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novembro 29, 2014
Ana Linnemann na França-Brasil, Rio de Janeiro
A Casa França-Brasil, um espaço da Secretaria de Estado de Cultura, apresenta, a partir do dia 16 de dezembro de 2014, a obra “Cronoilógico”, um relógio-escultura criado pela artista Ana Linnemann especialmente para o frontispício da instituição. O projeto foi selecionado com louvor pelo edital Arte e Patrimônio 2013, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN), que tem como objetivo estabelecer relações entre arte contemporânea e patrimônio histórico. O texto crítico que acompanha a obra é de Fernando Cocchiarale.
“Cronoilógico” é um relógio que funciona normalmente, marcando a hora certa. Porém, seu mostrador também gira, na mesma direção e com a mesma velocidade do ponteiro dos segundos, uma rotação por minuto. Dessa maneira, o ponteiro parece estar sempre no mesmo lugar em relação ao mostrador. Assim, em “Cronoilógico”, os ponteiros das horas, minutos e segundos seguem o seu curso normal, mas, uma vez subvertida a função do mostrador, altera-se o quadro de referência e embaralha-se a lógica do nosso entendimento do tempo. “Que sensação de tempo temos ao observar o movimento dos ponteiros de um relógio cujo mostrador também se move? Se girarem na mesma direção, o ponteiro dos segundos vai parecer estar fixo em relação ao mostrador que se move na mesma velocidade.O que acontece então: o tempo não passa? E se o ponteiro girar em uma direção e o mostrador, na direção oposta: falamos de um tempo negativo?”, indaga a artista.
“Cronoilógico” foi desenhado pela artista seguindo as características arquitetônicas do prédio, de modo que, uma vez colocado no espaço, se mescla perfeitamente ao local, parecendo que sempre esteve ali. Para o desenvolvimento do projeto, ela contou com a colaboração de Flávio Martins, que foi assistente de seu pai, Milton Ribeiro de Jesus, figura de referência da tradição dos relógios públicos do Rio, envolvido na reforma e manutenção de vários ícones cariocas, como os relógios da Central do Brasil, da Glória, e da Câmara dos Vereadores. Uma empresa de Santa Catarina está produzindo o relógio que teve consultoria de design de Joaquim Redig.
Ana Linnemann observa que a Casa França-Brasil está abrigada em um “prédio referência do neoclássico, projetado por Grandjean de Montigny (1776-1850), e inserido em uma tradição arquitetônica carioca”. “Mas é neste espaço que são realizadas atividades de arte contemporânea, o que de uma certa forma desmonta esta tradição”. “O ‘Cronoilógico’ contém um relógio, objeto que também está inserido em uma tradição, e existe para controlar o tempo, entretanto seu funcionamento desconstrói esta noção”.
MÁQUINAS DE MEDIR O TEMPO
O projeto surgiu da observação feita pela artista dos diversos relógios espalhados pelo centro da cidade, nas fachadas de prédios e igrejas, gerando a pergunta: “E se entre essas máquinas de medir o tempo inseríssemos outras semelhantes, mas disfun-cionais, insubmissas, aludindo a um tempo não convencionado? Se, entre os relógios públicos do centro da cidade, fosse inserido um que se compor¬tasse de forma singular? Um relógio anônimo, ‘desanunciado’, insubmisso a qualquer cronologia?”. “No coração produtivo da cidade, onde cada minuto é maximizado em função de uma expectativa de desempenho, o passante está sempre em contato com o tempo: os relógios o acompanham em seus possíveis percursos pela área”.
A obra “Cronoilógico” faz parte de uma pesquisa da artista a partir de obras de peças públicas, iniciada em 2011, com a obra “Os Invisíveis no 8”, feita na orla de Ipanema, em frente à Casa de Cultura Laura Alvim. Ali, Ana Linnemann instalou uma palmeira, no meio de tantas outras já existentes, que, a cada minuto, realizava rotações sobre si mesma.
MESA REDONDA
No dia 31 de janeiro de 2015, às 17h, será realizada na Sala de Leitura uma mesa-redonda com a artista, o crítico de arte Fernando Cocchiarale e Ricardo Kubrusly, poeta, matemático e professor do HCTE/UFRJ.
Ana Linnemann é formada em Design pela PUC-RJ, é Mestre em Escultura pelo Pratt Institute, em NovaYork, onde residiu até 2006, e Doutora em Linguagens Visuais, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Dentre suas principais exposições individuais destacam-se: “Cartoon, parte 2”, no Centro Cultural Maria Antônia, em São Paulo, em 2012; “Cartoon”, na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, em 2011; “Bead Beat (Contas & Quiques)”, no MAM Rio, em 2007; “The World as an Orange”, no The Sculpture Center, In Practice Projects, Nova York, em 2004; “Pedras Bordadas/Espaços Vestidos”, no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, e “BeadBeat (Stroke)”, na White Box, em Nova York, ambas em 2001; entre outras.
Dentre suas principais exposições coletivas, destacam-se: “Prêmio Arte e Patrimônio/Paço Imperial”, no Rio de Janeiro; “Tatu”, no Museu de Arte do Rio de Janeiro; “Arte e Indústria, Prêmio SESI Marcantônio Vilaça”, no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, e “Bola na Rede”, na FUNARTE, em Brasília, ambas este ano. Também participou das mostras “O espelho Refletido”, no Centro Cultural Helio Oiticica, no Rio de Janeiro, em 2012; “Poéticas Expositivas”, nas Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, em 2011; “Multiple Choices: All of the Above”, no Oslo Kunstforening, na Noruega, e “A Poética da Percepção”, no MAM Rio, ambas em 2008; “O Museu como Lugar”, no Museu Imperial de Petrópolis, em 2007; “The Tread Unraveled/O Fio da Trama”, no MALBA, na Argentina, em 2002; “The Tread Unraveled/O Fio da Trama”, no Museo del Barrio, em Nova York, em 2001, entre outros.