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abril 25, 2015
Delson Uchôa na Zipper, São Paulo
Individual de Delson Uchôa marca seu retorno a São Paulo, onde não expõe há 5 anos, e o início de sua representação pela Zipper
Delson Uchôa - Belo em si, Zipper Galeria, São Paulo, SP - 29/04/2015 a 30/05/2015
A volta de Delson Uchôa (Maceió, Al, 1956) à cidade depois de cinco anos, agora artista representado pela Zipper, é comemorada com esta exposição que reúne cinco pinturas, duas esculturas e uma série de fotografias, todos trabalhos inéditos e recentes. O artista, que já participou 53ª Bienal de Veneza pelo pavilhão brasileiro, ficou reconhecido por suas pinturas monumentais que exaltam a cor e a luz da atmosfera de sua terra natal, construídas por muitas camadas que formam uma superfície contemporânea a partir de signos de raiz popular.
Nesta mostra, com curadoria de Paula Braga, autora também do texto do livro sobre o artista que será lançado no final da exposição, a maioria das obras - três das cinco pinturas, as esculturas e as fotos - discute a ideia da cultura em tempos de globalização. Os elementos que orientam a composição das peças são retirados de sombrinhas chinesas, produzidas em escalas que só os "made in China" podem alcançar. Segundo Braga, estas peças, numa espécie de mestiçagem expandida, colocam cores e padronagens decorativas na paisagem seca da caatinga alagoana. "Como as sombrinhas são assustadoramente baratas, produzidas às custas de baixíssimos salários e alto impacto ambiental, para além da superfície colorida, o belo da matéria chega a um discurso político", aponta a curadora.
Em seu texto para o livro, Braga chama atenção para a beleza dos padrões simétricos da pintura de Delson Uchôa, mas sugere ao espectador que vá além da beleza contida em sua superfície para alcançar o "belo em si". Ao retomar suas pinturas muito antigas, para continuá-las, ou capturar marcas da rotina da casa, vestígios da memória e do tempo, a curadora acrescenta a questão da autofagia na obra de Uchôa. Em uma de suas técnicas, o artista despeja resina transparente no chão de lajotas de barro, espera a secagem, pinta no chão por cima da resina seca, pisa naquele tapete inusitado, arrasta os móveis, varre, passa produtos de limpeza doméstica. A partir desta base e ao descascá-la, o artista acrescenta elementos, linhas, cores. "A pintura já foi chão ou toalha de mesa e antes ainda foi átomo do cerne do mundo", completa Braga.
A curadora destaca ainda a autofagia cultural, a forma como o artista olha para o espelho da arte nordestina popular, para os bordados, cestarias, cerâmicas marajoaras "e volta como um Ulisses para a origem virtuosa de tudo". Segundo Braga, a obra de Delson Uchôa tem várias camadas, materiais e significativas, peles sobrepostas, que podem ser levantadas e adentradas. "O belo expande-se para muitas dimensões, sai da parede para ocupar o espaço, a casa, a caatinga, a galeria, a discussão sobre arte nacional e economia global".
Delson Uchôa, nos anos 1980, já era conhecedor de história da arte, que estudava voraz e solitariamente em paralelo às demandas da faculdade de medicina, concluída em 1981. O convite de Marcos Lontra para apresentar uma obra na hoje famosa exposição do Parque Lage “Como vai você Geração 80?”, motivou-o a juntar o que lia na coleção “Gênios da Pintura” com as referências figurativas e geométricas da pintura popular, dos parques de diversão nordestinos e carrocerias de caminhão. Interessava-o a “estridência cultural e luminosa do nordeste”.
Em 2009, participou da 53ª Bienal de Veneza com seu trabalho extenso de pesquisa de cores. O artista tem obras em coleções de museus em todo o mundo. O Instituto Inhotim, por exemplo, abriga as maiores obras de sua carreira, sendo todas elas, de grandes dimensões. Para 2015, ele prevê exposições na China, Alemanha e no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR). Vive e trabalha em Maceió, onde se formou em Medicina no ano de 1981 e, paralelamente, iniciou seus estudos em pintura na Fundação Pierre Chalita. Dentre diversas exposições no Brasil e exterior, destacam-se: XX Bienal de Curitiba (Curitiba, 2013); 12th Cairo Bienalle (Egito, 2010); 10a. Bienal de la Habana (Cuba, 2009); 53ª Biennale di Venezia – Pavilhão Brasileiro (Itália, 2009); Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (Brasil, 2003); XXIV Bienal de São Paulo (Brasil, 1998); entre outras.
Paula Braga é professora na Universidade Federal do ABC, doutora em Filosofia pela USP e mestre em História da Arte pela University of Illinois. É autora de Hélio Oiticica, Singularidade, Multiplicidade (2013) e organizadora de Fios Soltos: a arte de Hélio Oiticica (2008), ambos pela editora Perspectiva. Além de ter colaborado com capítulos e artigos em várias outras publicações acadêmicas, escreve sobre arte contemporânea em revistas de divulgação como Art al Dia, PubliFolha, e foi colaboradora da Bravo.