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junho 23, 2015
Christian Rosa na White Cube, São Paulo
A história do artista plástico Christian Rosa é a de um outsider. Nascido no Rio de Janeiro, aos sete anos de idade ele se viu obrigado a mudar com a família para a terra natal do padrasto, Viena, depois que o irmão mais velho foi vítima da violência urbana. Hoje, aos 32, ele se expressa melhor em alemão do que em português, mas ainda assim se considera mais carioca do que austríaco. Quando está no Brasil, porém, é visto como “o gringo alemão”. Em Los Angeles, para onde se mudou e mantém ateliê, é tratado como europeu, apesar do inglês fluente. Essa eterna sensação de deslocamento e não-pertencimento, que o coloca num contínuo e metafórico jogo de espelhos, moldou-lhe a personalidade e constitui a tônica de sua obra, que será vista pela primeira vez no Brasil a partir do dia 1 de julho, na White Cube São Paulo, com a inauguração da mostra Mais que nada – More than nothing, série de pinturas que ele produziu no país, inspirado no desordenamento visual da capital paulista.
As pinturas abstratas de Christian Rosa, esparsas e elegantes, expressam uma energia cinética onde tudo está em fluxo. Construída a partir de imagens, formas e marcas inseridas em meio a grandes extensões de tela crua, sua escrita automática remete tanto à linguagem do Surrealismo, especialmente a de Joan Miró (1893-1983), quanto às pinturas de Cy Twombly (1928-2011) e ao colorido de Wassily Kandisnky (1866-1944). No entanto, apesar das possíveis referências visuais, sua abordagem é altamente pessoal. Tudo é permeado, filtrado e reprocessado a partir das experiências e referências culturais dos países que o formaram, Brasil e Áustria.
O que se vê nas pinturas são elementos singulares, isolados na superfície da tela: linhas, quadrados e rabiscos infantis que agem como símbolos mnemônicos de uma conversa maior. Pontuadas por áreas de cor primária, suas imagens podem sugerir coisas reconhecíveis, tais como estradas, prédios ou até mesmo rostos; marcas que criam uma figuração emergente e desconfortável através de sua justaposição imediata. A pintura de Rosa é guiada, conforme observou a curadora argentina baseada em Londres Gabriela Salgado, “pelo acaso e por uma confiança instintiva na energia contida em movimento físico e fracasso".
Seus quadros contêm os blocos de construção para uma narrativa pictórica mas também os métodos de sua desconstrução. Interferências mínimas em tinta e bastão a óleo, tinta spray, carvão, lápis, resina e pequenas pinceladas visíveis criam obras que dão a falsa aparência de improvisação. Entretanto, o artista mantém seus elementos cuidadosamente equilibrados em uma estudada tensão visual. Rosa aproveita as qualidades inerentes da textura dos materiais para criar pinturas ricas em camadas e profundidades e provocar respostas emotivas e subjetivas no espectador.
Com essa narrativa ao mesmo tempo vigorosa e desconcertante, o artista se tornou uma estrela em rápida ascensão no mercado internacional. Formado em 2012 pela Academia de Belas Artes de Viena, nos anos seguintes realizou duas exposições na White Cube de Londres, participou de individuais na Itália e Alemanha e integrou coletivas em Nova Iorque e na Bienal de Veneza. Como produz poucas obras por ano, há uma longa fila de colecionadores em todo o mundo à espera de seus trabalhos. Uma carreira promissora para quem nunca pensou em arte e sonhava apenas em se tornar um atleta.
Logo que se mudou para Viena, Rosa começou a praticar esportes. Aos 18 anos, após sofrer um acidente que quase o deixou paralítico, abandonou o skate e começou a se arriscar com a máquina fotográfica. Tornou-se um bem sucedido fotógrafo de moda. Aos 22, influenciado por amigos, decidiu começar a ter aulas de pinturas. Foi aceito na Academia de Belas Artes porque o professor desejava um aluno que não soubesse sequer desenhar. “Eu era uma tela em branco”, resume o artista, que embora reconheça uma vaga semelhança visual com o trabalho de Cy Twombly, rechaça a comparação: “O resultado pode até lembrar, mas o trabalho de Twombly é baseado em método; o meu, em erros. Sou influenciado pelo trabalho de amigos artistas, por grafites e referências urbanas, por meus sonhos e meus constantes deslocamentos. Essa angústia de estar em todos os lugares e em lugar nenhum.”