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julho 8, 2015
Edu Simões na Marcelo Guarnieri, São Paulo
AGENDA SP Amanhã 11/07 às 11h: Edu Simões @ Marcelo Guarnieri São Paulo http://bit.ly/MG-SP_EduSimoes
Posted by Canal Contemporâneo on Quinta, 9 de julho de 2015
Clichê / Rio, individual do fotógrafo Edu Simões, revisita os lugares comuns do Rio de Janeiro, transformando-os, a partir da inspiração na literatura de autores brasileiros. As 36 imagens que compõem a exposição foram produzidas entre os anos de 2000 a 2014 durante visitas pessoais e profissionais de Simões à cidade carioca.
Edu Simões - Clichê / Rio, Galeria Marcelo Guarnieri, São Paulo, SP - 13/07/2015 a 10/08/2015
Patrimônio do imaginário coletivo brasileiro, a cidade do Rio de Janeiro, que completou 450 anos em 2015, é, sem dúvida, um dos locais mais retratados por fotógrafos e turistas de todas as partes do mundo. Sejam os monumentos públicos – pensemos no Cristo Redentor, nos Arcos da Lapa – ou nas paisagens naturais, como o Corcovado e o Pão de Açúcar, a poética da “cidade maravilhosa” foi abordada, vista e revista, de diversas maneiras, de forma a privilegiar os cartões-postais que reiteram a vocação da cidade como cenário para a exuberância, os contrastes sociais e a perfeição da natureza como espelho do belo.
Ao revisitar espaços e endereços fotografados à exaustão na cidade, a exposição Clichê / Rio do fotógrafo paulistano Edu Simões propõe-se ao desafio de ressignificar estes clichês, lançando um novo olhar, a partir da inspiração do fotógrafo nos romances, contos, crônicas e poemas de grandes nomes da literatura brasileira. O resultado desta trajetória pelo desejo de sair do “lugar comum”, pode ser conferido na Galeria Marcelo Guarnieri, unidade Jardins-SP, a partir de 11 (convidados) e 13 de julho de 2015. A individual apresenta 36 imagens, todas em P&B, produzidas entre os anos de 2000 a 2014 durante as visitas pessoais e profissionais de Simões ao Rio.
Dentre os significados previstos no dicionário Aurélio para o verbete clichê, palavra de origem francesa (cliché), o primeiro deles afirma tratar-se de “placa gravada em relevo sobre metal, para a impressão de textos e imagens por meio de prensa tipográfica”, o que, segundo Edu Simões remeter-lhe-ia à infância e o seu primeiro contato com o universo profissional da imagem. As lembranças que ocupam a sua memória, são as visitas ao local de trabalho do pai – na época funcionário do jornal Folha de São Paulo -, e a admiração e curiosidade com os clichês em metal, responsáveis pela produção e impressão das páginas de notícias.
O último significado, habitualmente expresso quando nos referimos no cotidiano ao termo clichê, simplesmente indica a ideia de lugar-comum. Para este, Simões guarda uma relação afetiva com a cidade carioca, que complementa a sua visão crítica como fotógrafo; além de ter sido casado com mulheres naturais da cidade, foi no ano de 2000, a serviço do Caderno de Literatura do IMS (Instituto Moreira Salles), que o paulista começou a fotografar as belezas da antiga capital do Brasil. Partindo, como inspiração, das obras de consagrados escritores nacionais que abordaram a cidade como cenário de seus romances, contos, crônicas e poemas, Simões acumulou, ao longo destes anos, um acervo de mais de XX imagens, que verbalizam a procura de um Rio que não seja apenas um ideal de paisagem, mas uma personagem, uma arquitetura e uma nova possibilidade de encontrar as formas, a partir da incursão pelas letras e imaginários de nomes como Clarice Lispector, Carlos Heitor Cony, Rubem Braga, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e Millôr Fernandes.
“O Rio de Janeiro é uma das cidades mais fotografadas do mundo. Existe uma fórmula de se ver o Rio, por meio das alegorias do Carnaval, das praias, das belezas naturais. O meu desejo, nesta exposição, é mostrar outros espaços inimaginados, tendo como inspiração o que a literatura brasileira pode oferecer na busca por outras formas”, explica o fotógrafo Edu Simões, motivado pelo desafio de encarar de frente, segundo ele, aquilo que mais “assusta” um fotógrafo: o clichê.
UM OLHAR PARA AS LETRAS PELAS FORMAS
Com experiência no fotojornalismo desde 1976, Edu Simões, que trabalhou em veículos como a revista Istoé, presenciou os principais acontecimentos históricos, retratando importantes personalidades das últimas décadas do século XX. Foi no ano de 2001, a convite de uma publicação especializada em literatura, que recebeu a “missão” em revelar pela fotografia a cidade do Rio de Janeiro como personagem, a partir das escrituras de autores nacionais, como Clarice Lispector, Carlos Heitor Cony, Rubem Braga, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e Millôr Fernandes, que imortalizaram, de forma direta ou indireta, os cartões-postais, ruas, morros, praias e paisagens da cidade. Para isto, o fotógrafo lia toda a obra do escritor, e roteirizava o que aparecia naquela obra literária. Com o mapa traçado, Simões saía, como um flâneur, em busca do inesperado daquele local, que, quase sempre, já havia sido retratado por outros artistas da imagem.
A beleza da busca do impensado neste encontro entre a fotografia e a literatura evidencia-se, por exemplo, nas imagens dedicadas ao mineiro Carlos Drummond de Andrade, no ano de 2012. A praia de Copacabana, bairro onde residiu o poeta e escritor, ganha contornos modernistas, no qual a preocupação é o rigor geométrico, evidenciado pela perspectiva das linhas quadradas de uma trave de futebol na areia da praia, ou, ainda, na arquitetura do hall do Palácio de Capanema, antiga sede do Ministério da Educação, local em que Drummond trabalhou, bem como serviu de cenário a alguns de seus contos e crônicas.
Uma passagem de “O Búfalo”, conto de Clarice Lispector, descreve o peso natural do corpo de um elefante e o contraste de sua docilidade ao se deixar ser conduzido para um circo. Na poética visual de Edu Simões, o trecho transforma-se na imagem de uma tromba de elefante apoiada num muro branco no Jardim Zoológico da Quinta da Boa Vista. Num outro sentido de “animalidade”, desta vez artificial, a imagem “O Cisne” (2000/2001), mostra uma Lagoa Rodrigo de Freitas, presente nas crônicas de Carlos Heitor Cony, como o cenário de um filme noir; ao invés de destacar as águas envolvendo as ruas do bairro, Simões opta por colocar em primeiro plano a estrutura de um pedalo de cisne e todos os seus detalhes.
O mergulhar na literatura destes escritores como inspiração para a fotografia valoriza alguns temas recorrentes no trabalho de pesquisa de Edu Simões, tais como a opção pelo quadrado, ao invés da tão utilizada forma retangular, bem como a direção das tensões presentes em suas imagens, as quais percebe-se convergindo-se das pontas rumo ao centro da obra, e a busca por signos emblemáticos para a identidade do Brasil. Ao retratar os roteiros geográficos de cada autor, Simões desvela não apenas lugares como a Central do Brasil, Aterro do Flamengo, Catete, Cosme Velho, Corcovado, Urca, Parque Lage, Pão de Açúcar, entre outros, mas possibilita – ao leitor/ observador – que essas imagens recriem, à maneira das potências e da grandiosidade da literatura e da fotografia, novamente, o imaginário de uma cidade que não cessa de evocar múltiplos sentidos e outras possibilidades poéticas; transforma o Rio num convite, ou mero pré-texto, para que saiamos de lugares comuns, a partir da beleza daquilo que não se esgota: a forma transmutada da letra para a imagem na sua relação com o olhar.
Edu Simões (São Paulo, 1956) iniciou sua carreira como fotojornalista em 1976. Três anos mais tarde tornou-se um dos membros fundadores da agência F4, na qual permaneceu até 1982, ano em que passou a integrar a equipe da revista Istoé como editor-assistente de fotografia. Em 1988, começou a atuar como autônomo e foi editor de fotografia da revista Goodyear, na qual esteve até 1992. Deu início à série de ensaios fotográficos dos Cadernos de Literatura Brasileira, do Intituto Moreira Salles, em 1996. No ano seguinte, tornou-se editor de fotografia das revistas Bravo e República. Seu trabalho “Gastronomia para um dia de trabalho duro” foi exibido em 2011 no Fotorio e na Maison Européenne de la Photographie, em Paris. Foi contemplado com o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia 2012, Vladmir Herzog de Direitos Humanos, em 1980, o Prêmio ABERJE de Fotografia, em 1989, e o Prêmio ABRIL de Ensaio Fotográfico, em 1995. Suas obras integram os acervos da Coleção Pirelli/Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), do MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo), da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do MIS-SP (Museu da Imagem e do Som de São Paulo), do MAB-Faap (Museu de Arte Brasileira), da Coleção Mastercard e da Maison Européenne de la Photographie. Em 2012 publicou o livro Amazônia, pela editora Terra Virgem. Em junho de 2013 apresenta o trabalho “Eu tenho um sonho”, exposição a céu aberto na Favela da Rocinha. (www.eutenhoumsonho.org)