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novembro 11, 2014
Joana Traub Csekö na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
Elegias Cariocas é a exposição que a artista visual Joana Traub Csekö apresenta na Luciana Caravello Arte Contemporânea, a partir do dia 13 de novembro. São fotos e objetos perpassados pela temática do urbano e da memória, tendo como pano de fundo a cidade do Rio de Janeiro. Ao conceber a exposição, Joana se perguntou quais seriam as cidades que moram na memória dos cariocas. “Quantas são as coisas e os lugares que lembramos, mas que não existem mais? O sapateiro, o quintal, os bondes, a mercearia, o açougue, o armarinho, aquela rua... O que havia antes daquele novo prédio que subiu, de um estacionamento ou da recém aberta farmácia?”, pergunta a artista.
A série “Passagens – Sobrados” abre a mostra no terceiro andar da galeria, reunindo fotos de sobrados do centro do Rio e imagens antigas que remetem a estas casas. As escadas dos sobrados trazem situações icônicas de passagem. A subida íngreme e dúbia que indicam – devemos arriscar ou não? – tem algo de íntimo com o Rio.
“Há muitas escadas assim no centro, rapidamente desparecendo com a célere gentrificação da malha urbana. Todo carioca sabe o que é um sobrado. Talvez não saiba defini-lo, mas se fecha os olhos e pensa num sobrado, logo vem a imagem clara à mente”, diz Joana.
Joana desenvolve a série “Passagens “ há quatro anos. Nela, trabalha com fotos próprias e imagens antigas apropriadas, criando sobreposições que misturam este acervo inédito ao de fotos escolhidas em feiras de antiguidades.
Um dos principais motores desta série é o fascínio que fotos antigas exercem. As fotos de passados anônimos, misturados, devolvidos ao limbo das feiras de antiguidades, trazem tanto vestígios de outros tempos-estratos da cidade quanto são fragmentos de uma grande ficção aleatória. Através dessas imagens é possível criar/resignificar passados e também torná-los parte do presente quando se elege imagens das pilhas de fotos avulsas arrancadas do álbum (ou seja, de seu contexto original) resgatando-as do olvido das imagens sem dono, sem família, sem narrativa...
Na segunda sala da exposição, a artista apresenta um novo desdobramento de seu trabalho, advindo da convivência com este manancial de imagens antigas: a série de objetos fotográficos intitulada “Vera Fotografia” – uma brincadeira com o dizer que aparece em versos de postais antigos, indicando que a imagem postal é uma impressão fotográfica, uma fotografia verdadeira.
Nesta nova série Joana usa fotos antigas originais e elementos oriundos da fotografia, como lentes ou a própria luz, para revelar detalhes/segredos escondidos nestas pequenas e enigmáticas imagens do passado. As fotos utilizadas para esta exposição foram adquiridas na feira da Praça XV e remetem, bem como os “Sobrados”, aos muitos passados do Rio.
Segundo a artista, “ao lidar com a matéria mesma das fotos antigas, puídas, quero que tragam sua presença de objetos investidos de tempo. Objetos de outras épocas que chegaram até nós e nos falam de coisas que não sabemos, ou talvez tenhamos esquecido... Objetos que ativam memórias, provocam associações, desencadeiam narrativas em aberto, a serem completadas pelo espectador atento e imaginativo. Imagens-segredo, que revelam algo além de seu índice.”