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janeiro 15, 2016
Totemonumento na Leme, São Paulo
TOTEMONUMENTO, Galeria Leme, São Paulo, SP - 20/01/2016 a 27/02/2016
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Os monumentos são construídos com a finalidade de criar uma memória coletiva em relação a determinado personagem ou fato histórico. Em sua maioria, são feitos em material durável, posicionados estrategicamente no espaço público e buscam uma construção narrativa do passado, no presente, para o futuro – uma memória forjada com base nos interesses de quem está no poder. No entanto, há uma parte da história que não ganha representação.
Esfacelada em ruínas, documentos quase arqueológicos – estes anti-monumentos são o que sobra de uma história que tentou ser apagada. Se alojam na memória das pessoas, na fala, nos gestos, nos objetos, na narrativa em primeira pessoa, no testemunho – insistem em voltar.
A exposição toma seu título emprestado de um controverso trabalho de Cildo Meireles realizado no contexto da ditadura militar brasileira em 1970. Tiradentes: totem-monumento ao preso político foi uma ação do artista realizada na semana em que se comemorou a Inconfidência Mineira na qual a figura de Tiradentes foi eleita como heróica pelos militares, transformando-o em um emblema nacional. O gesto fugaz de Cildo produziu um anti-monumento, que deixava em suas ruínas, a memória de um presente violento; trazia a morte como matéria e agente da história. Uma crítica brutal a um momento crucial da história brasileira.
Os trabalhos reunidos nesta mostra se debruçam sobre a ideia de memória e história: seus usos, construções narrativas, jogos de poder e representações. Trata-se de “confrontar as representações simbólicas com as realidades que elas representam” (Jacques Legoff) e lançar um olhar ao passado a partir do presente.
Lista de artistas: Cildo Meireles, Clara Ianni, Erica Ferrari, Frederico Filippi, Jaime Lauriano, Raphael Escobar, Regina Parra, José Carlos Martinat.
Isabella Rjeille (Belo Horizonte. Vive e trabalha em São Paulo) é curadora, escritora e editora. Foi curadora da exposição O que caminha ao lado, realizada no SESC Vila Mariana (2015); co-curadora da exposição Frente à Euforia, realizada com “Prêmio para curador estrangeiro” da Fundação Gilberto Alzate Avendaño (Bogotá) na Oficina Cultural Oswald de Andrade junto com Mariana Lorenzi e Fabio Zuker (2015) e curadora assistente da exposição Artevida (2014) que aconteceu no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Casa França Brasil e Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com Adriano Pedrosa como curador chefe e Rodrigo Moura como curador adjunto. Participou como pesquisadora no Ciclo de Portfólios (2014) e, no mesmo ano, publicou o livro Só se vive duas vezes, sobre o trabalho de Flora Leite. Participou como pesquisadora do Programa Curatorial Máquina de Escrever (2013), co-dirigido por Amilcar Packer e Manuela Moscoso. Atualmente é editora do jornal Nossa Voz / Casa do Povo e colaboradora da Casa Tomada, ambos em São Paulo.
Agradecimentos: Galeria Luisa Strina, Galeria Vermelho, Galeria Athena Contemporânea, Galeria Emma Thomas, Rádio CBN
TOTEMONUMENTO, Galeria Leme, São Paulo, SP - 20/01/2016 til 27/02/2016
The monuments are built to create a collective memory on certain character or historical fact. They are mostly made of durable materials and are strategically placed in the public space in order to build a narrative of the past, at the present, for the future – a forged memory based on the interests of those in power, on the beliefs and hopes for the future of the state-nation. Historiography has shown that time is a matter of dispute and memory (or the lacking of it) a strong tool of power. However, there is a part of history that can’t be represented. Shattered in ruins, like archaeological documents, these anti-monuments are what is left from a history that tried to be erased or forgotten. It often finds its place in people's memory, (in)at their language, gestures, objects and first-person narratives, their witness. As Heiner Müller points out: the dialogue with the dead must not stop until they deliver the future which has been buried with them.
The exhibition takes its title borrowed from a controversial work by Brazilian artist Cildo Meireles done in the context of the Brazilian military dictatorship in 1970. Tiradentes: totem-monument for the political prisoner was a happening held in the week that celebrated the Minas Conspiracy in which the figure of Tiradentes was elected as a national hero by the military government. Even though Tiradentes was tortured and killed by the state he was conspiring against, like many of the leftists during the military dictatorship. The fleeting gesture of Meireles have(has) produced an anti-monument, which left in its ruins, the memory of a violent present; brought death as subject and agent of history. A brutal criticism of a crucial moment in Brazilian history.
The artworks gathered in this show address to the idea of memory and history: its uses, narrative constructions, power plays and representations. The main core of the exhibition is about "confronting the symbolic representations with the realities they represent" (Jacques Legoff) and cast a glance to the past from the very troubled and unclear present.
List artists: Cildo Meireles, Clara Ianni, Erica Ferrari, Frederico Filippi, Jaime Lauriano, Raphael Escobar, Regina Parra, José Carlos Martinat.
Isabella Rjeille (Born in Belo Horizonte, Minas Gerais) is a curator, writer and editor based in São Paulo. She curated the exhibition What walks beside it [O que caminha ao lado] at Sesc Vila Mariana, São Paulo (2015); co-curator of the exhibition Facing Euphoria [Frente à Euforia], with the Prize for International Curator by the Fundación Gilberto Alzate Avendaño (Bogotá) that took place in Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo (2015) and was assistant curator at Artevida that took place in several venues, such as the Museum of Modern Art of Rio de Janeiro, Casa França-Brasil, Escola de Artes Visuais do Parque Lage, with Adriano Pedrosa as chief-curator and Rodrigo Moura as associate curator. She is the editor of Nossa Voz (Our Voice) journal, a newspaper that has been founded by left-wing jews in 1947 and was closed by Brazilian military dictatorship in 1964, reopened in 2014 by Mariana Lorenzi and Benjamin Seroussi, directors at Casa do Povo.
Special thanks to: Galeria Luisa Strina, Galeria Vermelho, Galeria Athena Contemporânea, Galeria Emma Thomas, Rádio CBN