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outubro 12, 2015
Vik Muniz no Vale, Vila Velha
100 obras do artista, entre as quais fotos de imagens feitas com sucata, terra, diamantes e até comida, poderão ser vistas pelo público capixaba a partir de 15 de outubro, no Galpão do museu. A exposição se completa com uma sala documental e o lançamento do catálogo. Na sala de exposições temporárias do Museu Vale serão mostrados uma cronologia ilustrada, making of dos trabalhos, livros e catálogos para consulta do público e uma sessão diária às 15h do filme O Lixo extraordinário.
Rostos, cartões postais, figuras mitológicas, pessoas comuns, todos desenhados e detalhados com materiais tão diversos quanto feijão, chocolate, macarronada, diamantes, açúcar, sucata, geleia e manteiga de amendoim se transformam, depois de fotografados, em obras de arte que podem até ser o que parecem, mas nunca só isso.
A mostra chega ao Museu Vale em 15 de outubro de 2015 e fica até 14 de fevereiro de 2016, na esteira de uma turnê de sucesso pela América Latina (atualmente está sendo exibida no Museu da Universidade Três de Fevereiro (MUNTREF), de Buenos Aires).
No Museu Vale, entretanto, chegará acrescida de obras recentes do artista, além das 33 fotografias que compõem Earthworks. Em Earthworks – obra ícone da exposição – as minas da Vale em Carajás e Minas Gerais foram palco da construção, em 2002.
– Um trabalho tão complexo como foi Earthworks, que demandou precisão, empenho de muita gente e uma estrutura incrível de logística. E agora, mais de dez anos depois, é justamente o Museu Vale quem me convida para expor no Espírito Santo – constata Vik Muniz.
– Acho interessante essa rede de recorrências, de interações que multiplicam a arte.
Na vastidão das áreas mineradas a céu aberto, Vik Muniz, em parceria com a Vale do Rio Doce, realizou a série de fotografias. De helicóptero, o artista comandou a operação e fotografou os desenhos feitos com tratores e escavadeiras em grandes áreas de mineração da companhia. Com o GPS, o traçado era sinalizado no terreno, indicando onde as retroescavadeiras deveriam escavar.
As fotografias parecem uma documentação de marcas deixadas por extraterrestres em regiões não urbanas mas com certa ironia em relação aos objetos de uso cotidiano: cabide, lâmpada, tesoura, colher, dado e clipe de metal, entre outros. O trabalho remete às intervenções monumentais em paisagens naturais (Land Art) de artistas como Robert Smithson (1938–1973). Na série, Vik brinca com a percepção do espectador, intercalando fotos de maquetes com outras realizadas no terreno da Vale, ou seja, misturando obras de grande e pequena escalas.
Na mostra, vários trabalhos referenciais do artista marcam presença como: Sugar children (Crianças de açúcar), série de rostos de meninos filhos de operários das usinas açucareiras caribenhas, desenhados com açúcar; imagens de diamantes, que recriam rostos de celebridades, redesenhados com milhares de diamantes; Postcards from nowhere (Cartões-postais de lugar nenhum), que exibe cartões postais, no mínimo, inusitados de várias cidades do mundo. Merece destaque também a série de recriações de obras originais de grandes pintores, como Caravaggio, sempre com o suporte de materiais improváveis.
É um sonho antigo ter Vik Muniz aqui – comemora Ronaldo Barbosa, diretor do Museu Vale e responsável pelo convite ao artista.
– É um artista extremamente atual, com uma obra renovadora e dinâmica, afinada com as tendências mais éticas dentro da arte contemporânea hoje – sintetiza.
Na mira da arte
– Não tem problema usar chocolate, é bom. O ruim é a tinta, porque nunca se sabe direito o que contém – brinca o artista, que abriu os caminhos para uma carreira internacional na arte depois de mudar-se de São Paulo para Nova York. Explica-se: após apartar uma briga de rua, foi alvejado na perna pelo próprio agredido – que, para evitar uma denúncia, ofereceu-lhe uma gorda recompensa em dinheiro.
– Aceitei e resolvi usar o dinheiro para comprar uma passagem de avião e me mandar para Nova York – conta o artista. Uma vez lá, deixou-se envolver de vez com a efervescência cultural da metrópole e descobriu que podia usar de tudo um pouco para materializar seu talento.
Foram 30 anos nos EUA, mas sempre aqui e ali também, trabalhando em vários países. Hoje Vik mora no Rio e se envolve bastante com projetos sociais, como a ONG Spectaculu. Em 2013, inicia com recursos próprios a construção da Escola do Vidigal, que oferece a crianças em fase de alfabetização a oportunidade de aprender arte e tecnologia brincando, por meio de uma metodologia de ensino que é resultado de uma parceria entre Vik Muniz e o Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos.
– É uma ‘Bauhaus’ para criancinhas, brinca com um sorriso muito sério.