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março 21, 2014
Hudinilson Jr. na Jaqueline Martins, São Paulo
Exposição panorâmica sobre 40 anos de produção de Hudinilson Jr. ocupa a Galeria Jaqueline Martins
Exposição explora a discussão crítica da moral e da política na produção de Hudinilson Jr.
Hudinilson Jr. - Posição amorosa, Galeria Jaqueline Martins, São Paulo, SP - 26/03/2014 a 10/05/2014
A Galeria Jaqueline Martins abre em 25/03/14, às 19h, uma exposição panorâmica sobre a produção do artista Hudinilson Jr., falecido em agosto de 2013, quando sua obra se voltava aos olhos de importantes instituições nacionais e internacionais. Com curadoria de Marcio Harum, a mostra intitulada “Posição Amorosa” (em caixa alta a pedido do curador), é composta por uma série de trabalhos que percorrem a trajetória artística deste importante artista paulistano. São obras criadas desde os anos 1970, que abordam uma diversidade temas, materiais e suportes. Nesta exposição, o curador reúne uma série de desenhos, pinturas, mail-art (arte postal), graffiti e xerografia (arte xerox), muitos deles inéditos. Pela primeira vez, também,será exibida uma série de peças escultóricas têxteis, espécie de esculturas, em que o artista engomava e pintava as próprias vestes.
Hudinilson Jr. é nome de referência para o grafite brasileiro e um dos poucos artistas francamente identificados à marginalidade, ao underground e a arte homoerótica no Brasil, através dos meios de comunicações, da poética do corpo e da intervenção urbana, suas obras discutem e criticam a moral e a política.
Sobre o artista
Hudinilson Jr. é nome de referência para o grafite brasileiro e um dos poucos artistas francamente identificados à arte homoerótica no Brasil.A produção de Hudinilson Jr. é considerada marginal e underground, através dos meios de comunicações, da poética do corpo e da intervenção urbana, suas obras discutem e criticam a moral e a política.
Experimentou múltiplas expressões artísticas como desenho, pintura, mail-art (arte postal), graffiti, xerografia (arte xerox), performance e intervenções urbanas, nas quais o corpo humano masculino, o erotismo e o prazer são temas recorrentes. Seus trabalhos geralmente contêm nus masculinos frontais ou se apropriam de fotos e desenhos do universo gay e pornô.
Por muitos anos sua obra foi ignorada por museus e galerias, por ter proferido formas de democratização da arte surgida nos anos 1960, como a “mail art”, a “mídia xerox”, a apropriação de imagens em colagens e o próprio grafite mural. Desde 2011, a Galeria Jaqueline Martins passou a representar o artista e sua obra voltou a ser exposta em museus, galerias, inclusive no destacado Museu Reina Sofia, de Madri. A valorização sobre sua produção era uma questão de tempo.
Ainda estudante do curso de artes plásticas da FAAP, protestava contra a ditadura no Brasil com os amigos Mário Ramiro (1957) e Rafael França (1957 - 1991). Em 1979, funda o grupo 3nós3, com França e Ramiro que até 1982 modificavam o ambiente urbano e arquitetural, realizando intervenções artísticas na paisagem urbana de São Paulo. O grupo encapuzou estátuas públicas, lacraram portas de galerias de arte e atormentaram os militares e os donos de galerias de artes plásticas de São Paulo. Hudinilson foi um dos mais exímios artistas da colagem e misturava referências dos universos pop e homoerótico à sua história pessoal.
A partir de 1982, inicia a série Exercícios de Me Ver, que consiste na reprodução xerográfica de partes do próprio corpo, com exposições na Galeria Chaves, Porto Alegre, e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP em 1983. Seus trabalhos em graffiti, utilizando estêncil, são elaborados desde meados da década de 1980, no mesmo período, conhece Alex Vallauri (1949 - 1987), de quem recebe orientações e o acompanha em alguns trabalhos. Em 1984 participa da 1ª Bienal de Havana e da exposição Arte Xerox Brasil, na Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp, da qual é o curador. Expõe na 18ª Bienal Internacional de São Paulo em 1985 e na 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em 2002. Esquecido e odiado pelo mercado de arte local, foi resgatado pela galerista Jaqueline Martins, que já realizou duas exposições com ele em São Paulo. Suas obras foram o destaque da galeria na feira ARCO, em Madri, despertando a atenção de instituições internacionais.
Crítica
Enquanto o mundo está preocupado com o neo-pós-tudo, Hudinilson Jr. se copia. Com olhos de Narciso ele se debruça sobre a máquina de xerox e registra as partes de seu corpo. Num ato sensual, separa tronco, pernas, braços, sexo, para depois, num ato único, juntá-los ou trabalhar cada parte sobre um suporte que pode ser colagem, objeto, grafite ou mesmo xerox. Ex-integrante do grupo Três Nós Três, lacrou portas de galerias, ensacou monumentos e fez várias intervenções urbanas. Agora, envolvido com o universo de Narciso, Hudinilson iniciou a busca de si mesmo, na projeção do outro (...) Como uma criança que descobre o prazer de brincar com o espelho que lhe devolve a própria imagem, Hudinilson Jr. joga com as imagens tendo Narciso como pulsação central. (...) A busca de Hudinilson na projeção do outro nunca se refletiu no mercado de arte. Dark, muito antes de ser deflagrado o movimento no Brasil, ele sempre se manteve paralelo ao circuito. Uma imposição sustentada em nome não se sabe de quê. Talvez, ainda continue pertencendo à matilha de um Robert Malaval, o irreverente artista francês, que só depois da morte trágica em 80, teve aberta a porta do MAM de Paris. Ou de um Klaus Schwarz, um transexual berlinense, autor das melhores performances alemãs atuais, mas que só consegue exibi-las em bares underground.