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setembro 1, 2014
Cristiano Lenhardt + Gabriel Lima + Rodrigo Cass no Galpão Fortes Vilaça, São Paulo
Temos o prazer de apresentar as exposições individuais de Cristiano Lenhardt, Gabriel Lima e Rodrigo Cass, que ocorrem simultaneamente no Galpão Fortes Vilaça, na Barra Funda. O amplo espaço do Galpão divide-se em três salas distintas nas quais Lenhardt, Lima e Cass apresentam projetos desenvolvidos especificamente para a ocasião; esta é a primeira exposição destes jovens artistas com a Galeria. As exposições são acompanhadas de um catálogo.
Cristiano Lenhardt
Cristiano Lenhardt trabalha com vídeos, fotografias, gravuras, esculturas e performances. Em todas essas práticas o artista revela uma atenção especial a novas formas de ativar as superfícies dos materiais que utiliza, seja através do uso de padronagens, de dobras ou de luz.
Litomorfose é uma série de três fotografias em que o artista aparece vestido com trajes escultóricos de papel. Xerocados a partir de cortes de rochas de um livro de arqueologia, esses papéis cobrem também o fundo da fotografia provocando um duplo efeito de camuflar os trajes e revelar partes digitalmente distorcidas do corpo.
Em Radiadores, seis radiadores de carro usados com molduras metálicas são sobrepostos e encostados na parede. O padrão geométrico original é corrompido pelos arranhões e marcas de uso destes objetos, ao passo que o vidro das molduras lhes confere brilho e reflexo, sublinhando sua qualidade abstrata.
A investigação low-tech desdobra-se ainda em esculturas de televisores recobertas com fita isolante. A luz emana das telas apenas através de frestas recortadas pelo artista, ora apresentando a animação de um feixe vermelho cruzando a superfície (presente em TV Totem), ora o chiado visual do aparelho fora do ar (em TV Fiapos). Xerox, radiadores e televisores ativam a memória de um passado tão recente como obsoleto e ganham nova vida a partir de gestos simples e precisos.
Cristiano Lenhardt é de Itaara (RS, 1975), e atualmente vive e trabalha no Recife (PE). Entre suas principais exposições, destaca-se sua participação na mostra Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil (Wexner Center for the Arts, Ohio, USA, 2014), no programa Rumos (Itaú Cultural, São Paulo, 2012) e na 7a. Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2009).
Gabriel Lima
Us and them forever bound up in here and now
Em pinturas e objetos, a obra de Gabriel Lima incorpora o vernáculo de manifestações populares ao espaço conceitual da abstração. Para esta exposição, o artista envolveu-se especificamente com a Camisa 12, torcida organizada vinculada ao Corinthians. Lima enxerga nas manifestações desses grupos um potencial de emancipação sociopolítica e nas bandeiras e faixas que produzem uma incorporação do papel que as práticas estéticas podem desempenhar nesse processo. Seus trabalhos não procuram, porém, reproduzir os procedimentos da Camisa 12, mas evocar os aspectos que a constituem enquanto identidade coletiva.
Em Culture, o artista dispõe quatro grades de ferro no chão e sobre elas uma série de sacos plásticos. O conteúdo dessas embalagens é abstrato: alguns tecidos simplesmente cortados e outros dobrados e pintados repousam inertes sobre a estrutura metálica.
Nos dípticos Peace and Understanding, a abstração toma papel central em experiências cromáticas sombrias. Rasgos de azul, vermelho e laranja cortam o fundo negro das telas em imagens que parecem dissolver-se na fumaça. Em 2002, as imagens – também abstratas – são pintadas sobre três telas alongadas penduradas na parede formando um portal. Com quase cinco metros de largura, a pintura ganha aqui contornos arquitetônicos.
Com mestrado na Royal College of Arts (Londres, Reino Unido, 2011-2013), Gabriel Lima nasceu em São Paulo, em 1984, onde vive e trabalha. Dentre suas exposições recentes, destaca-se a individual World interior na Galeria Múrias Centeno (Porto, Portugal, 2014) e a coletiva A Séance for Geometry na Maddox Arts (Londres, Reino Unido, 2013). Também realiza projetos de curadoria, tendo co-curado neste ano as exposições Postcodes: soft e Postcodes: kind (ambas em São Paulo).
Rodrigo Cass
Material Manifesto
Em vídeos, pinturas e esculturas, o trabalho de Rodrigo Cass explora questões referentes a contenção e ruptura fazendo referências à filosofia e à arte brasileira. Seus vídeos revelam um interesse por elementos da performance, em cenários econômicos em que a cor aparece como um elemento construtor. A narrativa é substituída pela repetição de determinados gestos em interação com materiais que, apesar de ordinários, sempre apresentam forte carga simbólica.
No vídeo Libera Abstrahere, o artista despeja purpurina dentro de uma velha lata de tinta sustentada por uma pilha de livros. O brilho da purpurina preenche todo o espaço da lata até transbordar para fora. A ausência da lata revela um círculo vazio sobre os livros, uma espécie de espelhamento da mesma. Cass desenvolve aqui um tema frequente em sua obra: a ideia de continente. Assim como os outros dois vídeos da exposição (Material Abstrahere e Manifeste Abstrahere) este trabalho é projetado sobre um objeto revestido de linho colorido.
O artista apresenta também a escultura Elementos Políticos, em que utiliza elementos recorrentes em sua obra – livros, concreto, vidro e lata de tinta. Aqui, porém, Cass explora a transparência versus a opacidade, materializadas pelo embate entre o cristal e o concreto que são derramados de um jarro de vidro e de uma lata enferrujada, respectivamente.
Rodrigo Cass nasceu em São Paulo, em 1983, onde vive e trabalha. Dentre suas exposições recentes, destaque para a individual no Centro Cultural São Paulo em 2013, além da coletiva Imagine Brazil (Astrup Fearnley Museet em Oslo, Noruega, 2013; e Musée d’art contemporain de Lyon, em Lyon, França, 2014) e da participação na Bolsa Pampulha 2010/2011 (Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte).