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outubro 6, 2015
Rodrigo Braga no Paço das Artes, São Paulo
Árvores derrubadas pelas chuvas e carcaças de carros abandonados dispararam o processo criativo de Abrigo de paisagem / Veículo de passagem, exposição do artista Rodrigo Braga, que o Paço das Artes inaugura no dia 9/10. A curadoria é de Priscila Arantes, diretora artística e curadora da instituição, que pertence à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.
“O Rodrigo trouxe como proposta a queda das árvores em função das fortes chuvas em São Paulo. Aí surgiu a ideia de criar um trabalho que dialogasse com o contexto da cidade e da mata do Paço das Artes. Depois, começamos as buscas por raízes de árvores já mortas”, afirma Priscila Arantes.
A individual de Rodrigo Braga conta com dois trabalhos inéditos desenvolvidos durante a residência no Paço das Artes e vivência na capital paulista: uma instalação e um vídeo. A instalação é composta por uma raiz de uma árvore urbana e motores de carros em desuso e estará entre projeções do vídeo, que tem como base uma ação performática exercida pelo próprio artista ao longo de dois dias.
Esse trabalho –“híbrido de ação performática e vídeo”-- exigiu do artista muita concentração, envolvimento e esforço físico tanto para carregar portões de ferro, quanto para quebrar galhos de uma árvore. A ação teve início numa tarde de setembro, numa praça localizada numa rotatória da Cidade Universitária, próximo ao Paço das Artes. Rodrigo Braga chega dirigindo um carro antigo (Voyage, azul), com grades de portões de casa demolidas no teto e estaciona o veículo ao lado de uma árvore de médio porte.
Aos poucos descarrega peça por peça e, com cordas, inicia a amarração dessas grades a partir dos galhos da copa até o chão, no sentido de fazer uma espécie de “casa na árvore”. No interior, amarra lonas plásticas para criar o isolamento entre o dentro e o fora e construir uma espécie de “núcleo de aconchego", como define o artista. À noite o abrigo fica pronto, Rodrigo entra e passa a noite.
Ao raiar do dia seguinte, a performance continua: Rodrigo sai do abrigo, entra no carro sozinho, dirigindo-o em direção ao Paço das Artes e depois segue até a Fazenda Serrinha, em Bragança Paulista (125 km de São Paulo). Ao cair do sol, realiza a ação final com outra árvore, construindo um novo “abrigo”.
De acordo com o artista, Abrigo de paisagem/Veículo de passagem reflete uma contradição do homem urbano em relação à zona rural. “O veículo aqui (e na ‘vida real’) é uma espécie de cápsula de passagem entre mundos relativamente próximos, mas tantas vezes antagônicos. A narrativa sugere fluxos bilaterais entre a ideia de campo e cidade. No decorrer de dois dias e duas noites esses limites são ultrapassados e misturados”, diz.
Rodrigo Braga, nascido em Manaus em 1976, logo mudou-se para Recife, onde graduou-se em Artes Plásticas pela UFPE (2002). Atualmente, vive no Rio de Janeiro. Expõe com regularidade desde 1999 e em 2012 participou da 30ª Bienal Internacional de São Paulo. Em 2009, recebe Prêmio Marcantonio Vilaça – Funarte/MinC; em 2010, o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, em 2012, o Prêmio Pipa/MAM-RJ Voto Popular e, em 2013, o Prêmio MASP Talento Emergente. Possui obras em acervos particulares e institucionais no Brasil e no exterior, como MAM-SP, MAM-RJ e Maison Européene de La Photographie - Paris.
Com sua participação na 30ª Bienal de São Paulo em 2012, numa sala especial, Rodrigo Braga consolida-se como uma referência dentro do panorama da arte contemporânea brasileira por sua radical interrogação das dimensões animal e natural da existência humana. A inscrição do corpo próprio em contextos literalmente naturais, em cenas de representação que se desenvolvem em interstícios entre o animal e o humano, o natural e o cultural, e a densidade da matéria e da dimensão simbólica de sua obra fazem dela, por meio da fotografia, do vídeo e da performance, um conjunto capaz de iluminar, a partir da arte, uma das discussões estéticas e políticas mais contundentes e urgentes de nosso tempo, a saber, aquela que interroga as mutações e a perda da centralidade da condição humana.
Priscila Arantes é diretora artística e curadora do Paço das Artes, instituição da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, desde 2007. Entre 2007 e 2011 foi diretora adjunta do MIS (Museu da Imagem e Som). É pós-doutora pela Pennsylvania State University (EUA), doutora em Comunicação e Semiótica pela (PUC/SP), pesquisadora, crítica de arte e professora universitária em cursos de graduação e pós-graduação stricto sensu. Em 2007, é finalista do 48º Prêmio Jabuti pela publicação Arte@Mídia: perspectivas da estética digital (Ed.Senac/Fapesp). Em 2012, foi contemplada com o prêmio da Getty Foundation (USA), para participar da 101ª Conferência Anual da College Art Association (CAA). É autora também de “Reescrituras da Arte contemporânea: história, arquivo e mídia” (Editora Sulina, 2015), entre outros.