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dezembro 3, 2013
Zero na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre
A mostra reúne em Porto Alegre, entre 5 de dezembro e 4 de março de 2014, obras de um dos mais marcantes movimentos de vanguarda do século 20
Zero, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS - 06/12/2013 a 04/03/2014
Em dezembro, a Fundação Iberê Camargo recebe a mostra ZERO, uma reunião de obras do movimento homônimo que, por meio de arranjos pictóricos dispostos em série e estruturas de luz vibratórias, alterou de forma decisiva a arte da Alemanha pós-guerra e se espalhou por diversos países, inclusive pelo Brasil. O novo conceito buscava um recomeço para as artes visuais e se transformou em uma das mais marcantes correntes de vanguarda do século 20. Com curadoria da historiadora de arte de Colônia, Heike van den Valentyn, a exposição apresenta uma coletânea com trabalhos de 24 artistas europeus e latino americanos e reflete a convergência de influências entre nomes de ambos os continentes, como Yves Klein, Günther Uecker, Otto Piene, Heinz Mack, Lucio Fontana, Almir Mavignier e Jesús Rafael Soto. A mostra itinerante, que já passou pelo Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, inaugura na Fundação Iberê Camargo no dia 5 de dezembro e poderá ser visitada pelo público de 6 de dezembro a 4 de março de 2014, com entrada franca e patrocínio da Gerdau, Itaú, Vonpar, De Lage Landen e Allianz. De abril a junho do próximo ano, poderá ser vista também na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
A exposição integra o calendário da “Temporada Alemanha + Brasil 2013-2014” e conta com a parceria do Goethe-Institut, da Alemanha, e o apoio do Ministério NRW e Pro Helvetia. As obras se concentram, na sua maior parte, no início da formação do ZERO, no final da década de 1950, até a sua dissolução em meados da década de 1960. Os modernos modos de pensamento e de trabalho do grupo são revisitados em espaços reinstalados especialmente para a mostra.
Instalações de espelhos, como a do suíço, Christian Magert, ou a Chuva de Luz de Günther Uecker, feita com tubos de alumínio e luzes de neon, são alguns dos trabalhos que irão transportar o visitante para um mundo de sensações e movimentos lúdicos. Ambientes como o Espaço de Luz, de Otto Piene, que apresenta uma instalação em plástico, luzes e motor, e o Espaço Elástico, produzido com elásticos fluorescentes que se movem e criam uma animação eletromecânica, iluminando um local escuro, também compõem a mostra ZERO. Muitas das peças convidam o espectador a interagir, movimentando ou mudando a sua estrutura de maneira manual ou eletromecânica. Dessa forma, o público pode vivenciar a exposição com todos os seus sentidos. Em outros trabalhos, por meio da experimentação de novas técnicas e materiais, os artistas deixaram-se levar pelo acaso e pelas forças da natureza para dinamizar a superfície da imagem, como as instalações e relevos do francês Yves Klein – todas elas no pigmento de azul vivo criado pelo artista. Materiais como pregos, rolhas, algodão, esponjas e outros objetos do cotidiano, também entram em cena na mostra e provocam a ruptura de telas, transformando a imagem em objeto.
ZERO se organiza de maneira que as peças dialoguem entre si, uma opção da curadora para representar a conexão inconsciente entre europeus e sul-americanos, que criavam obras semelhantes na mesma época, nem sempre sabendo da existência uns dos outros. Essa particularidade fez com que o movimento se tornasse bastante flexível e não homogêneo.
TEXTO DE PAREDE
Com 24 posições artísticas da Europa e da América do Sul, a Exposição ZERO, pela primeira vez no Brasil, dá um panorama temático sobre a vanguarda internacional que influenciou decisivamente a arte do período pós-guerra com composições seriais dos elementos constituintes da imagem e estruturas luminosas vibrantes.
Sobretudo na Alemanha, França, Itália, Holanda e Bélgica, os artistas se distanciam a partir do final dos anos 50 do gesto expressivo da pintura informal e reivindicam uma forma de arte que faça jus à realidade moderna. No lugar da “arte da pátina, do lúgubre e da Modernidade“ (Günther Uecker) surge uma linguagem visual clara, repleta de luz. A luz se torna o material característico, a cor é dinamizada por meio de pontos de retícula e estrutura serial. Obras selecionadas e espaços luminosos históricos mostram o quanto ZERO renegou de forma radical a pintura acadêmica para colocar o homem em um sistema universal de referências além dos estados subjetivos.
Em 1958, Heinz Mack e Otto Piene fundam o Grupo ZERO, ao qual Günther Uecker se juntaria três anos mais tarde. “ZERO como título foi o resultado de vários meses de procura [...], mas que por fim foi encontrado quase que por acaso. Desde o início, víamos ZERO como nome para uma zona de silêncio e de novas possibilidades [...]. Pensamos na contagem regressiva antes do lançamento de um foguete – Zero é uma zona que não pode ser medida, na qual um estado passado se transforma em um estado novo e desconhecido.“ (Otto Piene)
Dínamo – sinônimo para movimento e mudança – se torna a mais alta expressão do período ZERO, o que é manifestado primeiramente em objetos rotativos que passam a se expandir no espaço com o passar dos anos. A multiperspectiva dinâmica se torna o recurso artístico central, e o espectador passa a ser, a partir de agora, “parte de um campo de força em movimento“ (Udo Kultermann).
O prazer em experimentar e a descoberta de novas técnicas se espelham na diversidade de materiais em ZERO. São usados materiais como pregos, placas de alumínio, vidro, espelho e corpos luminosos com os quais são criadas composições seriais que tomam o lugar da composição tradicional. Os elementos fogo, água e ar também se tornam em pouco tempo temas centrais do período ZERO – o princípio cósmico em sua amplitude infinita e sua mudança permanente, o motor principal.
ZERO representa também uma rede internacional na qual ideias e conceitos são discutidos animadamente. Desde cedo, ZERO opera em diálogo, transpassa o círculo fechado da cena artística nacional e repercute na opinião pública através de performances e exposições. É com Yves Klein e Jean Tinguely em Paris, bem como Piero Manzoni e Enrico Castellani em Milão que o Grupo ZERO mantém em especial um intercâmbio intensivo. Lucio Fontana, que já no final dos anos 40 reivindica que a arte deveria traduzir substância luminosa plástica em recursos artísticos, se torna figura central de referência. Da mesma forma, há contatos estreitos com o grupo holandês NUL, formado por Armando, Jan Henderikse, Henk Peeters e Jan Schoonhoven. Artistas sul-americanos como Lucio Fontana (Argentina/Itália) e Almir Mavignier (Brasil/Alemanha) se engajam desde logo ativamente como organizadores de exposições em Milão, Veneza e Zagreb, assim como o venezuelano Jesús Rafael Soto, que vive em Paris. O caráter especial dessas exposições fez com que o diálogo artístico com a América do Sul acerca das obras – próximas de ZERO do ponto de vista formal – de Hércules Barsotti, Lygia Clark e Abraham Palatnik (todos no Brasil), Gego (Venezuela), assim como Gyula Kosice (Argentina) fosse ampliado. Alguns dos artistas citados – como Clark, Kosice ou Palatnik – participaram de exposições cinéticas em Amsterdam, Antuérpia ou Düsseldorf em conjunto com artistas do Grupo ZERO. Outros – como Barsotti e Gego – não tinham aspectos diretos em comum, revelam porém no diálogo direto a afinidade interior com as obras paralelas do Grupo ZERO – por exemplo, em relação aos temas vibração, luz e sombra.
Cronologicamente, a exposição se concentra, salvo poucas exceções, na fase inicial do Grupo alemão ZERO (Mack, Piene, Uecker), desde sua fundação no final dos anos 50 até a sua dissolução na metade dos anos 60.