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outubro 21, 2015

34º Panorama da Arte Brasileira do MAM, São Paulo

34º Panorama da Arte Brasileira do MAM tem foco em esculturas pré-históricas e o legado para a arte contemporânea nacional

Os curadores Aracy Amaral e Paulo Miyada propuseram aos artistas Berna Reale, Cao Guimarães, Cildo Meireles, Erika Verzutti, Miguel Rio Branco e Pitágoras Lopes que realizassem trabalhos que dialogassem com peças líticas em pedra polida, esculpidas milhares de anos antes da chegada dos europeus e encontradas no território litorâneo que vai do sudeste do Brasil à costa do Uruguai

Destacar as primeiras manifestações artísticas tridimensionais de que se tem notícia, produzidas entre 4.000 e 1.000 anos A.C., no território que hoje é Brasil e propor uma experimentação sobre como isso pode dialogar com a produção nacional contemporânea. Esse é o mote do 34º Panorama da Arte Brasileira - da pedra da terra daqui, mostra bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, que fica em cartaz de 3 de outubro a 18 de dezembro, com curadoria de Aracy Amaral, curadoria adjunta de Paulo Miyada e consultoria do arqueólogo prof. André Prous. Para traçar um paralelo entre as esculturas pré-históricas encontradas em uma faixa que se estende no que hoje é o sudeste do Brasil até o Uruguai e propor um diálogo atual, os curadores convidaram Berna Reale, Cao Guimarães, Cildo Meireles, Erika Verzutti, Miguel Rio Branco e Pitágoras Lopes - seis artistas de gerações e regiões diferentes e com pesquisas artísticas contrastantes. Os selecionados produzem trabalhos que conjecturam o Brasil e que são apresentados ao lado das cerca de 60 esculturas líticas em pedra polida exibidas pela primeira vez numa grande exposição, que une o presente e o passado e aguça a discussão sobre a arte nacional.

A ideia dos curadores é trabalhar questões de território, paisagem e passagem do tempo, fazendo com que as esculturas arqueológicas atuem como núcleo condutor da exposição. Os artistas exercem são os interlocutores da ancestralidade ao mostrar a relação estabelecida entre passado e presente por meio das obras elaboradas, exclusivamente, para a mostra e feitas em diferentes suportes como vídeos, esculturas, fotografias, pinturas e instalações. O resultado revela um conteúdo visceral, telúrico e eventual afinidade com os artefatos pré-históricos. “As preciosidades da nossa remota antiguidade são de indiscutível perícia técnica, inventividade formal e coesão estilística e cultural”, explica a curadora Aracy Amaral.

O 34º Panorama da Arte Brasileira - da pedra da terra daqui é uma chance de projetar o horizonte poético e plástico de povos que lidaram com a passagem do tempo de maneira distinta da atitude - ora extrativista, ora desenvolvimentista - que predomina na ocupação do Brasil desde o período colonial até hoje. Segundo estudos, as peças pré-históricas tinham utilidade religiosa e de ritual e foram encontradas em sambaquis (morros artificiais feitos de conchas) edificados há milhares de anos por sucessivas gerações das populações costeiras chamadas de povos sambaquieiros. “Os montes de conchas formam uma poderosa imagem de como construir relações profundas com ideias de ancestralidade e de tempo, mas que, infelizmente, são tratados com indiferença pela maior parte dos pesquisadores e artistas brasileiros, um reflexo da desatenção que temos sobre nossa própria história”, comenta Paulo Miyada.

Sambaquis e povos sambaquieiros - Sambaquis são montes de conchas e valvas de moluscos criados pelo homem e encontrados ao redor do mundo em contextos e dimensões variadas. Os sambaquis foram formados em intervalos que podiam durar mais de mil anos e crescer em altura e extensão, chegando a ser altos como um prédio de seis andares e largos como um quarteirão. Alguns serviam de base para habitação, cemitério ou centro cerimonial, enquanto outros ainda tinham funções múltiplas como habitação, ateliês de trabalho e sítio funerário. Embora pudessem reunir sepultamentos, os sambaquis perdiam referência a pessoas ou momentos específicos para atuar como um monumento à própria ideia de ancestralidade.

No Brasil há concentrações desse tipo de estrutura, com destaque para a faixa de, aproximadamente, mil quilômetros de extensão no litoral sul do país. É a essa região que estão associados os chamados povos sambaquieiros que possuíam raro dom para o trato do material do entorno e que manipulavam pedras com refinamento e precisão. Ao longo de milhares de anos, essa povoação produziu centenas de sambaquis, peças líticas, ferramentas e artefatos, mas sofreu gradual desaparecimento. Antes da chegada dos portugueses, novos grupos indígenas, primeiro os Gês e depois os belicosos tupis-guaranis conquistaram a região da costa, trazendo novos costumes e crenças.

Hoje, sambaquis são preservados como patrimônio arqueológico, mas até algumas décadas atrás eram utilizados como fonte para materiais de construção. Nas desmontagens, objetos, ferramentas, artefatos e sepultamentos foram perdidos. Muitas das peças em exposição foram descobertas em desmontes de fins extrativistas e removidas sem o registro arqueológico adequado. Agora, por lei, apenas escavações arqueológicas organizadas podem intervir nos sambaquis remanescentes. Foram registradas quase 300 esculturas de pedra ou de osso, mas dezenas desapareceram desde meados do século XX. As peças preservadas são conservadas em museus, sendo que as maiores coleções estão nas cidades de Joinville e Florianópolis (SC), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e centros de pesquisa em arqueologia.

Exposição - A Grande Sala apresenta dois vetores: o primeiro eixo contempla as cerca de 60 peças líticas exibidas em vitrines posicionadas longitudinalmente pelo espaço expositivo. A maior parte dessas esculturas são de rochas magmáticas, chamadas de diabásios, e que eram produzidas por polimento e lascamento, trabalhadas com ajuda de água e areia e, por vezes, afiadas em pedras abrasivas. As peças provêm de diversas instituições como Museu de Arqueologia e Etnologia da USP; Museu Nacional, da UFRJ; Instituto de Ciências Humanas, da UFPEL; Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville (MASJ); Museu de Arqueologia e Etnologia (MArquE) da UFSC; Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da UFPR; Museu do Homem do Sambaqui, de Florianópolis; além de Div. Museos y Patrimonio Dpto. Cultura e Museo de Arte Precolombino e Indígena (MAPI), ambos do Uruguai.

A outra parte da exposição contempla as obras feitas, exclusivamente, para este Panorama e que são apresentadas numa ordem que remete ao passado distante e vai trazendo, aos poucos, o público de volta para o tempo atual. Introduzindo os visitantes ao universo dos povos sambaquieiros, a primeira obra exibida é a do mineiro Cao Guimarães, que viajou para o litoral de Santa Catarina para verificar os lugares em que antes existiam sambaquis. Sob um viaduto de Florianópolis, Cao encontrou um solo coberto de conchas, ostras e berbigões. Não era um sambaqui envolto pela urbanização, mas um terreno ocupado por trabalhadores que passam o dia separando moluscos das valvas. O artista criou uma fabulação sobre o lugar e a relação com o tempo e a paisagem. As imagens atuais foram articuladas em um vídeo que atravessa tempos distintos do mesmo território somado a material de arquivo de monumentos mexicanos que, juntos, formam o vídeo-ensaio Filme em Anexo, de 15 minutos, que conecta a questão de território e poematiza o espaço e o tempo.

Miguel Rio Branco, conhecido por trabalhar pintura, foto e vídeo de forma sinestésica e por abordar questões do território brasileiro sem se ater a classificações, apresenta a instalação Wishful thinking, que envolve toneladas de pedras, entulho, plantas e televisões. Numa sala fechada e clara, o artista cria uma ruina construída, mas com ares de estufa, que mostra como a natureza quer tomar seu lugar de volta e provoca inquietações sobre o que aconteceria com o planeta com o possível fim da humanidade. Nas TVs são exibidas uma série de fotografias que ilustram fragmentos de cidades envelhecidas, quebradas, cenas de abandono e detritos. O projeto é uma versão imersiva que mostra um caminho a percorrer, abordando pensamentos, memórias e processos de transformação. “Em outras palavras, esta nova obra reforça o caráter enigmático da mostra, trazendo parcelas daquilo que é do território. Neste caso enquadrado como zona de decaimento, sujeira, tensão, relaxamento e, ao mesmo tempo, inexplicável beleza”, explica Miyada.

O carioca Cildo Meireles, um dos nomes mais importantes da arte brasileira e reconhecido internacionalmente por lidar com temas referentes a território, história, política e memória traz uma obra onírica e simbólica. Para a exposição, Cildo realiza Fronteiras Verticais, um dos projetos da série Arte Física, concebido em 1969, quando tinha 21 anos. O trabalho consiste em elevar a altitude do país em alguns centímetros ao utilizar um pequeno fragmento de kimberlito (pedra de valor geológico) no cume do Pico da Neblina, ponto mais alto do Brasil, com 2.994 metros de altitude, localizado no norte do Amazonas próximo à fronteira com a Venezuela. Ao colocar em ação, o artista polemiza noções de território em um projeto de alcance simbólico. Para a realização da obra, o artista contou com a participação de yanomamis, índios detentores do espaço naquela região para a expedição de cerca de duas semanas. Extremamente cuidadoso em zelar pela integridade do local, sagrado para essa etnia, a pequena pedra foi aderida sem agressão ao espaço. O projeto, que foi levado a cabo pelo também artista Edouard Fraipont e assistido por Miguel Escobar, é apresentado em vídeo, acompanhado de estudos, documentos e registros fotográficos da empreitada.

A mais jovem entre os artistas selecionados, a paulistana Erika Verzutti pertence a uma geração mais recente, mas já com reconhecimento da crítica. Escultora, o trabalho de Erika é difícil de definir por ser mais intuitivo, porém repleto de referências, sejam elas históricas, artísticas ou de design. Ao inventar, misturar e embaralhar, a artista cria formas simples possíveis de traçar relação de comparação com os zoólitos pela afinidade morfológica, tamanho e semelhança. A peça-chave para a exposição são os “cemitérios”, obras que ela trabalha ao longo do ano e dão errado ou não são utilizadas. Então, as peças abandonadas são acumuladas e depois reunidas numa só criando um grande trabalho, que possui notável relação com os sambaquis e com símbolos funerários que refletem sobre a passagem do tempo e mostram uma ancestralidade explícita.

Pitágoras Lopes apresenta oito telas em grandes formatos que estão entre o abstrato e o figurativo e misturam manchas, rabiscos e texturas. Pintor que produz com compulsão, Pitágoras passou meses trabalhando para a mostra e utilizando cores arenosas e terrosas, azuis marinhos e traços que fazem pensar em registros rupestres e silhuetas análogas às peças sambaquieiras, além de conchas, mares e morros. O artista goiano tem um trabalho que mistura referências e bebe da água da pintura de rua, do pop e da ilustração, mas sem ser classificado em nenhuma delas. “A produção visual de Pitágoras enreda uma espécie de cosmogonia na qual a observação atenta de um cotidiano marginal converge com a fantasia e com o delírio”, exemplifica Miyada.

Por fim, a paraense Berna Reale, artista comprometida com o presente e com a problemática social do País, apresenta duas obras que finalizam o fluxo da exposição e, ao mesmo tempo, trazem o público de volta para a atualidade. A primeira é o vídeo Habitus que ilustra a corrupção e a violência ao misturar políticos engravatados e vítimas fatais da violência urbana. O segundo trabalho é O Tema da Festa, uma instalação ambientada numa sala fechada e escura que simula uma boate popular, onde o som são sirenes e barulhos típicos de uma viatura policial, a iluminação são as luzes vermelhas e azuis de emergência e as paredes são perfuradas por tiros à queima roupa de diferentes calibres. Para contrastar com o clima tenso e pesado, no centro do inferninho são oferecidos aos visitantes suspiros dispostos em bandejas. “À pergunta “para que pode servir a arte”, a obra de Berna Reale responde sempre: a arte serve para estar junto com os conflitos do seu tempo. Não para resolvê-los, não para ensinar algo sobre eles e nem para apagá-los, mas, ao contrário, para torná-los presentes, visíveis e ásperos, ” finaliza o curador.

A Sala Paulo Figueiredo fica reservada para ser um espaço de aprofundamento do tema proposto pelo 34º Panorama da Arte Brasileira - da pedra da terra daqui. No local, são apresentados alguns zoólitos, acompanhados de ferramentas utilizadas na confecção das peças líticas e que também pertencem aos museus das universidades. No centro da sala, mesas e vitrines apresentam informações sobre o contexto da civilização dos povos sambaquieiros com explicações, perguntas e respostas, mapas e ilustrações. Nas paredes, são exibidos trabalhos anteriores ou recentes dos seis artistas selecionados e que se relacionam, de algum modo, com a mostra na Grande Sala.

OS ARTISTAS

Berna Reale (Belém, PA, 1965)
Com crescente participação em mostras brasileiras e internacionais nos últimos anos, incluindo a mais recente representação brasileira na Bienal de Veneza, Berna distingue-se pelo compromisso constante de refletir os dilemas sociais atuais. Coloca tais conflitos em cena através de performances planejadas para serem filmadas ou fotografadas, com lugares, ações e objetos combinados em imagens inquietantes. A nova instalação remete à festividade das boates populares e à agressividade das ruas das cidades brasileiras. Luzes giram como em uma festa, mas tratam-se de lâmpadas de sirenes, acompanhadas dos sons gravados em viaturas de polícia. O revestimento baleado das paredes e os doces oferecidos reforçam a convergência entre desconforto e participação. Na sala seguinte, a imagem da violência reemerge, agora de dentro de uma fábula fílmica: uma figura trabalha grandes volumes de plástico e os costura, ora para embrulhar os ternos finos dos políticos, ora para armazenar os corpos mortos das vítimas de crimes violentos.

Cao Guimarães (Belo Horizonte, 1965. Vive e trabalha em Belo Horizonte)
Fotógrafo, cineasta e artista, com crescente atuação desde 1980. Em todos esses campos, predominam a atenção ao muito pouco, à quase coisa nenhuma; aos processos de caminhada, percurso e deslocamento como se um “filmador-viajante”; e a atenção às palavras de pessoas tão sábias quanto limítrofes, de andarilhos a eremitas. Os personagens, lugares e acontecimentos que retrata parecem subsistir à parte do pulso modernizante da história. Convidado a visitar os sambaquis do litoral catarinense, se dispôs a criar sua fabulação sobre o que podem ter sido e como a relação com o tempo e a paisagem poderia ser experimentada hoje. Durante a viagem, sob um viaduto de Florianópolis, chamou-lhe a atenção o solo coberto de conchas, ostras e berbigões. Não era um sambaqui envolto pela urbanização recente, mas um terreno ocupado por trabalhadores que passam os dias separando os moluscos das valvas. As imagens atuais desse lugar encontram-se articuladas com filmagens dos sambaquis e outras imagens do arquivo do artista.

Cildo Meireles (Rio de Janeiro, 1948. Vive e trabalha no Rio de Janeiro)
Iniciando como desenhista, já em 1970, Cildo participa de prestigiosa coletiva internacional - Information, no MoMA-NY, com trabalhos conceituais que constituem a contribuição à arte brasileira dos últimos 40 anos. Com trabalhos sensoriais lidando com espaços que implicam articulação corporal dos observadores, a atuação do artista tem sido pautada por vivências e memórias. A preocupação política está igualmente presente na poética, que conta com amplo reconhecimento internacional. Em 1969, aos 21 anos, concebeu a série de desenhos em papel milimetrado que denominou de Arte física, por demandarem deslocamentos e articulação com o espaço geográfico. É um desses projetos - Mutações geográficas: Fronteira vertical - o trabalho apresentado e que consta de uma performance realizada em expedição ao Yaripó (que significa “ponto mais alto” em língua ianomâmi) ou Montanha Sagrada, no Parque Pico da Neblina (AM), elevando em alguns centímetros a altitude máxima do Brasil. Esse projeto, concretizado agora para esta exposição, acha-se documentado em fotos e vídeo apresentados ao lado de outros projetos da série.

Erika Verzutti (São Paulo, 1971. Vive e trabalha em São Paulo)
O trabalho refrata a situação emaranhada das referências que lhe circundam no contexto globalizado atual, em um ateliê tão prolífico quanto onívoro, que absorve volumes e linhas sem preferência por autenticidade, originalidade ou pertencimento. No que expõe no Brasil e em vários outros países, desde 1995, é notável a síntese e coesão das obras, cuja simplicidade remete tanto às formas da natureza, quanto a exemplos da arte moderna abstrata. São curvas abauladas como as que ocorrem por tensão de superfície, quando uma força dilata uma película (como em um ovo) ou exerce abrasão contínua de um material (como em um seixo rolado). Nos “cemitérios”, encontram-se arranjos de fragmentos que interromperam o crescimento em algum ponto e se reúnem como topografia, território e sinal da passagem do tempo. Somados, os cemitérios feitos anualmente acabam representando sucessivos estratos da obra, como breve retrospectiva ao avesso, que ao invés de celebrar obras eleitas, se apega a supostos fracassos.

Miguel Rio Branco (Las Palmas de Gran Canária, Espanha, 1946 – Vive e trabalha no Rio de Janeiro)
As instalações retêm muito da mescla, como diz ele, de “nossa civilização, que até hoje tem essa coisa dramática, degradada, caída, machucada”. Ao mesmo tempo, reúnem de forma expressiva elementos da natureza com beleza surpreendente coexistindo com dejetos da sociedade periférica na qual vivemos desordenadamente. Instalações que aliam sempre o sabor pictórico, raiz da pratica visual, como colagens de seu foco, mesclado à fotografia e ao vídeo. A resultante é sempre uma soma forte de experimentações para o visitante desavisado e aberto. Filho de diplomata, Rio Branco viveu os primeiros anos em vários países europeus e em Nova York, onde se inicia profissionalmente em fotografia. Partindo simultaneamente da pintura, sempre marcante na fotografia, possui vivências múltiplas no Brasil. Sua geração é profundamente marcada por artistas do pop norte-americano, em particular Robert Rauschenberg. Assim, combina pintura com música, fotos/filmes e objetos, com recortes da dramática paisagem humana ou territorial que nos cerca.

Pitágoras Lopes (Goiânia, GO, 1964 – Vive e trabalha em Goiânia)
Desenhista e pintor, realiza experiências em grupos teatrais e performáticos, assim como estuda ciências humanas e aproxima-se de publicações de ciência-ficção. Expõe regularmente em individuais desde 1993 (São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás, Santa Catarina e em feiras de arte como Art Basel e São Paulo). Uma fauna humana e de animais, em composições em que se justapõem e/ou se mesclam pinturas e desenhos projetando igualmente elementos extraterrestres, animais estranhos, com extração cinematográfica evidente, denunciando uma predileção recorrente do artista. Pássaros, flores, e insetos usualmente povoam as obras que projetam uma pintura rápida, compulsiva e extremamente pessoal. Para este evento, mergulhou fundo em pesquisas sobre o universo da arqueologia dos sambaquis e se liberou em atmosferas aquosas, nas quais a poética pictórica desafiou grandes planos espaciais. Desenvolveu uma fantasia rica em temática até então inédita para sua pintura, sem perder a velocidade da expressão emocional que caracteriza a caligrafia obsessiva.

OS CURADORES

Aracy Amaral
Historiadora, crítica, curadora de arte, foi professora titular de História da Arte da FAU-USP. Graduou-se em jornalismo pela PUC-SP (1959). Realizou mestrado em Filosofia na Universidade de São Paulo (1969) e doutorado em Artes na mesma instituição. Os exames de Livre Docência (1983) e de Titular foram realizados na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1988). Recebeu o John Simon Guggenheim Fellowship e em 2006 ganhou o prêmio Fundação Bunge (antigo prêmio Moinho Santista) pela contribuição à área de Museologia, entre outros. Além de ter organizado diversas exposições importantes, foi coordenadora-geral do Projeto Rumos, do Itaú Cultural (2005-06). Realizou a curadoria da 8ª Bienal do Mercosul e da Trienal do Chile. Integrante do Comitê Internacional de Premiação do Prince ClausFund (Haia, Holanda). Diretora do Museu de Arte Contemporânea da USP (1982-1986) e da Pinacoteca do Estado de São Paulo (1975-1979).

Paulo Miyada (São Paulo, 1985)
Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi assistente de curadoria da 29ª Bienal de São Paulo (2010). Desde 2011, coordena o Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake e ministra cursos na Escola Entrópica, programa pedagógico da instituição. Integrou a equipe curatorial do Rumos Artes Visuais 2011-2013, programa de mapeamento nacional de artistas promovido pelo Itaú Cultural. Em 2014, com Aracy Amaral e Regina Silveira, curou a edição retrospectiva dos 15 primeiros anos do programa. Em 2014, curou as exposições "A parte que não te pertence, Madrid", na galeria Maisterravalbuena e "A parte que não te pertence, Wiesbaden" - ambas apoiadas em leituras da obra de Joaquim Cardozo. No Instituto Tomie Ohtake, esteve diretamente envolvido na realização de mostras como "Beuys e bem além: Ensinar como arte", "Paulo Bruscky: Banco de Ideias", "V Mostra 3M de Arte Digital: Canções de Amor", "Nelson Felix: Verso", "Estranhamente Familiar", "Medos Modernos", "Cheio de Vazio" e outras, incluindo mostras com diversas abordagens de Tomie Ohtake. Colabora com artistas em publicações independentes, textos sobre exposições e projetos artísticos e produziu três vídeo-ensaios para a edição de 2013 do Festival Videobrasil.

André Prous
Possui graduação em História - Université de Poitiers (1966), mestrado em História Antiga - Université de Poitiers (1968) e doutorado em Pré História - Ecole Pratique desHautesEtudes e Université Paris 1 (1974). Foi professor na USP (1971-75). Atualmente é professor titular aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais e responsável pela MissionArchéologiqueFrançaise no mesmo estado. Estudou a pré-história do litoral meridional do Brasil, a pré-história da região de Lagoa Santa e do vale do Rio Peruaçu (MG). Dirigiu programas de levantamentos e estudo de grafismos em suportes rochosos (rupestre) ou de cerâmica (tupiguarani, marajoara). Dedicou vários trabalhos ao estudo de tecnologias líticas. É autor de vários livros de síntese sobre a pré-história do Brasil (Arqueologia Brasileira; O Brasil antes dos Brasileiros), sobre temas específicos e de numerosos artigos especializados.

Posted by Patricia Canetti at 7:06 PM