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abril 25, 2015
Manuela Costalima na Zipper, São Paulo
Em tempos de geolocalizadores utilizados à exaustão nas palmas das mãos, Manuela Costalima convida a uma reflexão sobre o lugar
Zip’Up: Manuela Costalima - Pedras errantes, Zipper Galeria, São Paulo, SP - 29/04/2015 a 30/05/2015
A obra da paulistana Manuela Costalima se pauta por uma investigação sobre o lugar, hoje não apenas um item de cartografia planificada mas sim um território prenhe de significações múltiplas no campo das artes visuais, em tempos de Google Street View e geolocalizadores utilizados à exaustão, na palma da mão. No entanto, sua abordagem poética por meio de variadas linguagens, como a fotografia e o objeto, não se liga a uma frieza de coleta de dados ‘tecnológicos’ e de interações forçadas, e sim a uma busca de humanização de procedimentos, abordagens e métodos de uso cotidiano que podem ser amplificados e dizer muito sobre nossos dias.
Por meio de múltiplos suportes, Manuela vem desenvolvendo uma pesquisa sobre o lugar e seu processo de significação pela experiência humana. A artista parte do conceito de lugar como espaço percorrido, que no percurso é apropriado e ganha significado. Um ponto do espaço a que se atribui um nome e uma memória é que assim se distingue de todos os outros. O caminhar é, para a artista, um instrumento de significação de espaços. O caminho, ele mesmo, um lugar.
Na entrada da galeria, o público se deparará com a presença da primeira obra, Gabião. Uma grande gaiola metálica repleta de pedras britadas. Uma pedra maior destaca-se desse conjunto, rompendo a trama metálica. Implantada na área externa da Zipper, a escultura pretende criar uma ponte entre o que está presente no espaço interno da galeria e seu tema: a cidade.
Gabião remete a uma experiência de espaço público e a uma tensão entre indivíduo e multidão. Seus elementos constituintes, pedra e metal relacionam-se diretamente à materialidade das ruas e sua simplicidade bruta. O rompimento da tela revela a presença de falhas e surpresas em sistemas e espaços criados pelo homem.
Em Geopantone, presente no interior da galeria, o espaço urbano é explorado em caminhadas virtuais. A partir da tela do seu computador, a artista captura cenas congeladas da cidade. Ao realizar uma aproximação máxima, através do zoom, ela transforma essas imagens em planos de cor. A repetição da ação traduz seu percurso virtual e o espaço urbano em uma escala cromática.
Como em uma escala Pantone, que contém o código correspondente a cada cor, junto à cada tonalidade da cidade estão as informações contidas na barra do navegador do Google Street View, indicando o endereço virtual daquele lugar. Geopantone propõe assim uma relação com São Paulo a partir de sua paleta de cor.
Na terceira e ultima obra em exposição, Wandering rocks, as vozes da cidade se materializam em cubos de concreto espalhados pelo espaço expositivo. Em cada um dos cubos estão gravadas as coordenadas geográficas do início e do fim de caminhos realizados em São Paulo em que a artista capta sons de vozes humanas. Os registros desses encontros no ambiente urbano estabelecem pontos dessa geografia que adquirem memória e que, por isso, passam a distinguir-se dos demais. Em conjunto, a instalação forma um grande fluxo de consciência da cidade, um mapeamento sonoro e geográfico, que convida o público a percorrer o espaço urbano a partir desses múltiplos estímulos.
O som que ecoa das caixas e preenche a sala não é um registro exato de cada caminho, mas uma reconstrução a partir da memória. Algumas coisas marcam, outras são esquecidas, e no ambiente permanece a essência de uma experiência de espaço público.
A artista contrapõe instrumentos de racionalização e controle - sistemas, grelhas e padrões - à experiência humana e discute os limites da proximidade e do pertencimento gerados por esses sistemas de matematização do espaço real e virtual. Assim, busca trazer significado àquilo que é frio e desprovido de identidade. Por meio dessa reconstrução afetiva dos espaços percorridos, apresenta uma cidade polifônica e singular.
Manuela CostaLima nasceu em 1983, em São Paulo, onde vive e trabalha. Formou-se em 2013, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP. Em 2012, participou de uma exposição coletiva na Casa Batló, em Barcelona. Em 2013 participou da 21ª Mostra do Programa Visualidade Nascente da Universidade de São Paulo com exposição coletiva no Centro Universitário Maria Antônia. Participou também de Roupa de Domingo – exposição do coletivo de fotografia companhia rapadura na Biblioteca Alceu de Amoroso Lima, em São Paulo, organizada pela galeria Central. Em 2014 a artista participou da exposição do coletivo Companhia Rapadura no Palácio das Artes de Belo Horizonte, do 46º SAC - Salão de arte contemporânea de Piracicaba e na Casa Cactus, São Paulo. A exposição O Duplo, foi sua primeira exposição individual, que aconteceu de novembro a dezembro de 2014, na Casa da Cultura de Paraty. PARAGENS - exposição individual da artista na Fundação Cultural BADESC, em Florianópolis, tem abertura prevista para Julho de 2015.
Isabella Lenzi (1986) vive e trabalha em São Paulo. Arquiteta formada pela FAU-USP e pela Universidade do Porto, Portugal, possui um MA, com especialização em fotografia, da Universitat Pompeu Fabra e da Elisava - Escola Superior de Disseny, Barcelona. Consultora Cultural do Consulado Geral de Portugal em São Paulo desde 2013, integrou até o início do ano o núcleo de programação da Associação Cultural Videobrasil, onde atua como editora e pesquisadora da PLATAFORMA:VB, ferramenta online de pesquisa e curadoria da instituição. Curadora da exposição LAMBE-LAMBE - Um retrato dos fotógrafos de rua na São Paulo dos Anos 70, que integra o Maio da Fotografia 2015 do Museu da Imagem e do Som de São Paulo - MIS. Em 2014 foi curadora das exposições Cartas de São Paulo – sobre a presença portuguesa na história da Bienal de São Paulo e desenho só desenho a - sós, individual do artista Fernando Lemos, ambas realizadas no Consulado Geral de Portugal em São Paulo. Foi assistente da curadoria dos Programas Públicos do 18o Festival de Arte Contemporânea Sesc Videobrasil, realizado no SESC Pompeia, além de assistente de curadoria de Eduardo Brandão na Galeria Vermelho, onde realizou diversas exposições, entre elas: Pelas bordas, de Carla Zaccagnini; Rio Corrente, da dupla Detanico Lain; Serpentes, de Carmela Gross; Imagens Claras x Ideias vagas, de Dora Longo Bahia, entre outras. Antes disso foi assistente do curador Agnaldo Farias na XI Bienal de Cuenca, Equador, e curadora da exposição La Lista de Sandra, realizada em Barcelona na galeria The Private Space.
Juliana Caffé (1983) vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Possui formação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP e especialização em Urbanismo e Meio Ambiente; e Arte, Crítica e Curadoria pela Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão da PUCSP. Integra a equipe de produção editorial da Associação Cultural Videobrasil. Foi assistente de produção editorial dos livros da exposição Memórias Inapagáveis, Caderno Sesc_Videobrasil 10: Usos da Memória e Videobrasil: três décadas de vídeo, arte, encontros e transformações. Integrou a equipe de produção para a seleção dos artistas do 19º Festival Sesc_Videobrasil. É Curadora Assistente da exposição LAMBE-LAMBE - Um retrato dos fotógrafos de rua na São Paulo dos Anos 70, que integra o Maio da Fotografia 2015 do Museu da Imagem e do Som de São Paulo - MIS.