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setembro 27, 2015
José Patrício na Nara Roesler, Rio de Janeiro
AGENDA RJ Hoje 01/10 às 19-22h: José Patrício @ Nara Roesler http://bit.ly/N-Roesler-Rio_J-Patricio >>> O artista...
Posted by Canal Contemporâneo on Quinta, 1 de outubro de 2015
José Patrício apresenta coletânea de trabalhos produzidos nos últimos dez anos, trazendo como novidade formatos menores na exibição de variações geométricas que criam grafismos
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O pernambucano José Patrício faz sua exposição de estreia na Galeria Nara Roesler do Rio de Janeiro a partir do dia 1º de outubro, trazendo uma coletânea de uma série e oito trabalhos produzidos nos últimos dez anos, com seleção e texto de parede de Felipe Scovino. No conjunto, trabalhos de técnicas variadas trazem como eixo comum o uso de padrões geométricos na composição de grafismos com materiais cotidianos, muitas vezes descartados ou não valorizados, como botões, lápis de papel, pregos e os dominós e dados que já se tornaram marca registrada do artista.
Uma novidade são obras de dimensões mais reduzidas que, por exemplo, na última exposição realizada na Galeria Nara Roesler de São Paulo, Afinidades Cromáticas (2014), em que todos os trabalhos tinham as dimensões de 155,5 x 160,5 cm.
Um novo trabalho dessa série, Afinidades Cromáticas - Dourados (2015), é o carro-chefe da mostra. Com uma infinidade de botões dourados nos mais variados formatos bordados sobre um fundo de tom terroso, lembrando ouro velho, o trabalho recente aproveitou a sobra dos botões dourados, que não foram usados nas peças da exposição do ano passado. Com a incidência de luz sobre os metais, a obra ganha um efeito brilhante impactante.
Obra Cega e Obra Cega II, ambas com 67 x 67 cm, também trazem um brilho que deve mudar com a ação do tempo. Sendo ambas superfícies quadradas de madeira recobertas com pregos de cobre e de latão, respectivamente, apresentam o brilho dos materiais metálicos em diferentes matizes, de acordo com sua idade. "Tanto o cobre quanto o latão se alteram com a ação do tempo, vão ganhando uma pátina, uma oxidação. Já há essa diferença entre os pregos: os mais novos são mais brihantes, os mais antigos já mostram pontos escurecidos. É um elemento que deve ser incorporado pela obra", declara José Patrício.
Com a colocação dos pregos muito próximos um ao outro, numa "precisão de arrumação", o efeito é o de uma superfície tátil, monótona e contínua. A diferença entre ambos os trabalhos é conferida pelas cabeças dos pregos: os de cobre tem cabeça mais achatada, enquanto os de latão tem cabeça mais arredondada.
Outra peça que compartilha o brilho, aqui sobre uma superfície prateada, é Espelho (2006/2014, edição de três exemplares + exemplar de exibição). Apesar de trabalhar com brilho, sua dimensão é a menor do grupo apresentado na mostra: 24 x 43,5 cm. São 6.274 peças de metal organizadas dentro de uma caixa de acrílico da mesma forma que as obras da série 112 Dominós, colocadas uma ao lado da outra em camadas sobrepostas. Pela formação de uma superfície lisa, cria-se uma reflexão das imagens como um espelho, daí seu nome. Mas a imagem refletida não é perfeita: pela fragmentação das peças que formam a superfície refletora, o que se vê é uma figura fragmentária projetada no plano prateado.
Catorze obras exibidas em um único conjunto trazem como base de composição os dominós. Dominós - Série Branca (2012/2015) é um grupo de pequenas placas de madeira de 32 x 32 cm cobertas com dominós pintados primeiramente com esmalte sintético, recoberto ainda com tinta automotiva. "Elas começaram a ser feitas há muito tempo atrás, em 2012, e ficaram no meu ateliê, então resolvi revitalizá-las com a tinta automotiva, que deu um novo brilho às obras, monocromáticas", conta Patrício.
O dominó também é matéria-prima de Superfície Ondulada em Branco II (2011), que cria um efeito de ondulação suave por meio da sobreposição e do desbaste da tinta em sua forma . Sobre uma superfície, os dominós de resina branca são aplicado de forma a ganharem inclinação alternada. Quando uma peça tem sua ponta esquerda elevada, a seguinte ganha elevação na ponta direita.
Essa alternância da colocação dos dominós já cria por si só uma ilusão de ondas sobre a superfície, ainda de forma mais geométrica, pelo formato retangular dos dominós. Para dar fluência ao ritmo visual ondulado, o artista aplicou esmalte acrílico branco em diagonais. "Depois do esmalte seco, passa-se uma lixa e cria-se a suavidade da ondulação. Em alguns casos, a peça perde sua marcação de dominó. Ficam apenas vestígios, resquícios do que a peça foi. Então é um processo que vai desbastando, revelando o que a tinta branca cobriu, e ao mesmo tempo apagando os números das peças", diz o artista.
Se os dominós surgem parcial ou totalmente recobertos pelo branco ou desbastados, os dados, componentes numéricos de forte qualidade visual lógica, têm na junção dos mesmos números de suas faces a formação de padronagens geométricas rítmicas. Essa é a forma compositiva da obra Mosaico (2014), um quadrado de 58,5 x 58,5 cm em que dados muito pequenos criam padrões visuais pela aglomeração dos números 3, 4 e 5.
Seguindo a ordenação de materiais por uma regra pré-estabelecida e seguida à risca para formar efeitos gráficos, duas obras da série Vanitas -- Vanitas - Notações em Campo Aleatório (2015, 52 x 52 cm) e Vanitas - Notações Ritmadas em Campo Aleatório (2015, 42 x 42 cm) -- retomam figuras de caveiras para lembrar o caráter perecível do homem. "As Vanitas (vaidades), expressões artísticas que ressaltam a finitude do ser humano, aglutinam tematicamente o primeiro conjunto de obras. Quando as pinturas vanitas se popularizaram, no século XVII, o mundo europeu passava pelo estremecimento de certezas detonado parcialmente pela acensão do Protestantismo. Os quadros apresentavam elementos que advertiam severamente sobre a brevidade da vida e a vanidade das riquezas e dos luxos terrenos, sendo quase que constante a presença da caveira ou mesmo do esqueleto inteiro. José Patricio transpõe esta discussão para a atualidade ao trabalhar a imagem da caveira (...)", segundo a curadora Cristiana Tejo.
Nada melhor que utilizar lápis de papel comprados já envelhecidos, desbotados, em uma papelaria para criar uma sequência rítmica intercalada por pequenas caveiras de cerâmica, componentes de bijuterias. Em ambas as obras, os lápis são arrumados em movimento de espiral de fora para dentro das superfícies quadradas em que são sobrepostos, cerrados em esquadria de 45 graus. A diferença da notação em campo aleatório comum para a ritmada é que na segunda as caveiras são dispostas no fim de cada lápis, enquanto na comum as caveiras são colocadas aleatoriamente, sem uma regra de ordenação.
Seguindo a mesma lógica organizacional em espiral, de fora para dentro, a obra Sete em Sete também usa botões como base cromática de composição de um esquema visual. Com botões todos do mesmo tipo, o que os diferencia são as sete cores dispostas em grupos de sete em sete botões sempre na mesma sequência, repetida novamente assim que completada. No fim do trabalho, todas as cores foram usadas sete vezes na padronagem.
Com esse apanhado abrangente e variado, José Patrício faz seu début na capital fluminense trazendo nas entrelinhas o elogio do comum como índice e registro da existência humana. Se em seus trabalhos a mão do artista dá lugar a elementos cotidianos, é para colocar em primeiro plano a coletividade, representada tanto no agrupamento das matérias-primas quanto na escolha desses elementos, resultantes do trabalho de tantas outras mãos. Pela junção de peças banais senão pela compreensão da técnica criada pelo homem para suas forjas, formam-se jogos de imagem completados pela figura do espectador, complementar ao artista.
José Patrício nasceu em 1960, em Recife, onde vive e trabalha. Participou de bienais como a 22ª Bienal de São Paulo (1994) e a 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em Porto Alegre (1994), ambas no Brasil; e a 8ª Bienal de Havana, Cuba (2003). Participações recentes em exposições coletivas incluem: Le Hors-Là (Usina Cultural, João Pessoa, Brasil, 2013); Art in Brazil (Palais des Beaux Arts, Bruxelas, Bélgica, 2011); e 50 anos de arte brasileira (Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil, 2009). Suas mais recentes mostras individuais são: A espiral e o labirinto (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2012); José Patrício: o número (Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil, 2010); e Expansão múltipla (Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2008). Suas obras fazem parte de coleções como a da Fondation Cartier pour L’Art Contemporain, Paris, França; Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, Recife, Brasil; Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Brasil; Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil; Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro / Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro, Brasil.
José Patrício presents a collection of work created in the past ten years, with the addition of smaller formats featuring graphisms geometric variations
Pernambuco state native José Patrício’s first show at Galeria Nara Roesler in Rio de Janeiro will open on October 1, featuring pieces from a series and eight individual works created over the past ten years, with selected and wall texts from Felipe Scovino. Artworks using assorted techniques share the use of geometric patterns that form graphisms, combined with commonplace materials often discarded or not given much thought, such as buttons, paper pencils, nails, as well as the dominoes and dice that have become the artist’s trademark.
A new addition to Patrício’s work are smaller-sized pieces than, for instance, the ones featured in his last show at Galeria Nara Roesler in São Paulo, Afinidades Cromáticas (Chromatic Affinities, 2014), where all of the works shown measured 155.5 x 160.5 cm.
A new piece from the series, Afinidades Cromáticas - Dourados (2015), is the highlight of the show, containing a myriad of golden buttons of all sizes embroidered on an earth-toned backdrop reminiscent of old gold. The recent work was built from scraps of golden buttons that didn’t make it into the pieces from last year’s show. As light shines down on the metals, the piece takes on a striking brilliance.
Obra Cega and Obra Cega II, both measuring 67 x 67 cm, boast a glossiness that should change with time. Both are square wood surfaces, respectively covered with copper and tin nails, and display the sheen of metal materials in different tones, depending on their age. "Both the copper and the tin change over time, they grow tarnished from oxidation. This difference between the nails is already there in the piece: the newer ones are shinier, the older ones have darker spots on them. This is an element that must be incorporated by the piece,” states José Patrício.
The nails are placed very close to each other, “precisely and neatly arranged,” creating the effect of a tactile, monotonous, continuous surface. What makes the pieces differ from one another is the heads of the nails: the copper ones are flatter and the tin ones are rounder.
Another piece with shine, this time over a silver-colored surface, is Espelho (2006/2014, three editions plus an exhibition copy). Although it works with brightness, it is the smallest of the artworks shown in the show: 24 x 43.5 cm. It’s made of 6,274 metal pieces arranged inside an acrylic box the same as the pieces in the 112 Dominós series, set side by side in superimposed layers. They form a smooth surface that reflects images like a mirror, hence the piece’s name. But the reflected image is not perfect: due to the fragmentation of the pieces that form the reflective surface, what one sees is a fragmentary picture projected upon the silver-colored sheet.
Fourteen pieces shown as a single set are built from dominoes. Dominós - Série Branca (2012/2015) is an assemblage of small wooden boards measuring 32 x 32 cm, covered with dominoes coated with synthetic enamel and then automotive paint. "They started being done long ago, in 2012, and they were just lying around in my studio, so I decided to revive them with automotive paint, and it gave these monochrome pieces a new sparkle,” says Patrício.
Dominoes are also the raw material for Superfície Ondulada em Branco II (2011), which creates a slight undulation effect through the juxtaposition and wearing out of the paint. The white resin dominoes are applied to a surface in alternating tilted position. One piece is elevated on the left side and the next one on the right.
In itself, the way the dominoes are arranged creates an illusion of waves upon the surface, but so far the shape is more geometrical, due to the rectangular shape of the dominoes. To make this undulated visual rhythm more flowing, the artist applied a diagonal coating of white acrylic enamel. "After the enamel dries, I sand it to make the undulations smooth. Some of the pieces lose their domino markings. All that’s left is vestiges, traces of what the piece once was. So it’s a process of wear and tear that gradually reveals what the white paint had covered, and at the same time it erases the numbers from the pieces,” says the artist.
Whereas the dominoes are partially or fully covered in white enamel or sanded, the dice, numerical components with a strong logical visual quality, are placed next to each other to create rhythmic geometric patterns through the numbers on their sides. Such is the compositional form of the piece Mosaico (2014), a 58.5 x 58.5 cm square in which very small dice create visual patterns by agglomerating the numbers 3, 4 and 5.
With materials arranged following a preset rule that’s strictly adhered to, creating graphical effects, two of the pieces in the Vanitas series -- Vanitas - Notações em Campo Aleatório (2015, 52 x 52 cm) and Vanitas - Notações Ritmadas em Campo Aleatório (2015, 42 x 42 cm) – revisit skull images as reminders of man’s perishable nature. "The Vanitas (vanities), art expressions that underscore the finitude of the human being, tie together the first set of pieces thematically. When vanitas paintings first became popular, in the XVII century, the certainties of the European world were partly shaken by the rise of Protestantism. The paintings featured elements that were stern warnings about the brevity of life and the vanity of earth wealth and luxury, with skulls or entire skeletons a near-constant presence. José Patricio transposes this discussion to our days by working with the image of the skull (...)," according to the curator Cristiana Tejo.
Nothing better than to paper pencils that were bought worn out and faded from a stationery shop to create a rhythmic sequence interspersed with small ceramic skulls from costume jewelry. In both pieces, the pencils are laid out on top of each other in an outward spiral within square surfaces, enclosed in 45-degree wooden frames. The difference in notation between the regular random field and the rhythmic one is that in the latter, the skulls are placed at the end of each pencil, whereas in the regular one they are randomly placed in no particular order.
Following the same spiral organizational logic, this time inward, the piece Sete em Sete also uses buttons as the chromatic basis for composing a visual scheme. The buttons are all of the same type, and what differentiates them are the seven colors, arranged into repeating groups of seven buttons, always in the same sequence. At the end of the piece, each color has been used seven times in the patterning.
With this broad, varied selection, José Patrício debuts in Rio de Janeiro, and between the lines he praises commonplace things as an index and register of human existence. If, in his work, the artist’s hand gives way to commonplace elements, it does so to bring to the foreground the collectiveness represented both by how raw materials are brought together and by their very choice, since they are the outcome of labor from so many other hands. The combination of ordinary pieces, rather than the comprehension of the forging techniques created by man, creates image games to be completed by the figure of the spectator, which complements the artist’s.