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março 1, 2015
Jonathas de Andrade no MAR, Rio de Janeiro
O Museu de Arte do Rio – MAR apresenta a exposição Museu do Homem do Nordeste, um duplo da instituição homônima, localizada no Recife e fundada nos anos 70, cujas intenções sociais e antropológicas são saqueadas e reposicionadas pelo artista Jonathas de Andrade. O trabalho, as relações entre classes, a sexualidade, a cidade e a história são alguns dos temas de interesse do museu nordestino, e o projeto ambientado no MAR promove uma leitura analítica acerca do papel das instituições museológicas na produção de subjetividades de seus respectivos contextos.
Nesta exposição, o artista – alagoano radicado no Recife – reúne 18 obras suas (várias delas inéditas, concebidas especialmente para a mostra) e 74 peças da coleção Fundação Joaquim Nabuco (parte dos acervos do Centro de Estudos da História Brasileira – Cehibra e do Museu do Homem do Nordeste), da Fundação Gilberto Freyre e do Instituto Lula Cardoso Ayres. São instalações, vídeos, fotografias, pinturas, grafites, objetos e documentos que, articulados, tensionam os estereótipos de masculinidade e outras ideias pré-concebidas normalmente vinculadas à região que foi berço da colonização portuguesa no Brasil.
“O interesse de Jonathas de Andrade por questões da história e da experiência presente da cidade onde vive, o Recife, da região que geopoliticamente a circunscreve – o Nordeste – e, mais amplamente, pelo Brasil, pode confundir as leituras possíveis de sua obra. A reincidência de certos tópicos sociopolíticos que atravessam esses contextos pode fazer parecer que o artista tem o ‘local’ como tema, enquanto o mais significativo esforço de seu trabalho se dá em torno do ‘método’ – dos modos de relacionar, organizar e estabelecer sentido e valor que são culturalmente construídos e praticados. Mais instigante do que a tematização do lugar, a atenção aos modos que a partir dali se constituem – e, como tal, são recriados – percorre projetos diversos do artista, elaborando problematizações e estratégias singulares.” comenta Clarissa Diniz, que junto de Paulo Herkenhoff assina a curadoria da exposição.
A crítica ao estereótipo fica evidente em obras como a instalação Cartazes para Museu do Homem do Nordeste, que teve início a partir de anúncios publicados semanalmente nos classificados de um jornal popular do Recife, entre 2012 e 2013. A convocação era direcionada a trabalhadores interessados em posar da forma como se imaginavam representando a região. Cada encontro foi documentado em anotações e seis delas fazem parte da obra, composta por 77 cartazes que variam de acordo com a atmosfera de cada conversa – em uma construção da identidade baseada numa relação ambivalente, antropofágica e erotizante.
Para Herkenhoff, Jonathas de Andrade se move com um raro sentido crítico, político e intelectual. “Sua obra agencia a história como processo de emancipação social. Ele simboliza a relação de desconfiança de seus contemporâneos na democracia formal e, no entanto, assume a defesa do valor da igualdade. Jonathas conduz deambulações pelo urbanismo da modernidade e pela arquitetura do desejo, expondo jogos ideológicos entre Estado e interesses hegemônicos do capital", comenta o curador.
A exposição convida o público a vivenciar uma experiência diferente. O projeto expográfico, desenvolvido para despertar no visitante a sensação de estar vendo um museu dentro de outro, tira as obras da parede e as coloca em um mobiliário especialmente criado para a mostra. Museu do Homem do Nordeste ocupa totalmente o primeiro andar da instituição e fica em cartaz até 22 de março de 2015, integrando o projeto curatorial do MAR que tem como objetivo abrir espaço para artistas que vivem e têm sua produção focada fora do eixo Rio-São Paulo.