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maio 22, 2014
Liberdade em Movimento na Iberê Camargo, Porto Alegre
Liberdade em Movimento reúne 20 artistas de diferentes países
A Fundação Iberê Camargo apresenta a mostra “Liberdade em Movimento” que enfatiza o caráter político, no sentido mais amplo do termo, da grande maioria das obras reunidas pelo curador Jacopo Visconti – fotos, vídeos, desenhos, instalações e objetos. Todas usam o movimento, mas principalmente o ato de andar, como estratégia criativa. Segundo Visconti, arquiteto, crítico de arte e curador independente, a exposição inclui desde registros de ações abertamente militantes até obras que buscam desmaterializar a arte, por ser explícito nelas o desejo de eludir o domínio da lógica de mercado na produção contemporânea. “Em outras palavras, a exposição aponta para a riqueza de significados que o movimento, no cruzamento altamente simbólico de todas as suas acepções, pode adquirir em âmbito artístico”, destaca o curador.
O Brasil estará presente na mostra com obras de Arthur Barrio (“4 Dias 4 Noites – Livro II”, 1970), Cildo Meireles (“Inserções em Circuitos Ideológicos”, 1970), André Severo (“Migração”, 2002, 2003) e Clarissa Tossin (“Brasília a Pé”, 2009). Destacam-se também o inglês Richard Long e o russo Andre Monastyrski. Long, é um dos expoentes da land art, que valoriza o processo de transformação da natureza pelo homem. O artista costuma produzir fotografias durante suas célebres caminhadas, base da estrutura de seu trabalho: ao longo dos passeios, Long move ou reorganiza conjuntos de elementos naturais e os fotografa em ordens geométrica ou linear. Paralelamente, recolhe peças do ambiente para produzir esculturas no ambiente expositivo. Na Fundação Iberê Camargo, Long será representado por “England” (1968), do acervo da Lisson Galery.
Monastyrski, um dos pilares da Escola Conceitualista de Moscou, tem seu trabalho ancorado nos “action objects” desenvolvidos pelo Collective Action Group. Criado a partir do final dos anos de 1970, o grupo que reúne vários artistas já realizou mais de 120 performances fotográficas, principalmente nos arredores da capital russa. Monastyrski e suas ações coletivas serão representados por seis obras: “The Appearance” (1976), “Time of Action” (1978), “Gazing of the Waterfall” (1981), “Ten Appearances” (1981), “Description of an Action” (1984), “People strolling in the Distance are the Extra Element of the Action” (1989).
Adotado esporadicamente desde a década de 1920 como técnica artística, o caminhar se consolida e se difunde como tal a partir do final dos anos de 1960, aproximadamente no mesmo período em que a Internacional Situacionista e seu mâitre a penser Guy Debord, autor do clássico Teoria da deriva, abandonam a atividade artística em favor de um engajamento político explícito e militante, motivado pelos acontecimentos de 1968. Visconti explica: “Próximas das derivas situacionistas, as ações dos artistas que, ao redor do mundo, se lançam a andar sem muito mais do que uma câmera na mão e uma ideia na cabeça buscavam consolidar a ideia de uma arte não comercializável, que pudesse minar as bases da sociedade capitalista recusando a obrigação de produzir obras tangíveis e vendáveis”. Em alguns casos, segundo o curador, essas ações se opunham diretamente ao clima político em que foram concebidas, mas rapidamente o campo expandido do movimento firmou-se em contextos menos conflituosos, resistindo como técnica artística até os dias de hoje, apesar das mudanças do clima político.