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setembro 18, 2015
Sonia Guggisberg na Rabieh, São Paulo
Conhecida por abordar poeticamente, em diversas mídias e suportes, tensões entre unidades dicotômicas como movimento e imobilidade ou ação e constrição das possibilidades do agir, Sonia Guggisberg apresenta entre 24 de setembro e 21 de outubro a sua primeira individual na Galeria Rabieh, intitulada Em TRânsito. A artista foi contemplada com o Prêmio Brasil de Fotografia (Porto Seguro), na categoria Ensaio, em 2014, e possui obras no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, SESC SP, Instituto Figueiredo Ferraz e Museu Lasar Segal, entre outros.
Com curadoria de Priscila Arantes, a exposição é composta de fotografias e vídeos que documentam trânsitos de viagem. Não se trata, no entanto, de registros tradicionais. As obras expostas configuram-se como movimentos que borram o passado no presente, pontuando detalhes de realidades encontradas. As imagens absorvem a temporalidade da memória, esse lugar fora do tempo, entre o outrora e o agora, em uma investigação sobre os limites da imagem contemporânea na elaboração de memórias fluidas. Trata-se de propor um olhar sobre velocidades, fluxos e dimensões.
A exposição ocupa três diferentes áreas da Galeria. O primeiro espaço expositivo é preenchido por um vídeo e uma série de fotografias em papel algodão, ambos realizados com iPhone em uma travessia entre Suíça e Alemanha em 2015. São paisagens etéreas, cobertas por brumas, em que parece haver um apagamento natural dos contornos do mundo; à medida em que as imagens perdem definição, porém, ganham densidade, como se a neblina fosse capaz de conferir materialidade ao bidimensional. Nessas fotos, o horizonte, essa linha definidora do gênero paisagem, desvanece em meio a tons de cinza, lembrando a própria nebulosidade da memória.
O segundo espaço expositivo funde-se ao jardim, que será coberto e ocupado pela instalação “Horizonte móvel”, de 2012, constituída por três projeções em grandes dimensões. São ondas gigantes, movimentos maciços de água das Cataratas do Niágara que, devido a seu grande volume, jamais chegam a quebrar, mantendo como que uma mobilidade suspensa, uma tensão constante.
O terceiro espaço é ocupado por duas obras distintas. A primeira, a instalação de vídeos e fotos “Imagens cruzadas”, de 2015 corta toda uma longa parede. Este trabalho é um desdobramento direto de sua individual em Nova York, apresentada no início deste ano na MediaNoche New Media Gallery and Digital Film Studio, composta por uma grande videoinstalação em que as imagens captadas em uma viagem de trem foram editadas em linhas horizontais que se entrecruzam em velocidades e movimentos diferentes. Para a exposição na Rabieh, os vídeos mesclam-se a frames, montados em metacrilato, confundindo a percepção do que é estático e daquilo que se move. As imagens borram temporalidades ao se desmanchar no movimento e assumem tanto as realidades captadas pela câmera como os recortes poéticos e as manipulações tecnológicas. A imagem transcende o caráter de documento ao negociar entre o fato bruto e as representações construídas pela artista.
Por fim, temos a obra “Barco”, de 2011, um díptico composto por dois vídeos da mesma embarcação, centralizada no quadro. No primeiro, a imagem está congelada, enquanto no segundo, apesar de o barco estar com os motores ligados, uma forte correnteza o impede de se deslocar, criando uma espécie de “movimento parado”. Essa obra hipnótica e potente pode ser entendida como síntese da pesquisa recente da artista acerca das tensões entre movimento e imobilidade, ação e inação.
Sobre o Artista
Sonia Guggisberg (São Paulo, SP, 1964) vive e trabalha em São Paulo. Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Mestre em Artes pela Universidade Federal de Campinas, Guggisberg atua como artista, videomaker e pesquisadora, participando de mostras coletivas e individuais, palestras e workshops no Brasil e no exterior desde a década de 1990. Entre 2007 e 2013, dedicou-se ao projeto (I)mobilidade, onde nadadores têm seus movimentos de alguma forma confinados. O resultado foi uma série de videoinstalações que provocam um visível estado de pressão emocional pela oposição entre deslocar-se ou não deslocar-se. Este foi o ponto de partida para iniciar uma reflexão sobre a clausura social e o caos urbano. Hoje, dedica-se à pesquisa sobre o redesenhar das cidade e de suas identidades. Trabalha com fotografia, site specific, instalação audiovisual e documentário experimental. Já realizou dezenas de exposições individuais e, além do Brasil, seus trabalhos foram exibidos nos Estados Unidos, Alemanha, México, Colômbia, Espanha e França. Possui obras no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, SESC SP, Instituto Figueiredo Ferraz e Museu Lasar Segal, entre outros. Em 2014, foi contemplada com o Prêmio Brasil de Fotografia (Porto Seguro), na categoria Ensaio.