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junho 11, 2014
José Patrício na Nara Roesler, São Paulo
José Patrício - Afinidades cromáticas, Galeria Nara Roesler, São Paulo, SP - 16/06/2014 a 20/07/2014
As inúmeras possibilidades de combinação numérica realizadas em materiais cotidianos voltam a ocupar a Galeria Nara Roesler a partir do dia 14 de junho, sábado, com a abertura da individual do pernambucano José Patrício. São cerca de 12 trabalhos de séries como Afinidades Cromáticas, produzidos no período de 2012/2013 em elementos como botões e quebra-cabeças.
Sobre a série Ars Combinatoria, em que Patrício cria intrincados mosaicos geométricos por meio da combinação das peças de dominó, o crítico Paulo Sergio Duarte comentou em 2002: “Incorporado, como ponto de partida, o terreno da combinatória matemática, nos encontramos com a combinação das séries, infinitas nas suas possibilidades. O problema não é mais a reprodução do mesmo; trata-se, agora, de, a partir do mesmo, produzir infinitos outros”.
A afirmação evidencia a premissa subjacente às instalações do artista, cuja utilização da cor e da forma também aproxima seus trabalhos da pintura. A disposição ordenada dos elementos cotidianos faz remissão direta à imagética do concretismo. Corroborando essa ideia, o mesmo Paulo Sergio Duarte inclui Patrício na linhagem do “artista contemporâneo que não despreza a história, que entende o fenômeno artístico como um campo cultural específico no interior de uma tradição” e que por isso “trabalha sob a pressão de fortes paradigmas”.
Se o concretismo visa ao elogio da razão e da ciência, José Patrício insere nesse universo dados subversivos. Os artefatos corriqueiros com os quais ele forma padronagens ora de mosaicos bizantinos, ora de um construtivismo literal, primeiramente enganam o olhar desavisado. Por sua potência formal, o todo se impõe de antemão para depois ceder lugar ao exame dos pequenos componentes.
É assim, por exemplo, com a série Afinidades Cromáticas. Os quadrados concêntricos são formados por miríades de botões de roupa de formatos e cores variados, na inserção do dado humano por um viés insuspeito. Em lugar da pincelada perceptível em uma pintura visceral, o uso de elementos prosaicos rompe o distanciamento inicial para dar lugar a um sentimento de familiaridade.
A multiplicação desses artefatos em padronagens que formam até mesmo labirintos não é ocasional. É fruto de cálculo, de elaboração, da busca pela disposição que permite o melhor efeito, ou seja, do engenho humano. Com a dupla perspectiva macro e microvisual, o que se delineia é uma matemática que deixa vir à tona, por entre sua coesão estrutural, a dimensão lúdica do cotidiano.
Sobre o artista
José Patrício nasceu em 1960, em Recife, onde vive e trabalha. Participou de bienais como a 22ª Bienal de São Paulo (1994) e a 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em Porto Alegre (1994), ambas no Brasil; e a 8ª Bienal de Havana, Cuba (2003). Participações recentes em exposições coletivas incluem: Le Hors-Là (Usina Cultural, João Pessoa, Brasil, 2013); Art in Brazil (Palais des Beaux Arts, Bruxelas, Bélgica, 2011); e 50 anos de arte brasileira (Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil, 2009). Suas mais recentes mostras individuais são: A espiral e o labirinto (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2012); José Patrício: o número (Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil, 2010); e Expansão múltipla (Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2008). Suas obras fazem parte de coleções como a da Fondation Cartier pour L’Art Contemporain, Paris, França; Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, Recife, Brasil; Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Brasil; Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil; Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro / Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro, Brasil.
Sobre a galeria
Há mais de 35 anos, Nara Roesler promove arte contemporânea junto a um conjunto nacional e internacional de colecionadores, curadores e intelectuais. Em 1989, ela fundou a Galeria Nara Roesler em São Paulo, como um espaço para expandir as fronteiras da prática artística, no Brasil e fora dele. Representando alguns dos mais relevantes artistas da atualidade, a galeria direciona seu interesse à justaposição de trabalhos dos anos 60 em diante e suas ramificações contemporâneas.
2012 foi um ano de grandes mudanças para a galeria: Vik Muniz e Isaac Julien foram somados ao seu crescente rol de artistas; o seu espaço expositivo foi ampliado e a retomada do projeto curatorial Roesler Hotel, com propostas inovadoras como as exposições coletivas Lo bueno y lo malo, sob curadoria de Patrick Charpenel (diretor da fundacción/colección jumex), e Buzz, mostra dedicada à Op Art idealizada pelo artista Vik Muniz. Em 2013, o projeto trouxe as mostras ATACAMA 1234567, de Hamish Fulton, com curadoria de Alexia Tala; e Cães sem plumas [prólogo] com curadoria de Moacir dos Anjos. Dispositivos para um mundo (im)possível , com a curadoria de Luisa Duarte, foi o primeiro projeto Roesler Hotel de 2014, seguido de Spectres, com curadoria do francês Matthieu Poirier.