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novembro 24, 2015
Fotos contam Fatos na Vermelho, São Paulo
A Galeria Vermelho apresenta a coletiva Fotos contam Fatos de 24 de novembro a 16 de janeiro
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A exposição Fotos contam Fatos, que tem como curadora Denise Gadelha, exibe um conjunto polifônico de obras marcadas pela presença da fotografia como instrumento narrativo. A mostra propõe uma interlocução estabelecida a partir da pesquisa contemplada no XIII Premio Marc Ferrez de Fotografia (Funarte), que possibilitou o contato com diferentes facetas das redes de produção e circulação artística em dez cidades, de norte a sul do país.
O caráter plural desta investigação reflete a tendência da contaminação entre linguagens; não somente sob a ótica do hibridismo da estética pós-moderna, mas também, mantendo sintonia com a simbiose entre texto e imagem, cada vez mais alimentada pela complexidade interativa da comunicação na sociedade contemporânea. A transmissão de um acontecimento é facilitada pela sobreposição de diferentes meios para descrever facetas complementares em sua atribuição de sentido. Sobretudo, no que tange às narrativas atuais, textos são invadidos por imagens e estas são ressignificadas pela escrita.
Fotos contam Fatos elenca abordagens pouco convencionais, se comparadas à apresentação da fotografia tradicional que retrata imagens puras. A pesquisa busca outros caminhos ao articular proposições fotográficas que transitam entre categorias artísticas. O diálogo é ampliado em um contexto que valoriza a leitura da imagem enquanto veículo de narração em suportes variados como a instalação, a escultura, o objeto, o vídeo ou livros e publicações em geral.
Os trabalhos selecionados representam um universo diversificado de posturas que transcendem o significado isolado de uma imagem e encadeam conexões exteriores por meio do emprego de uma série de estratégias, como a disposição de múltiplas imagens em sequências narrativas, ou então, o uso de fotografias tratadas como unidades semânticas em “frases visuais” que formam conjuntos maiores. Propostas que extravasam os limites do plano bidimensional e ratificam a presença do corpo da imagem no espaço. Fotografias desmembradas em suas mínimas partículas constituintes para, a seguir, serem reconstruídas de modo a reorganizar seu código-base resultando, assim, em uma aparência totalmente distinta. Fotos que documentam ficções. Imagens latentes em objetos que negam sua visibilidade... A grande maioria, porém, é formada por ensaios visuais organizados em publicações. Tais atitudes em relação à fotografia exemplificam alguns dos procedimentos recorrentes do microcosmo desta exposição, cujo anseio é espelhar o espírito cacofônico do nosso tempo.
Em sintonia com a sensação generalizada de sobrecarga de informação que desafia nossa capacidade seletiva cotidiana, a expografia, adotada nesta proposição, evoca a natureza compulsiva e agregadora da biblioteca, transgredindo a assepsia formal do “cubo branco”. As obras são dispostas em estantes metálicas convencionais como aquelas encontradas nas bibliotecas. A ocupação da galeria é saturada. Há excesso de estímulos que comprometem a assimilação da totalidade. A mostra remete ao infinito que reside potencialmente em qualquer agrupamento, onde elementos postos em sequência sugerem virtualmente inúmeras permutações. Este conjunto polissêmico está aberto à interação, uma vez que boa parte das publicações está disponível para a consulta local. Uma grande mesa, e cadeiras posicionadas no centro da sala oferecem melhores condições à fruição. No entanto, não é possível prever como o material será devolvido às prateleiras. Portanto, o livre intercâmbio aumenta as possibilidades de desdobramento da leitura, ao estabelecer novos diálogos em situações distintas da configuração inicial.
As imagens-técnicas constituem um tipo de linguagem capaz de aglutinar grande volume de informação visual. Contrariamente à escrita linear – que traz consigo o tempo próprio dado pela sucessão das palavras – a fotografia coloca em suspensão uma fração de um continuum, e, portanto, se torna mais suscetível à projeção do nexo externo estabelecido pela circunstância específica de sua recepção.
Em Fotos contam Fatos a fotografia é vista como um ponto de partida e não um fim em si mesma. A construção de significado se dá no encontro e é atribuída à dinâmica entre as coisas. Mais do que um instrumento que registra o passado, a fotografia colabora para a sedimentação de uma versão de outra realidade temporal ecoando no agora.
Galeria Vermelho presents from November 24 through December 23 and from January 11 to 16 the group show Fotos contam Fatos, curated by Denise Gadelha
The exhibition Fotos contam Fatos [Photos Tell Facts], curated by Denise Gadelha, features a polyphonic set of works marked by the presence of photography as a narrative tool. The show proposes an interlocution based on the research considered at the XIII Premio Marc Ferrez de Fotografia (Funarte), which established contact with different facets of networks of artistic production and circulation in ten cities, from Brazil’s North to South.
The plural character of this investigation reflects the tendency of cross-influence among languages; not only in the viewpoint of the hybridism of postmodern aesthetics, but also in tune with the symbiosis between text and image, increasingly fueled by interactive complexity of communication in contemporary society. The transmission of an event is facilitated by overlapping different media to describe complementary facets in order to attribute meaning. Especially with regard to current narratives, texts are invaded by images and these are re-signified in writing.
Fotos contam Fatos shows approaches that are unconventional compared to the traditional photography that portrays pure images. This research seeks an alternative path, articulating photographic propositions that transit between various artistic categories. The dialogue is broadened in a context that gives primacy to the reading of the image as a vehicle of narration presented in various media such as installations, sculptures, objects, videos or books. Here we find a sort of vision that goes beyond the singularity of an isolated photograph, connecting it in a complex way to neighboring elements.
The artworks selected for the show represent a diverse spectrum of postures that complement the meaning of the image and transcend its individuality, such as strategies of arrangements in narrative sequences and photographs treated as semantic units in “visual phrases” that form larger sets. Proposals that burst the limits of the bidimensional plane, granting the body of the image a presence in space. Photographs dismembered in their minimal parts, then reconstructed through a reorganization of their base code, resulting in a totally different appearance. In some of the works, the photos document fictions. Others are latent images in objects that prevent them from being visible… Most, however, are visual essays organized in publications. These attitudes in relation to photography are examples of the kind of procedure that constitutes the microcosm of the exhibition, which yearns to spread the cacophonous spirit of our time.
In tune with the generalized sensation of information overload that challenges our selective capacity in our daily lives, the exhibition design adopted in this show evokes the compulsive and aggregating nature of a library, breaking away from the formal asepsis of the “white cube.” The works are displayed on conventional metal stands, like those often found in libraries. The gallery is totally saturated. The great excess of stimuli prevents the observer from grasping it as a whole. The show alludes to the infinity that potentially resides in any grouping, where elements placed into sequence suggest virtually countless permutations. This polysemic set is open to interaction, since a good part of the publications are available for on-site consultation. A large table with chairs positioned at the center of the room offers greater reading comfort. It is not possible to foresee, however, how the material will be returned to the shelves. Therefore, the free interchange increases the possibilities of the unfolding of the reading, by establishing new dialogues in situations that are different from the initial configuration.
The technical image is a kind of language able to bring together a large volume of visual information. Contrary to linear writing – in which the time is given by the succession of words – photography suspends a fraction of a continuum, and therefore becomes more susceptible to projections of external connections set by the specific circumstances of its reception.
In Fotos contam Fatos, photography is seen as a starting point rather than an end in itself. The construction of meaning is given by the encounter; it is assigned by the dynamics between things. More than an instrument that records the past, photography contributes to the consolidation of a version of another temporal reality echoing in the very present.