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novembro 12, 2015
Marco Maggi na Nara Roesler, São Paulo
Marco Maggi traz um desdobramento do trabalho apresentado na Bienal de Veneza à Galeria Nara Roesler de São Paulo
O uruguaio Marco Maggi foi um dos artistas selecionados para a 56ª Bienal de Veneza atual (em cartaz até 22 de novembro) com uma mostra que cabe em uma mala pequena. Agora, em sua segunda individual na Galeria Nara Roesler de São Paulo, que abre no dia 14 de novembro, apresenta um desdobramento do trabalho da Biennale.
O título da mostra, Uma frase com três cantos, é uma brincadeira com o duplo sentido que a palavra canto tem em português, e faz menção à grande instalação de adesivos que Maggi criará na Galeria Nara Roesler, à qual o artista se refere como “uma sentença muito longa com três cantos”. Nela, estão os elementos característicos da pesquisa do artista, como pequenos recortes em papel que captam a atenção do espectador por sua aparente familiaridade. Apesar disso, as pequenas estruturas geométricas milimetricamente recortadas não significam nada, são apenas formas que precisam da atenção do olhar para serem visualizadas em sua totalidade.
Essa estratégia convida o público a um olhar lento e à percepção profunda, sem precisar chegar a um significado estrito. Ela torna evidente o caráter viciado da visão - e, consequentemente, do raciocínio - no mundo de hoje, em que o ser humano é bombardeado por uma quantidade de informação que dificilmente consegue processar. Nas palavras de Maggi, “Todos os dias estamos condenados a saber mais e compreender menos”.
O conceitualismo da representação em Veneza, toda em preto e branco, ganha a adição das cores primárias, outra característica da produção do artista. A exposição é formada por vários painéis brancos e pretos de dimensões variadas, em que as estruturas recortadas nas cores primárias - azul, vermelho, e amarelo, que junto com branco e preto formam a gama de cores mais básicas, por cuja mistura se pode obter todas as outras cores -, em preto e em branco são aplicadas ora contrastando com o fundo, ora em monocromia. Isso resulta em volumes e formas semelhantes a plantas de cidades imaginárias ou a um código de sinais sempre além da compreensão, ao mesmo tempo que atrai o espectador a decifrá-lo.
Além dos quadros, há uma instalação com esses pequenos marcadores e sinais, em branco e nas cores primárias, colados diretamente na parede. Stacking Quotes, obra recorrente nas exposições de Maggi, também integra a mostra. Ela é formada por um grupo de sete cadernos com pequenos marcadores e sinais nas cores primárias saindo de entre suas páginas, empilhados um sobre o outro.
As instalações de lápis, fixados perpendicularmente à parede graças à tensão de uma corda fixada na parede em arco, estão representadas na mostra por uma versão de 12 lápis, dos quais oito são brancos e os demais, vermelho, amarelo, azul e preto.
Pendendo do teto no meio do espaço expositivo, há uma escada de 5 metros de altura feita de papel Fanfold branco, no molde de uma escada de cordas. A exceção são alguns “degraus” em preto e nas cores primárias. A intenção é que a estrutura maior da escada desapareça à distância, ressaltando apenas os degraus coloridos, como se flutuassem. Novamente o estranhamento convida o espectador a se aproximar para ver e compreender melhor o que está vendo.
Nas palavras do diretor artístico do Masp, Adriano Pedrosa, em texto de 2009, “O jogo queMaggi nos propõe é repleto de grandes ocultamentos e estratégicas revelações. É preciso olhar com tempo. (...) Trata-se de um jogo silencioso, delicado, vagaroso. Nesse sentido, encontramos aqui um sutil viés político, ainda que mascarado pela beleza e pelo deslumbramento das obras. A desaceleração é antimoderna, antiprogressista, anticapitalista, antiurbana e antiglobalização. (...) É justamente por esse seu traço de resistência que a arte se torna tão fundamental em nosso cotidiano”.
Marco Maggi nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1957. Vive e trabalha em Nova York e Montevidéu. A presença do papel e o caráter intimista são duas constantes em sua produção. Desde a consolidação de sua carreira, na década de 1990, estimula seu público a diminuir o ritmo cotidiano para observar com atenção e aprofundar-se em suas obras, na vida ao redor e na sociedade em que vive. Embracing Modernism: Ten Years of Drawings Acquisitions (Morgan Library & Museum, NY); Monochrome Undone, Space! (Sayago & Pardon, Tustin, EUA); Flow, just flow (Joel and Lila Harnett Museum of Art, Richmond, EUA, 2013); MoCA’s permanent collection: selection of recent acquisitions (Museum of Contemporary Art, Los Angeles, EUA, 2013), são algumas das mostras coletivas em que apresentou seu trabalho recentemente.
Está na 56ª Bienal de Veneza, e participou da Bienal de Cuenca, Equador (2011), da 17ª Bienal da Guatemala (2010), da 8ª Bienal de Havana, Cuba (2003) e da 25ª Bienal de São Paulo (2002). Exposições individuais recentes incluem: Into Whiter Space, Abstraction in Action, Sayago Pardon Collection, Los Angeles, California (2015); Unfolding Marco Maggi, Josée Bienvenu Gallery, New York, USA (2015); Déplier, Xippas, Paris, France (2015); Color files (MOLAA Museum of Latin American Art, Long Beach, EUA, 2013); e Desinformação funcional — desenhos em português (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil, 2012).
Seus trabalhos integram acervos como: MoMA, Nova York, EUA; Whitney Museum of American Art, Nova York, EUA; Guggenheim Museum, Nova York, EUA; Hirshhorn Museum, Washington, EUA; Museum of Fine Arts, Boston, EUA; Fine Arts Museum of San Francisco, EUA; e Daros Foundation, Zurique, Suíça; entre outros.
A Galeria Nara Roesler, uma das principais galerias de arte contemporânea brasileiras, representa artistas influentes da década de 1960, além de renomados artistas em atividade que dialogam com as tendências inauguradas por essas figuras históricas. Fundada em 1989 por Nara Roesler, e dirigida em parceria com seus filhos Alexandre e Daniel Roesler, a galeria fomenta a inovação curatorial consistentemente há vinte e cinco anos, sempre mantendo os mais altos padrões de qualidade em suas produções artísticas. Para tanto, desenvolveu um programa de exposições seleto e rigoroso, criado em estreita colaboração com seus artistas; implantou e manteve o programa Roesler Hotel: uma plataforma para projetos curatoriais; e forneceu apoio contínuo a artistas além do espaço da galeria, trabalhando em parceria com instituições e curadores para apresentar iniciativas inovadoras e projetos empolgantes em exposições externas. Com um rol de artistas inovadores – como Abraham Palatnik, Antonio Dias, Hélio Oiticica, Paulo Bruscky e Tomie Ohtake – e uma nova geração liderada por Artur Lescher, Carlito Carvalhosa, Lucia Koch, MarcosChaves, Melanie Smith e Virginia de Medeiros, a galeria mantém seu compromisso de preservar o legado de figuras históricas e incentivar a prática de artistas iniciantes e consagrados nos âmbitos local e internacional. Além de duplicar seu espaço expositivo em São Paulo em 2012, em 2014, a galeria abriu sua nova filial no Rio de Janeiro, cumprindo sua missão de participar do mundo das artes de forma ativa e influente.