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agosto 5, 2015
Vera Chaves Barcellos na Bolsa de Arte, São Paulo
Obras realizadas desde a década de 1970 estarão presentes na exposição, que segue até 12 de setembro na galeria localizada na Vila Madalena
A artista gaúcha Vera Chaves Barcellos abre no dia 8 de agosto, a partir das 13h, na Galeria Bolsa de Arte, a exposição Fata Morgana ou A Imagem Transformada. Trata-se de uma mostra que apresenta diversas fases de sua carreira, com curadoria de Ana Albani de Carvalho. Nela serão apresentados cerca de 12 trabalhos que compreendem diversos momentos de sua produção, em sua maioria fotografias, e a série Fata Morgana (2014), nas quais fotografias digitais aparecem divididas em quadros menores, com alguns dos quadros sobrepostos a partir de detalhes de um todo maior, de modo a reconfigurar e questionar a imagem original.
Vera Chaves Barcellos nasceu em Porto Alegre em 1938, mas passou uma longa temporada na Europa nos anos 1960 e, nas últimas décadas, se dividiu entre o Brasil e Barcelona. Embora tenha iniciado seu trabalho em outros suportes – na década de 60 a artista se dedicou à pintura e a gravuras abstratas, Vera trabalha hoje majoritariamente com fotos, vídeos e instalações.
A artista diz que a fotografia foi decisiva dentro de seu percurso artístico. “Só encontrei mesmo meus caminhos depois que passei a fazer fotografia e educar o meu olhar através da fotografia”, disse em entrevista à curadora Glória Ferreira. Em 1975, a artista estudou no Croydon College of Art and Technology, graças a uma bolsa do British Council, e ali pode aperfeiçoar seus conhecimentos de fotografia e técnicas gráficas.
Na galeria Bolsa de Arte, Vera apresenta 11 séries fotográficas de distintos momentos de sua carreira. Entre elas estará presente o emblemático trabalho “Epidermic Scapes”, de 1977, série de fotografias em preto e branco que foram feitas a partir de impressões de fragmentos da pele do corpo humano sobre papel vegetal – na exposição da galeria haverá seis delas -, “On Ice”, registro da performance de Flavio Pons e Cláudio Goulart, realizada na superfície congelada de um lago em Amsterdã, em 1978.
O trabalho de Vera Chaves Barcellos sempre trouxe reflexões sobre a natureza da imagem e a crítica à ideia de representação na contemporaneidade. Como escreveu Moacir dos Anjos no catálogo da exposição “O Grão da Imagem”(ocorrida no Santander Cultural, em Porto Alegre, em 2007): “Em diversos momentos de sua trajetória, a artista parece afirmar que, em um ambiente dominado pela cultura da informação e pela excessiva circulação de imagens, não há mais como representar a realidade”. E completa: “Abstendo-se de celebrar ou contestar tal estado de coisas, Vera Chaves Barcellos opta por investigar criticamente suas consequências para a afirmação de identidades”.
Entre outras das séries que estarão na Galeria Bolsa de Arte a partir de 8 de agosto estão, da década de 90, “Sudários” e “A Filha de Godiva”, impressão de digital a partir de imagem fotográfica e radiologia e, da produção a partir de 2012, "Fata Morgana - Fragmentos" e "Mulheres do Mundo".
Embora a temática do trabalho de Vera traga questões complexas sobre as poéticas visuais do mundo contemporâneo, uma das características de seu trabalho é o humor, algo que pode ser percebido em trabalhos como “O Estranho Desaparecimento de Vera Chaves Barcellos” (1977/2014). Nele, Vera aparece em frente e, depois, atrás de um sino, a partir de edições que a artista fez com uma foto realizada em um museu no interior da Itália. Um procedimento que, de certa maneira, lembra os gifs contemporâneos disseminados pela internet.
Fundação Vera Chaves Barcellos
A artista sempre se destacou não somente pela sua atuação como criadora, mas como agitadora cultural. Colecionadora e galerista já foram alguns dos papéis que Vera ocupou e ainda ocupa dentro do cenário gaúcho e brasileiro – Vera foi fundadora do grupo Nervo Óptico (1976-1978), que deu origem a uma publicação, do Espaço N.O. (1979-1982) e também da galeria Obra Aberta (1999-2002), que abrigou mostras de artistas do quilate de Karin Lambrecht, Begoña Egurbide, Antoni Muntadas, Lia Menna Barreto e Lucia Koch, entre outros.
Há dez anos, sua atuação ganhou um novo foco: Vera é diretora da Fundação Vera Chaves Barcellos, em Porto Alegre, na cidade de Viamão, que fica a 45 km de Porto Alegre, juntamente com seu marido, o artista chileno Patrício Farias É lá que, em meio a pomares e uma importante área verde a artista admistra esta instituição cultural privada, sem fins lucrativos, que tem como objetivo a preservação, a pesquisa e difusão de sua obra e da criação artística, bem como do debate em torno da arte contemporânea. A fundação, que se iniciou a partir da produção e coleção pessoal de Vera, hoje possui um acervo constituído por duas coleções, uma delas totalmente dedicada às obras de artistas consagrados e da produção contemporânea emergente.
Entre os artistas que integram a coleção, Sean Scully, Bob Wilson, Iole de Freitas, Joan Fontcuberta,Leon Ferrari, Lygia Clark, Nelson Leirner, Rosângela Rennó, Sol LeWit, Vik Muniz e Waltercio Caldas são alguns dos nomes que fazem parte do acervo em expansão que já é um dos mais importantes acervos de arte contemporânea da região sul do país. A fundação realiza ainda um importante trabalho educativo com alunos e professores das escolas da cidade de Porto Alegre e entorno.
Vera, além de ter participado da Bienal de Veneza, já fez parte da Bienal de São Paulo em quatro edições diferentes. Em 2009, expôs no Masp a individual “Imagens em Migração”, um panorama com 96 obras. Há pouco mais de um mês encerrou a individual “Enigmas”, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica e, com a obra On Ice, integra a coletiva A Mão Negativa, no Parque Lage, também no Rio de Janeiro.
Vera Chaves Barcellos nasceu em Porto Alegre, RS, Brasil, 1938. Com formação inicial em música, a artista decide cursar artes plásticas no Instituto de Belas-Artes, em Porto Alegre no final da década de 1950. Nos anos 1960 dedicou-se à gravura depois de estudos na Inglaterra e Holanda. Em 1975 aprofundou seu conhecimento em técnicas gráficas e fotografia, com bolsa do British Council, no Croydon College, em Londres. Em 1976 fez parte da representação do Brasil na Bienal de Veneza com o trabalho Testarte. Desde os anos 1970 tem atuado na animação cultural em Porto Alegre figurando entre os fundadores do Nervo Óptico (1976-1978), do Espaço N.O. (1979-1982) e também da galeria Obra Aberta (1999-2002). Em 2005, instituiu a Fundação dedicada à arte contemporânea que leva seu nome e a qual preside desde então.
Realizou inúmeras exposições individuais no Brasil e no exterior. Participou de quatro Bienais de SP e exposições coletivas na América Latina, Alemanha, Bélgica, Coréia, França, Holanda, Inglaterra, Japão, Estados Unidos e Austrália. Desde a década de oitenta realiza instalações multimídia, empregando, além da fotografia, muitos outros meios. Como artista convidada participou da exposição Cegueses no Museu de Arte de Girona, Espanha, do Panorama de Arte Brasileira em São Paulo (1997), do Salão Nacional do RJ e da exposição Pasaje de Ida, na Galeria Antonio de Barnola, Barcelona, de Território Expandido no Sesc Pompéia, SP (2000) e Sem Fronteiras, mostra de abertura do Santander Cultural, em Porto Alegre (2001). Entre suas exposições individuais nos últimos anos estão: Enigmas, FVCB, Porto Alegre (2005), O Grão da Imagem, no Santander Cultural, Porto Alegre(2007), e Imagens em Migração(2009), no MASP, SP, que lhe rendeu um prêmio da Associação de Críticos de São Paulo. Realizou a instalação Per gli Ucelli, no Octógono da Pinacoteca do Estado, São Paulo (2010), e a mostra Per gli Ucelli: Derivas, na Bolsa de Arte em Porto Alegre (2011).
Participou da V Bienal de Artes Visuais do Mercosul (2005) e da mostra MAM na Oca, Arte Brasileira do Acervo do MAM SP (2006). Em 2007, foi agraciada com o Prêmio Joaquim Felizardo, em Artes Plásticas, Porto Alegre, RS. Ainda em 2007 fez parte da mostra Anos 70 – Arte como Questão, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Em 2008 participou da representação oficial brasileira na ARCO, Madri, Espanha. No mesmo ano expôs na Galeria Vermelho, SP, onde mostrou o trabalho Casasubu. Esta série fotográfica também foi exposta no Goethe Institut, em Porto Alegre, logo a seguir. Em 2008, O Grão da Imagem – uma Viagem pela Poética de Vera Chaves Barcellos recebeu o Prêmio de Melhor Exposição Individual, na segunda edição do Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, promovido pela SMC de Porto Alegre.
Teve editada a série fotográfica Per(so)nas, em 2012, por Ediciones Originales, Espanha. Em 2009 participou da mostra coletivaMultiples, junto com Peter Friedl e Carlos Pazos, com curadoria de Antonio Zuñiga, na galeria Palmadotze, Vilafranca Del Penedès, Barcelona, Espanha. Desde 1986 vive entre Barcelona e Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre. Há alguns anos possui também nacionalidade espanhola.
Em 2010, realizou a curadoria da exposição Silêncios e Sussurros, que inaugurou o espaço expositivo da FVCB: a Sala dos Pomares, em Viamão. Dividiu a curadoria com Ana Albani de Carvalho e Neiva Bohns na exposição Um ponto de Ironia, com Neiva Bohns na exposição Des|Estruturas e com Alexandre Dias Ramos na exposiçãoJulio Plaza -Construções Poéticas, ambas realizadas na Sala dos Pomares. Em 2013 volta a dividir a curadoria com Neiva Bohns na exposição Limites do Imaginário.