|
abril 28, 2014
Cildo Meireles no HangarBicocca, Itália
Pirelli HangarBicocca apresenta de 27 de março a 20 de julho de 2014 Cildo Meireles. Installations, a primeira mostra na Itália dedicada a um dos mais importantes artistas do panorama internacional que trabalha a multisensorialidade com grande envolvimento do público. Contando com a curadoira de Vicente Todolí, a mostra pessoal é composta por grandes instalações produzidas desde 1970 até hoje.
"A mostra no HangarBicocca - explica Vicente Todolí - permite conhecer profundamente o aspecto físico, sensorial e poético das obras de Cildo Meireles, que colocam em discussão e revolucionam, com frequência, as ideias pré-concebidas e o lugar comum. A sua arte propõe um desafio em termos de percepção e de conceitos por meio do mecanismo da sobreposição, da acumulação e da metáfora que conduz a uma total subversão poética. O artista utiliza o elemento da sedução para atrair o visitante para dentro das instalações como ocorre em uma teia de aranha. Observa-se também uma incrível capacidade de ironia e crítica que oferece a possibilidade de experimentar novos pensamentos e comportamentos".
O percurso dentro da Pirelli HangarBicocca evolui por meio de doze obras, onze instalações de dimensões enormes e uma escultura em escala microscópica: o início ocorre a partir de um cubo de nove milímetros em madeira sacra até passar por um reprodução de uma ponte voltada para um 'mar' de dezessete mil livros. Contando com a coprodução parcial do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia (Rainha Sofia, Madri, Espanha) e com o Museu de Arte Contemporânea de Serralves (Porto, Portugal), a mostra de Cildo Meireles representa uma ocasião única para se confrontar com o olhar lírico desse extraordinário conhecedor das linguagens artísticas, que consegue resgatar uma visão do mundo heterogênea e singular.
A obra que abre a mostra, de forma provocadora, é a minúscula escultura Cruzeiro do Sul (1969-1970), que cria um contraste com o grande espaço, dialogando com as demais instalações imponentes: a obra é um cubo de nove milímetros feita em carvalho e pinheiro, as árvores sagradas dos índios da América.
Obra monumental e complexa, Através (1983-1989) consiste em uma grande instalação, na qual os visitantes caminham sobre um revestimento de vidros quebrados, encontrando, durante o percurso, barreiras, muros, travas e treliças. O ruído produzido pelos passos e as limitações visíveis conduzem à possibilidade de destruir as barreiras da instalação e as demais barreiras. No dizer do artista, na sua retrospectiva ocorrida na Tate Modern de Londres em 2008: "É como se você rompesse, metaforicamente, cada pedaço de detrito, cada proibição, cada obstáculo. O vidro quebrado cria uma metáfora contínua para o olhar que, por sua vez, consegue atravessar tudo" (Cildo Meireles, catálogo Tate Modern, Londres, 2008).
A poética subversiva de Cildo Meireles retorna em Babel (2001), uma torre de rádio sintonizada em vários canais que formam um ambiente visual e sonoro de grande evocação. A obra necessitou de onze anos de desenhos preparatórios antes de ser produzida e exposta em 2001 em Helsinki.
Eureka/Blindhotland (1970-1975) coloca em discussão a percepção normal, convidando o espectador a ir além do visual, abrindo espaço para os sentidos. Dentro de uma rede sutil estão dezenas de esferas de borracha aparentemente idênticas. O público, quando as toca, descobre que o peso delas, na realidade, é muito variável.
Atlas (2007) é uma homenagem ao trabalho Base do Mundo de Piero Manzoni, e consiste em uma fotografia montada em um light box que retrata Meireles durante uma performance na Dinamarca (2007). O artista se deixa fotografar de cabeça para baixo na mesma base que Manzoni instalou em 1961.
Uma extensão de ossos (3 toneladas), de dólares americanos (6 mil) e de velas (70 mil) formam, por sua vez, a obra Olvido (1987-1989) exposta, pela primeira vez, no project room do MoMA de Nova Iorque em 1990. No interior de um largo cercado construído com dezenas de milhares de velas brancas, a tradicional tenda dos nativos da América setentrional, coberta com dinheiro, se divide entre a enorme quantidade de ossos bovinos que lançam um odor pungente.
Amerikkka (1991-2013) brinca com a contraposição de um piso de 22 mil ovos de madeira contra um teto de 55 mil projéteis. O espectador chega a "pisar em ovos", metáfora linguística que indica situação de perigo, acentuada pela presença de milhares de projéteis direcionados para baixo que, no decorrer da caminhada no percurso, se aproximam ameaçadoramente.
Entrevendo (1970-1994), da mesma forma, é uma tentativa de explorar a percepção humana na sua totalidade. O visitante é convidado a entrar em uma estrutura de mais de oito metros, em forma de cone, em cuja extremidade um ventilador de ar quente está posicionado. Na entrada são oferecidos, ao visitante, dois cubos de gelo - um com gosto salgado e outro com sabor doce - para colocar na boca. Ao se aproximar da fonte de ar quente, o gelo se dissolve concretizando o fenômeno da sinestesia: o mesmo estímulo sensorial é percebido em uma experiência com valor duplo, gerando um estranhamento.
Cinza (1984-1986) é composta por dois ambientes diferentes e adjacentes; um deles é totalmente branco e o outro totalmente preto; os pavimentos contêm, respectivamente, pedaços de gesso e de carvão. O público, ao se movimentar de um ambiente para o outro, acaba misturando as cores entre eles, contribuindo, dessa forma, para a transformação da obra.
Na obra Para Pedro (1984-1993), dedicada ao filho do artista, Pedro Ariel, Meireles cria um ambiente delimitado por duas tendas oblíquas, que, nesse caso, ficam restritas à extremidade onde cinco telas projetam várias texturas aparentemente indistintas. Nesse caso, também, como em outras obras da mostra, o espectador pode ouvir um som: o de pedregulhos sendo quebrados.
No interior da estrutura retangular da obra Abajur (1997-2010) encontra-se um dispositivo luminoso de grandes dimensões que, ao girar, mostra as imagens de um antigo veleiro que atravessa o mar, contemporaneamente ao som de gaivotas em voo que se espalha pelo ambiente. O olhar do espectador se abre, em um segundo momento, para o mecanismo que movimenta a obra, constituído por algumas pessoas que acionam um dínamo que, por sua vez, faz girar a alavanca central.
O ícone do espelho de água como espaço sem limite é proposto em Marulho (1991-1997) que consiste na reprodução de uma grande ponte de madeira que se expande por um pavimento de 17 mil livros com imagens do mar. Para chamar a atenção do espectador, várias vozes repetem a palavra "água" em vários idiomas. A obra é um dos exemplos mais espetaculares da técnica de acúmulo utilizada por Meireles.
O artista
Conhecido por ser um dos pioneiros do movimento internacional da arte conceitual, Cildo Meireles (Rio de Janeiro, 1948), com o tempo, superou os limites de todas as tendências artísticas. Experimentando estratégias de pensamento e técnicas diferentes, utiliza, nas suas esculturas e instalações, uma ampla variedade de objetos e materiais que são selecionados pelo significado simbólico. Explora a percepção humana na sua totalidade, tratando de temas universais, inclusive dramáticos como a ditadura, o colonialismo, a globalização e a repressão dos direitos humanos. Tornaram-se célebres as incursões artísticas dos anos Setenta, vividas naqueles anos como um verdadeiro e próprio sistema de contra-informação no Brasil: nos vidros das garrafas vazias de Coca-Cola, destinadas, assim, a serem preenchidas e colocadas à venda, se imprimiam, por exemplo, com tinta branca, mensagens críticas contra a ditadura militar. Textos análogos eram impressos com um sistema de carimbos em notas monetárias em circulação. Cildo Meireles foi um dos primeiros artistas brasileiros que participou de uma mostra no MoMA de Nova Iorque (1970) e o primeiro, entre todos, que realizou uma mostra pessoal na Tate Modern de Londres (2008). Participou, também, de inúmeras e importantes exposições como a Documenta em Kassel (2002) e a Bienal de Veneza (2009).
O programa da exposição da Pirelli HangarBicocca
A exposição Cildo Meireles. Installations é oferecida dentro do programa de mostras de autoria de Vicente Todolí juntamente com Andrea Lissoni. O projeto da exposição é apresentado concomitantemente com a mostra pessoal de Micol Assaël montada no espaço de exposição do "Shed" até 4 de maio de 2014. O calendário da Pirelli HangarBicocca prosseguirá com as mostras de Pedro Paiva e João Maria Gusmão (junho de 2014), Joan Jonas (setembro de 2014), Céline Condorelli (janeiro de 2015), Juan Muñoz (março de 2015) e Damián Ortega (abril de 2015).
Pirelli HangarBicocca
HangarBicocca, o espaço de arte contemporânea da Pirelli, é a continuação natural de uma longa tradição de atenção à cultura, à pesquisa e à inovação que caracteriza a empresa desde a sua fundação há mais de 140 anos. Graças ao empenho da Pirelli, HangarBicocca torna acessível ao público uma programação de alto nível e uma série de atividades para jovens e famílias, tendo se tornado, atualmente, uma referência na Grande Milão e perante o público internacional.