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outubro 16, 2014
Bárbara Wagner e Benjamin de Búrca na Sala Nordeste, Recife
'Edifício Recife' é uma mostra de arte e pesquisa iniciada por Bárbara Wagner e Benjamin de Búrca a partir da lei municipal 7427, que exige que todos os edifícios com mais de 1.000 m2 de área construída na cidade do Recife comissionem para sua entrada uma escultura a um artista pernambucano. Criada em 1961 por Abelardo da Hora, a lei foi responsável por uma proliferação de encomendas que ilustram as contradições da cidade: são públicas, porém restritas às grades dos condomínios; privilegiam artistas locais, mas pagam tributo a estrangeirismos; estão espalhadas em grande parte no perímetro urbano e, apesar de caírem no gosto da população, nem sempre têm representatividade ou vigor estético.
A primeira fase do projeto aborda o ecletismo dessas esculturas por meio de uma catalogação de fotografias e textos que acabam por testemunhar o processo de urbanização acelerada do Recife. Em 'Edifício Recife', cada uma das 66 imagens vem acompanhada do depoimento do porteiro dos edifícios, que não somente toma conta do prédio mas da 'obra de arte' da qual se torna o principal fruidor e especialista. Os fragmentos transcritos atestam o espanto desses conservadores amadores, na sua tentativa de elaborar um discurso para dar sentido a uma obra. Em geral uniformizados, esses personagens aparecem na série de retratos 'Porteiros' no interior do espaço constrito da portaria ou cabine de segurança, visíveis apenas através do vidro que os isola do ambiente externo ou pelas aberturas de comportas e janelas pelas quais observam o seu entorno.
A segunda fase da pesquisa trata da aplicação da lei nos dias de hoje. Como parte da programação, uma chamada aberta para o 'Concurso de esculturas para o Novo Recife' convida o público a submeter sugestões de esculturas para a fachada dos 12 prédios do maior empreendimento imobiliário a ser construído na cidade nos últimos anos. No espaço da exposição, tanto o edital do concurso como uma versão do Novo Recife criada pelo pedreiro, marceneiro e artista Antônio Paulo (Orobó, 1955) orientam os participantes a utilizar cadernos de desenho e deixarem suas contribuições.
Com atenção à estética da arquitetura renderizada aplicada ao contexto do Nordeste, a terceira fase da pesquisa observa a relação entre texto e imagem utilizada na promocão de projetos imobiliários ainda em construção na região Nordeste. Como uma video-colagem, 'Desenho/Canteiro' estuda o vocabulário de aparências e slogans empregados na venda de empreendimentos privados regidos pela lógica da exclusividade e da exclusão. Quando o desenho se torna mais visível do que o canteiro, a representação se impõe ao que é vivido, submetendo a experiência real ao espetáculo como nova forma de dominação.
SOBRE OS ARTISTAS
Bárbara Wagner (Brasília, 1980) e Benjamin de Búrca (Munique, 1975) fazem uso de narrativas documentais a fim de observar as diferentes relaçoes entre ‘tradiçao’ e ‘progresso’ em economias emergentes. Trabalhando em colaboraçao desde 2011, Wagner/de Búrca participaram do 33o. Panorama de Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna de São Paulo, da 4a. Bienal de Arte Contemporânea do Oceano Índico, da 36a. Bienal da Irlanda e do 6o. Festival de Arte Contemporânea da Letônia. Em 2014, Edifício Recife foi nomeado para o Berlin Art Prize. Vivem entre Recife e Berlim.