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abril 8, 2015
Baravelli na Marcelo Guarnieri, São Paulo
Após passagens pelo Instituto Figueiredo Ferraz, e na unidade da Galeria Marcelo Guarnieri, em Ribeirão Preto, retrospectiva que contempla 50 anos da produção de Luiz Paulo Baravelli chega a São Paulo.
Aos 72 anos de idade e cinco décadas de intensa produção, Luiz Paulo Baravelli é um artista que ao método opta pelo distinto caminho da sensibilidade. Suas obras feitas de idas e vindas, como em “emaranhados”, dialogam com a arquitetura – seu campo de formação – com a figura do corpo feminino, a poesia de W. H. Auden, e, sobretudo, com o espírito de contestação – poética - que compõe o cenário de um possível pós-modernismo. Passado 50 anos de atividades, a Galeria Marcelo Guarnieri apresenta no próximo dia 11 de abril (sábado), 11h, retrospectiva da carreira do artista, na unidade de São Paulo. Durante o mês de março, outras duas exposições foram apresentadas na unidade da Galeria em Ribeiro Preto e no Instituto Figueiredo Ferraz (IFF).
Com caráter retrospectivo, as três exposições fazem justa homenagem ao artista que teve participação ativa num dos períodos mais férteis da arte nacional: os anos 70. Foi na cidade de São Paulo, como aluno e parceiro de Welley Duke Lee, que formou, ao lado de nomes proeminentes como Carlos Fajardo, Frederico Nasser e Jose Rezende, a Escola Brasil. Além da crítica à produção da época, destacavam a produção artística como experiência de ensino, reavaliando movimentos importantes e contemporâneos como a Pop Art e o Tropicalismo.
“Analisar os cinquenta anos de produção nos leva a reflexão sobre as mudanças globais ocorridas ao longo desse período, e, também, nos faz refletir sobre como esse conjunto de obras dialoga conosco no tempo presente”, conta o curador e marchand Marcelo Guarnieri, que teve o apuro de acompanhar todo o processo de criação e montagem das três exposições.
A ênfase da retrospectiva de São Paulo recai sobre o trabalho de pintura do mestre. Autoafirmando-se como um pintor, mesmo no trabalho das peças tridimensionais, a abordagem concilia as três dimensões com o pictórico. Para a individual de São Paulo, serão apresentadas 60 obras, entre 10 pinturas/recortes e 50 croquis e desenhos dos anos 60 até os dias atuais, que serviram de base para as respectivas obras expostas. Destas, 80 compuseram o acervo da retrospectiva no Instituo Figueiredo Ferraz (IFF), em Ribeirão Preto.
Trabalhando de madrugada em seu atelier – parando, apenas, quando o nosso dia começa – o recorte faz jus à fama de incansável artista que Baravelli carrega. Antes de produzir qualquer obra em relevo, executa vários esboços, croquis, e faz extensa pesquisa de materiais. Sua sensibilidade é a do tempo, incluindo aí a paciência de se “perder”, horas à fio, no labirinto da criação, no qual a forma e a vida não se separam. Suas obra é um testemunho que ultrapassa um começo e um fim, uma narrativa linear, para que possamos enxergar sinais de dentro, como a luz da noite.
“Para um visitante que não conheça meu trabalho esta exposição pode trazer uma perplexidade. A variedade do trabalho é enorme e, sem consultar as etiquetas, é difícil adivinhar as datas em que as obras foram feitas. Penso uma explicação que pode ser redutiva, mas serve para começar: lá atrás, no começo da década de 60 me propus a ter uma sensibilidade em vez de ter um método. Naquela época predominava aqui o concretismo, com suas regras, rigores e tabus. Visitando as exposições deles eu pensava: o que estas artistas fazem quando não estão pintando? Será que andam na rua, olham para as pessoas e as coisas? Por que isso não aparece no trabalho? Porque não enfrentam o mundo em sua riqueza e complexidade em vez de se confinar a uma clausura árida e metódica?”, reflete Baravelli sobre o seu trabalho.