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novembro 29, 2015
Silêncio impuro na Anita Schwartz, Rio de Janeiro
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta, a partir do dia 4 de novembro para convidados e do dia seguinte para o público, a exposição Silêncio impuro, com 16 obras dos artistas Artur Lescher, Cadu, Carla Guagliardi, Nuno Ramos, Otavio Schipper, Tatiana Blass e Waltercio Caldas. “Nessa mostra o som é um índice, pois as obras operam com o seu lado negativo no qual ele (som) é silenciado. O que existe, ou melhor, aquilo que se expande pelo espaço é a imagem do som, isto é, as mais distintas suposições que podemos ter sobre qual som poderia ser ouvido se finalmente aquilo que o impede (uma amarra, uma solda, ou ainda o livre entendimento de que a obra possa ser compreendida também como uma partitura) fosse revelado ou reinterpretado”, explica o curador Felipe Scovino.
No texto que acompanha a exposição, o curador comenta que “as obras aqui reunidas não afirmam um significado último e derradeiro para o silêncio; ao contrário: mostram sua abertura, complexidade e multiplicidade e apontam finalmente para o fato de que silêncio e som estão em constante mutação e interpenetração”.
A seguir, Felipe Scovino detalha as obras selecionadas para a exposição:
Da artista Carla Guagliardi estarão as esculturas “O lugar do ar” (2015), e “Partitura” (2012), em que “a escolha dos materiais (borracha, madeira, espuma) envolve um repertório de fragilidades e um equilíbrio precário”. “Tudo parece ruir ou estar prestes a desabar, mas por outro lado as obras evidenciam uma dinâmica que é própria da natureza do som: querem o ar”, diz o curador, que vê uma ligação direta desses trabalhos com as fotografias da série “Partitura” (2010), de Artur Lescher: “Estão lá o ruído, o som, a música, mas acima de tudo o silêncio como vibração”.
Ele vê esta mesma ligação com o trabalho “Hemisférios” (2015), de Cadu, onde “a condição de partitura também se faz presente”. Esta obra é composta por pequenos blocos de papel vegetal que são expostos ao ambiente, onde uma lupa direciona a luz do sol para uma certa área, deixando marcas do tempo. “Não há som, apenas o seu caráter indicial e o processo de excluir ou escavar a matéria para revelar uma outra possibilidade de aparecimento ou ação poética da obra”, conta. Esta situação é semelhante à obra da série “Pagão” (2010), de Nuno Ramos, em que objetos musicais estão fixados no meio de uma pedra-sabão. “Não existe a possibilidade de atingi-los, fazer uso das suas propriedades sonoras. O que se tem é desejo, pois se os alcançássemos e os libertássemos poderíamos fazer uso das suas qualidades e seríamos surpreendidos e encantados por sua natureza poética”, diz Scovino.
Também estará na exposição o relevo sobre papel “Für Elise” (2006), de Cadu. Como explica o artista, ele criou “um sistema para a produção de uma imagem baseado nas características mecânicas da caixinha que contém essa melodia. A reprodução desta para o mecanismo da caixinha ocorre através de um ‘garfo’ com dezoito pontas em diferentes afinações por onde um cilindro contendo as marcações de tempo aciona separadamente cada um de seus dentes em momentos específicos. As marcações neste cilindro foram escritas em uma folha de papel milimetrado transformando-se na planificação deste processo. Adicionando um novo tempo para cada nota musical, da esquerda para direita, surgiu um padrão em formato de cascata, que repetido dezoito vezes, gera sua escrita em negativo. Os intervalos de tempo na melodia, inicialmente brancos, são preenchidos por tantas notas que ao final apresentaram-se negros”.
Da artista Tatiana Blass estará o vídeo “Metade da fala no chão – Piano surdo” (2010), no qual o piano é coberto por uma mistura de cera e vaselina que vai impedindo, progressivamente, que ele produza sons.
Já a instalação “Lá dentro” (2010), de Waltercio Caldas, feita com aço inox, granito, vinil e fios de lã, “vai na contramão do espetáculo, segue uma via distinta daquela do ruído diário que absorve as grandes cidades”, afirma o curador. “Como os intervalos de uma partitura, ele constrói silêncios, dita ritmos, auxilia na compreensão da vibração. O vazio constrói lugares, age sobre a estrutura dos sólidos e produz um leve timbre sobre aquelas superfícies. Sua obra também é musical. Reduzida ao necessário para que possamos perceber semitons ou o mais discreto e preciso som, a sua obra, e em particular nesse caso, rege ou conduz os nossos ouvidos para um lugar distante daquele em que o ruído do mundo parece habitar”.
Do artista Otavio Schipper estarão quatro trabalhos em bronze da série “Empty Voices” (2011). “A obra de Schipper, em especial, assim como a de Guagliardi, pertencem ao ar, porque é nesse lugar que se constrói uma superfície vibrátil, virtual e potente. As obras da exposição revelam uma potência sem igual: um inesperado sussurro que não para de vibrar em suas estruturas”, diz o curador.