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março 8, 2015
Katia Maciel na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Nesta exposição que reúne quatro videoinstalações, uma delas inteiramente inédita, a artista cria a atmosfera de um filme, em que a palavra “suspense” ganha vários significados.
A Escola de Artes Visuais do Parque Lage inaugura no próximo dia 23 de janeiro de 2015 a exposição Suspense, uma instalação-filme composta por quatro videoinstalações da artista carioca Katia Maciel, que serão apresentadas nas Cavalariças e na Capela contígua. Artista destacada no cenário de arte e tecnologia, nascida no Rio em 1963, Katia Maciel participa de diversas exposições no Brasil e no exterior, como a individual “Répétiton(s)”, realizada em 2014 na Maison Européenne de la Photographie, em Paris, com curadoria de Jean-Luc Soret. Autora de diversos livros e artigos, com dois PhD (University of Wales College, na Inglaterra, e na USP), é também coordenadora, junto com o professor André Parente, do Núcleo de Tecnologia da Imagem da ECO-UFRJ.
Com curadoria de Paula Alzugaray, estão na mostra na EAV Parque Lage as obras “Pista” (2015), “Verso” (2013), “Vulto” (2013) e “Uma árvore” (2009), que integram a pesquisa “Mulher perdida no paraíso envia pistas para a sua impossível localização”, iniciada pela artista em 2013. “Pesquiso as aproximações da ideia de cinema e seus processos experimentais na arte contemporânea”, explica a artista. Ela conta que “a experiência cinematográfica invade a proposta”, que traz “a terminologia do cinema”, como os nomes ‘Pista’ e ‘Vulto’. “Todos os trabalhos pertencem ao universo do cinema, e são conjuntos de indícios e pistas”, diz. Ela chama de “sinopse” um resumo da proposta narrativa presente na exposição, e convida o espectador a dar um mergulho nas ilusões e sensações que o cinema proporciona. Além de estar relacionado a um gênero cinematográfico, “Suspense” também significa “incerteza, ansiedade, suspensão, estados do corpo quando sujeito a situações inesperadas”, explica a artista. “Está também presente aos trabalhos na exposição relacionados ao corpo suspenso”.
IMENSO ESPELHO
Ao entrar na exposição, o espectador vê um imenso espelho, que reflete a imagem exterior às Cavalariças. Na verdade, uma câmara capta em tempo real o entorno das Cavalariças, que é projetado na grande parede central. A obra, interativa, se chama “Verso”, em alusão aos falsos espelhos utilizados em interrogatórios de filmes policiais.
Na parede do fundo da sala à esquerda está “Vulto”, destacada pela curadora como o eixo central do projeto de cinema expandido que a artista realiza. Nela, uma mulher de costas, amarrada pelos punhos a um tronco de árvore, balança indefinidamente de um lado para o outro. ”Este ‘Vulto’ confere um eixo rítmico ao entrecortado discurso cinematográfico em processo de Katia Maciel”, afirma a curadora Paula Alzugaray.
Na parede da direita está “Pista”, inédita e feita especialmente para a exposição, em que se vê a imagem de um tronco de árvore deitado no chão, que não para de se movimentar, em “um ‘traveling’ infinito, em que você vê os detalhes, sulcos, que também lembram estradas, em outro sentido da palavra pista”, explica a artista.
Na Capela está “Uma árvore”, filmada no Parque Lage, que mostra uma árvore que se movimenta em meio a uma floresta imóvel. O movimento da árvore foi editado pela artista como o fluxo de sua própria respiração.
Paula Alzugaray, no texto que acompanha a exposição, chama a atenção também para o fato de que “cada uma das quatro obras expostas espelha a realidade verde circundante” do Parque Lage. Ela observa que Katia Maciel “tem o ímpeto de devassar a espessura da floresta”. “Mas, diferentemente de seus antecessores expedicionários e artistas viajantes, não contempla nem ataca suas maravilhas. É capturada pela paisagem”. Ela ressalta ainda que “onde hoje está o Parque Lage, na pré-história do Rio de Janeiro, viveram os temíveis índios carajás, que tinham aversão ao olhar humano e o poder de se transformarem em onças. O mito conta que não havia selva mais escura que aquela onde viviam os carajás. Como medusas, devoravam quem quer que os encarasse. Era fatal enfrentá-los de olhos abertos”.
Katia Maciel conta pensa neste projeto como uma série de episódios, em que a cada capítulo irá acrescentar “uma pista” nova, um novo trabalho. As obras interagem uma com as outras, dando sinais para o visitante tentar desvendar o suspense que envolve a exposição. Cada videoinstalação projetada na parede funciona como se fosse um mapa.
SOBRE A ARTISTA
Katia Maciel nasceu no Rio de Janeiro em 1963. É artista, cineasta, curadora, escritora, pesquisadora do CNPq e professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1994. Em 2001, realizou o pós-doutorado em artes interativas na Universidade de Walles, na Inglaterra. Atualmente coordena o Núcleo de Tecnologia da Imagem (N-Imagem) da Universidade Federal do Rio de Janeiro em parceria com André Parente.
Realiza filmes, vídeos, instalações e participou de exposições no Brasil, na Colômbia, no Equador, no Chile, na Argentina, no México, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França, na Espanha, na Alemanha, na Lituânia, na Suécia e na China. Recebeu, entre outros, os prêmios: Prêmio da Caixa Cultural Brasília (2011), Funarte de Estímulo à Criação Artística em Artes Visuais (2010), Rumos Itaucultural (2009), Sérgio Motta (2005), Petrobrás Mídias digitais (2003), Transmídia Itaúcultural (2002), Artes Visuais Rioarte (2000).
Publicou, entre outros, os livros “Letícia Parente” (org. com André Parente 2011), “O Livro de Sombras” (org. com André Parente 2010), “O que se vê, o que é visto” (org. com Antonio Fatorelli 2009), “Transcinemas” (Contracapa 2009), “Cinema Sim” (Itaucultural 2008), “Brasil experimental: Guy Brett” (org 2005), “Redes sensoriais” (em parceria com André Parente, Contracapa 2003), “O pensamento de cinema no Brasil” (2000) e “A Arte da Desaparição: Jean Baudrillard” (org 1997).