entram em conflito com a dimensão singular de cada doação.
Na performance, com concepção de Rita Natálio e Joana Levi e a participação da bailarina portuguesa Teresa Silva, mistura-se o imaginário da colonização portuguesa com lendas indígenas de encantamento. Vagueando no espaço da exposição, três mulheres vestidas com roupas de antigos exploradores coloniais acoplam nos seus corpos objetos relacionados com a cultura portuguesa e brasileira. Essas performances acontecerão no último mês da exposição.
Encantamento?
De um lado está o universo museológico e científico, onde o museu ocupa o lugar de “fixação” da cultura ocidental, onde o tempo é fixado como critério de referência para o movimento histórico. De outro lado, o universo mágico do encantamento, inspirado nas lendas indígenas brasileiras, onde se podem reconectar diferentes níveis de realidade animal, vegetal e espiritual, alargando o espectro do humano. “Encantar-se” seria sinônimo de um processo pelo qual os seres ficam cativos de uma relação, suspensos sobre um “feitiço”. O encantamento é a lente anímica e pré-verbal a partir do qual a história da colonização pode e precisa ser recontada.
Este projeto foi iniciado pela artista portuguesa Rita Natálio, a partir do seu mestrado no Núcleo de Subjetividade da PUC-SP, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, em Portugal, e orientação do Prof. Peter Pal Pélbart. Convidou a diretora carioca Joana Levi paracocuradoria e codireção; Eduardo Verderame para o desenho do espaço expositivo; Teresa Silva como performer; e Marta Mestre para assistência curatorial. E, junto com a equipe, delinearam um processo de criação em rede com vários artistas convidados de Portugal e do Brasil, também chamados de “doadores de encantos”.
Acesse o site oficial.
Joana Levi (1975, Rio de Janeiro) Diretora, atriz, performer e graduanda em Filoso a na USP. Desenvolve pesquisa sobre as confluências entre performance e loso a da ciên- cia. Nos últimos anos dedicou-se a criação de projetos contextuais e interdisciplinares: dirigiu Rózà, espetáculo multimídia baseado nas correspondências de Rosa Luxemburgo (parceria com Martha Kiss Perrone) / Casa do Povo (SP); idealizou e dirigiu o projeto de intervenção site specific In_Trânsito_odisseias urbanas, em trens metropolitanos (codireção Isabel Penoni) / Prêmio Montagem Cênica 2011. Anteriormente, integrou a Casa Laboratório, dirigida por Cacá Carvalho, como atriz e assistente de direção por 7 anos; atuou em Macumba Antropófaga, de José Celso Martinez, no Teatro Oficina; protagonizou, ao lado de Cacá Carvalho, o espetáculo O Hóspede Secreto, dirigido por Roberto Bacci / coprodução Itália / Brasil.
Rita Natálio (1983, Lisboa) É pesquisadora, performer e dramaturgista. Terminou recentemente um mestrado no Núcleo de Subjetividade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo com orientação de Peter Pál Pelbart, em que desenvolveu uma pesquisa sobre a relação entre imitação e invenção na vida individual contemporânea a partir das redes sócio-técnicas (bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian). Estudou Artes do Espetáculo Coreográfico na Universidade de Paris VIII. A sua atividade principal centra-se na área da escrita, direção de projetos de performance e acompanhamento de trabalhos de outros artistas. No seu trabalho autoral cruza a criação e a pesquisa artística com estudos acadêmicos na área da biopolítica, da comunicação e da filosofia.