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outubro 12, 2015

Cadu na Vermelho, São Paulo

Entre agosto e outubro de 2014, Cadu residiu por dois meses em Hornitos (a exposição), no Chile. A imersão solitária foi viabilizada através de um convite da Plataforma Atacama, projeto independente que visa o desenvolvimento de iniciativas artísticas e culturais em diferentes partes do Chile, tomando como ponto de partida o Deserto do Atacama.

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Durante a residência, Cadu desenvolveu trabalhos que ecoam este período de reclusão e reflexão, debruçando-se sobre discussões que envolvem os relacionamentos entre homem e natureza, solidão e criatividade, sistemas e passagem do tempo.

Hornitos é uma praia localizada entre o Oceano Pacífico e o deserto. A presença permanente e agressiva do sol como o mediador de todos os ciclos da região, foi utilizada como ponto de partida para a construção de duas obras presentes na individual. Em Hemisférios, de 2014, Cadu apresenta 168 folhas de papel vegetal que sofreram queimaduras resultantes de exposições à luz do sol em suas superfícies. Para a elaboração dessa obra, o artista desenvolveu um suporte em que uma lupa era fixada sobre um bloco de folhas de papel vegetal. Os raios solares, potencializados pela lupa, rasgavam seu percurso sobre o bloco. Assim, cada folha de papel vegetal simboliza uma hora desse percurso, e o conjunto completo representa o testemunho gráfico da passagem de uma semana em Hornitos, tanto extensivamente como intensivamente, já que as 24 folhas de cada bloco foram queimadas de modo proporcional à temperatura e intensidade da luz de cada dia.

O mesmo artifício construído para Hemisférios foi utilizado na elaboração de uma sequência de fotografias titulada Trópico de Capricórnio, 2014. O políptico deixa evidente o registro da passagem e da mudança da posição do sol feito sobre uma caixa de areia negra, trinta dias antes do início da primavera.

Os dois trabalhos, apresentados juntos, articulam uma noção de temporalidade ao mesmo tempo alargada e dinâmica da indômita região do Atacama.

O clima atacamenho também é investigado na série Wind Line, de 2014. Em parceria com o artista e designer Marcos Kotlhar, Cadu concebeu uma estrutura que sistematiza leituras do comportamento do vento em forma de desenhos. No aparato, dados colhidos por um anemômetro são interpretados por um software de leitura, que utilizando a velocidade como vetor de deslocamento e a direção dos pontos cardiais como coordenadas, produz comandos que movem uma caneta presa a um suporte numa área de desenho. A duração de cada desenho depende do tipo de investigação gráfica que se pretende observar, podendo estender-se por um período de poucas horas até meses. O que se vê é o registro da volatilidade do comportamento do vento em uma mesma região – mais uma vez um sistema que mira compreender a inconstância da região.

Como em Wind Line, o vento está presente no vídeo Psicopompo. Colaborando com jovens estudantes chilenos, Cadu instalou em uma encosta um conjunto de bandeiras brancas que dançam a mercê de golfadas de ar. O título do vídeo faz referência à palavra grega ‘psychopompós’, junção de ‘psyché’ (alma) e ‘pompós’ (guia). O termo designa um ente cuja função é conduzir a percepção humana em ocasiões de iniciação ou transição. Na mitologia grega, essa função é atribuída a Hermes.

Cadu também registra a sua passagem por Hornitos com um diário e uma série de esculturas. O diário, agora editado em formato de livro de bolso, narra eventos ocorridos durante a residência e intercala situações domésticas e comentários relacionados à criação das obras que surgiram a partir do contexto local. O livro, batizado de Hornitos, fica disponível para ser levado para casa por quem visita a exposição.
As esculturas da série Sambaqui foram produzidas com cascos de caranguejos encontrados e que sofreram a impressão de padrões geométricos através da ação de ácidos. São intervenções lentas e gráficas em suas superfícies que registram o tempo do artista, enquanto ele registrava o tempo de Hornitos.

*Cadu agradece a Plataforma Atacama e a Alexia Tala.


Between August and October 2014, Cadu resided for two months in Hornitos (the exhibition), in Chile. This solitary immersion was made possible by an invitation from the Plataforma Atacama, an independent project aimed at the development of artistic and cultural initiatives in different parts of Chile, taking the Atacama Desert as a basis.

During the residency, Cadu developed artworks which echo that period of reclusion and reflection, focusing on discussions that involve the relationships between man and nature, solitude and creativity, systems and the passage of time.

Hornitos is a beach located between the Pacific Ocean and the desert. The continuous and aggressive presence of the sun as a mediator of all the cycles in the region was used as a starting point for the construction of two works featured in this solo show. In Hemisférios [Hemispheres], 2014, Cadu presents 168 sheets of tracing paper bearing marks burned into their surfaces by intensified sunlight. To make this artwork, the artist developed a support on which a magnifying glass was held still above a stack of sheets of tracing paper. The rays of the sun – made more powerful by the magnifying glass – burned their path on the stack. Thus, each sheet of tracing paper symbolizes an hour of the sun’s path, and the complete set constitutes a graphic record of the passage of one week in Hornitos, both extensively and intensively, since the 24 sheets of each stack were burned in a way that is proportional to the temperature and intensity of the sun on each day.

The same device constructed for Hemisférios was used to produce a sequence of photographs entitled Trópico de Capricórnio, 2014 [Tropic of Capricorn, 2014]. The polyptych presents the record of the passage and changing position of the sun made on a box of black sand, 30 days before the beginning of spring.

Presented together, the two artworks convey a simultaneously enlarged and dynamic notion of temporality in the untamed region of the Atacama Desert.

The climate of the Atacama Desert is also investigated in the series Wind Line, 2014. In partnership with artist and designer Marcos Kotlhar, Cadu conceived a structure that systematizes readings of the behavior of the wind in the form of drawings. In the device, data collected by an anemometer are interpreted by a reading software that treats velocity as a vector of displacement and considers the wind’s cardinal direction to produce commands that move a pen in different directions and distances to make a drawing. The duration of each drawing depends on the intended type of graphic investigation and can last for a period ranging from a few hours to several months. The result is a record of the volatility of the wind’s behavior – once again a system that aims to comprehend the inconstancy of a given region.

As in Wind Line, the wind is likewise present in the video Psicopompo [Psychopomp]. Collaborating with young Chilean students, Cadu installed a set of white flags on a slope in such a way that they dance in accordance with the strength and direction of gusts of air. The title of the video refers to the Greek word psychopompós, a combination of psyché (soul) and pompós (guide). The term denotes a being whose function is to conduct the human perception on occasions of initiation or transition. In Greek mythology, this function is attributed to Hermes.

Cadu also recorded the time he spent in Hornitos by means of a diary and a series of sculptures. The diary, now published in pocketbook format, narrates events that took place during his residency, interspersing domestic situations with commentaries concerning the creation of the works that arose based on the local context. The book, entitled Hornitos, is available to the exhibition attendees to take home with them.
The sculptures of the Sambaqui series were produced with found crab shells, to which the artist applied acid to make geometric patterns. Their surfaces were submitted to slow and graphic interventions that record the artist’s time, while he recorded the time of Hornitos.

* Cadu is grateful to Plataforma Atacama and to Alexia Tala.

Posted by Patricia Canetti at 1:33 PM