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outubro 5, 2015

Barrão na França-Brasil, Rio de Janeiro

AGENDA RJ Hoje às 19h @ França-Brasil: Barrão + Programa Paralelo, com Cildo Meireles + Marta Neves + Peter Fischli & David Weiss >>> http://bit.ly/CFB_Barrao http://bit.ly/CFB_Paralelo

Posted by Canal Contemporâneo on Quinta, 8 de outubro de 2015

Na Casa França-Brasil, artista carioca exibe pela primeira vez seu novo trabalho com materiais como gesso e resina. Na exposição monocromática, objetos na cor branca refletem sobre a história do espaço centenário, construído em 1820 para ser a Praça do Comércio da cidade-sede do império, e sobre a sensação de estranhamento e falta de pertencimento no mundo contemporâneo.

Barrão - Fora Daqui, Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, RJ - 09/10/2015 a 15/11/2015

A Casa França-Brasil, um espaço da Secretaria de Estado de Cultura administrado pela organização social Oca Lage, apresenta a partir do próximo dia 8 de outubro, e até 15 de novembro de 2015, a exposição “Fora Daqui”, que reúne trabalhos inéditos do artista carioca Barrão, feitos especialmente para o local. Com texto crítico assinado por Felipe Scovino, a exposição inaugura uma nova produção do artista nascido em 1959, que criou perto de 50 obras em gesso e resina na cor branca, moldados de objetos do cotidiano, juntando-os e modificando-os. Esta é a maior exposição individual institucional do artista, que tem uma trajetória de mais de trinta anos. No próximo dia 24 de outubro, um sábado, às 16h, haverá uma conversa pública com Barrão e Felipe Scovino.

No período que transcorreu desde 2013 – quando começou seu projeto de exposição na Casa França-Brasil – até agora, Barrão passou a se interessar em explorar as fronteiras dos objetos e esculturas de uma maneira diversa da usada em seu conhecido trabalho com louça, em que encontrava bibelôs, partia e colava pedaços uns nos outros, criando figuras híbridas. Decidiu usar o gesso, o que alterou seu processo de criação. Fez moldes de objetos cotidianos de diferentes materiais – como vidro, plástico, metal, madeira e até mesmo comida – para criar suas esculturas de formas híbridas, todas com uma aparência uniforme ao final, brancas. Ao mesmo tempo, passou a pensar na exposição como um conjunto de obras, e não na reunião de peças individuais. A função primária do edifício de 1820 – a primeira Praça do Comércio da então cidade-sede do império – lhe sugeriu a ideia de criar uma grande barraca central, aos moldes de uma de feira livre, como uma ideia de abrigo para suas pequenas esculturas, para que ele “pudesse existir ali”, naquele espaço que considerava “muito difícil”.

Para Felipe Scovino, “esta exposição inaugura uma nova fase na obra de Barrão”. Ele destaca ainda que a alusão do artista à Praça do Comércio, e devido ao fato de a Casa França-Brasil ter sido quatro anos mais tarde a primeira Alfândega, porta de entrada de pessoas de vários povos, “se conecta com a atual crise política que envolve os imigrantes na Europa, remetendo à pergunta para onde a humanidade vai caminhar”. “O trabalho do Barrão é trazer a união de diferenças, uma questão presente na contemporaneidade. Este estranhamento do Barrão não é tão distante do mundo atual, do ponto de vista intuitivo, metafórico”, afirma.

SOMOS TODOS IMIGRANTES

Barrão argumenta que “todos nós estamos virando imigrantes”. “Não nos reconhecemos em nossas cidades, em nosso bairro. Isto é mundial, com o ritmo de trabalho, de vida. Não pertencemos mais aos lugares. A saída é encontrar maneiras diferentes para existir e se relacionar, neste processo mecânico em que vivemos”, afirma.

Para ele, o resultado do trabalho lhe pareceu “mais sóbrio”, pois as obras “são mais sintetizadas, menos exageradas” dos que as anteriormente feitas em louças, “que têm muitos pedaços”. E a cor branca “é muito vibrante”.

No uso do gesso, o artista precisou descobrir soluções para unir duas ou mais peças naquele material frágil, e assim construir seus corpos híbridos. Foram meses de trabalho em seu ateliê na antiga fábrica Bhering, e, em um outro galpão, para as esculturas de maior porte, com quase três metros de altura. As esculturas foram feitas a partir de moldes de garrafas de água sanitária, baldes plásticos, aparelhos de som, livros, eletrodomésticos, até alimentos, como o milho. Barrão chama atenção para o fato de que ao serem todos unificados em gesso, os objetos perdem sua função original, e são totalmente deslocados, perdendo ainda sua aparência original, como a transparência, o brilho ou a maleabilidade. “Deixam de funcionar”, destaca.

PERCURSO DA EXPOSIÇÃO

Na barraca que ocupará o centro do grande salão da Casa França-Brasil, as pequenas esculturas estarão dispostas em mesas e prateleiras de vidro, que também se deslocarão para fora da instalação.
Em torno desta instalação, ocupando todo o perímetro, estarão mais quatro conjuntos de obras, todos em gesso ou resina: logo à entrada, o público verá um conjunto de quinze cavalinhos formando um trajeto em ziguezague; ao fundo, uma coluna de 2,80 metros de altura, formada por doze pés de lavatórios empilhados; em uma das laterais, sugerindo um acampamento, garrafas, um rádio com antena formada por um galho, lanternas e ossos; na outra lateral, um pequeno muro demarcando o espaço; sobre uma base de galões de água, hastes com espelhos irão refletir uma peça com uma lâmpada fria; em outro canto, um corpo de cachorro sentado, sem a cabeça, estará ligado a uma coluna de sete vasos e jarros empilhados de 2,80 metros de altura.

SOBRE ARTISTA E CRÍTICO

Barrão, atuante desde 1983, realizou diversas exposições no Brasil e no exterior, como as individuais “Mashups” (2012), no Aldrich Museum, em Ridgefield, EUA; “Natureza Morta, Próximo Futuro” (2010), na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; e as coletivas “A Mão Negativa” (2015), Escola de Artes Visuais, Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil; “Duplo Olhar, um recorte da Coleção Sergio Carvalho” (2014), Paço das Artes, São Paulo; “Vestígios de Brasilidades”, Centro Cultural Santander, Recife, “Gigante por la Propia Naturaleza”. no Instituto no IVAM (Institute Valencià d'Art Modern), em 2011; “Arte Pará” (2010), Fundação Rômulo Maiorana, Belém do Pará; “Panorama da Arte Brasileira”, MAM SP, São Paulo, Brasil, “Contraditório”, Alcalá, Madri, em 2007.

Felipe Scovino é professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi curador de várias exposições, no Brasil e no exterior. Escreveu ensaios sobre arte contemporânea para as revistas Art Review, Dardo Magazine, Flash Art, L’Officiel Art, Third Text, Arte & Ensaios, Concinnitas, Das Artes, Santa Art Magazine, Tatuí e ZUM. Recebeu a Bolsa de Estímulo à Produção Crítica (Minc/Funarte) em 2008. Em 2012 participou como convidado do programa de intercâmbio Young Curators Invitational (YCI) em Paris. Em 2014 foi curador residente no Residency Unlimited em Nova York. Foi professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage entre 2011 e 2013.

Posted by Patricia Canetti at 12:17 PM