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novembro 5, 2013
Mostra Rumos Cinema e Vídeo - Linguagens Expandidas no Itaú Cultural, São Paulo
Itaú Cultural mostra os trabalhos dos selecionados no Rumos Cinema e Vídeo com trabalhos que ultrapassam o limite das telas
Uma obra busca o diálogo entre as memórias, uma grande vídeo-escultura interativa tem telas de projeção e um aquário cujo cubo espelhado produz efeito caleidoscópico com a imagem do visitante, uma instalação intimista é exibida em um pequeno espaço, um vídeo reconstrói com material de arquivo a expedição do modernista Flávio de Carvalho pela Amazônia, uma dupla que o trabalho começa no palco e se espalha à procura de novos sons na plateia, estão entre as 20 obras apresentadas no instituto entre uma exposição, performances ao vivo e um ciclo de filmes
No dia 7 de novembro, o Itaú Cultural abre a Mostra Rumos Cinema e Vídeo – Linguagens Expandidas com as obras selecionadas na sétima edição neste segmento do programa Rumos, cujo objetivo de fomentar e difundir a arte e cultura brasileiras. Foram inscritos 401 projetos e selecionados 20 deles nas categorias Filmes e Vídeos Experimentais; Espetáculos Multimídia e Documentários para Web. O resultado ultrapassa o limite das telas e envolve uma exposição, performances ao vivo e um ciclo de filmes.
Do dia da abertura até 22 de dezembro permanece em cartaz, no piso -2, a mostra com as obras Já Visto Jamais Visto, de Andrea Tonacci; Entremeio, de Lea van Steen e Raquel Kogan; e Som e Chão, de Tiago Romagnani Silveira e Diogo de Haro. O ciclo de filmes é realizado de 7 a 10 de novembro, com os trabalhos contemplados na categoria Filmes e Vídeos Experimentais e com os 10 escolhidos na carteira Documentários para a Web. De 13 a 17 de novembro (com exceção do dia 14), são apresentados os quatro espetáculos multimídia. Tanto o ciclo de filmes quanto os espetáculos acontecem na sala Itaú Cultural.
Obras em exposição
Já Visto Jamais Visto, do diretor Andrea Tonacci, é um vídeo de 54 minutos, que conta com imagens feitas durante 40 anos, abrangendo acervo familiar e pedaços de filmes não realizados pelo cineasta. Selecionada na categoria Filmes e Vídeos Experimentais, a obra é um diálogo entre as memórias do autor e as imagens que filmou e guardou ao longo da atividade cinematográfica, mas que nunca foram vistas anteriormente. O objetivo é fazer uma reflexão sobre imagens que permanecem à margem da memória ou à beira do esquecimento. Na mostra, o filme é projetado a cada hora, acompanhando o horário de abertura do instituto (9h de terça-feira a sexta-feira e 11h aos sábados, domingos e feriados) em uma pequena sala para uma plateia de 10 espectadores por vez e puffs no lugar das cadeiras tradicionais.
A instalação Entremeio, das videoartistas Lea van Steen e Raquel Kogan, é um trabalho de pesquisa que resultou em uma vídeo-escultura interativa. Com 8 x8 metros, mais de uma tonelada de peso e utilizando 900 litros de água, a obra é realizada em uma sala com quatro telas de projeção com imagens e som de cana-de-açúcar queimando. No meio, há um aquário com um cubo espelhado que produz os efeitos ópticos de reflexão e refração da imagem do público, formando um caleidoscópio. “O nome da obra reflete o meio das coisas, é um intermediário entre o vídeo e o objeto, a água e o fogo, o espelho e o reflexo”, afirma Lea. Entremeio não é um trabalho convencional, um filme experimental ou um espetáculo multimídia. “É um projeto contemporâneo e híbrido: é, ao mesmo tempo, uma imagem e uma instalação interativa”, explica Raquel. “Ela só saiu do papel porque a instituição aposta neste novíssimo conceito de audiovisual e está nos ajudando”, acrescenta a artista.
Outro trabalho que foge da estrutura de filme convencional é Som e Chão, do artista visual Tiago Romagnani Silveira e do músico Diogo de Haro, pianista e compositor, que tem experiência de 20 anos com música experimental e de improviso – os quais também farão um espetáculo multimídia sobre o mesmo tema (veja abaixo). Trata-se de uma instalação intimista, de 8x6 metros, à qual um pequeno grupo de pessoas pode ter acesso por vez. Realizada a cada 30 minutos, a atração é dividida em três performances que trabalham com o olhar e com a percepção, buscando o limite entre o que se vê e o que é projetado, criando a dúvida entre a realidade e a imagem. A primeira parte fortalece a ideia de que uma simples ação pode ser executada por qualquer pessoa, mas interpretada de formas diferentes por cada uma. Na segunda, chamada Piano e Pedra, um artista toca um instrumento musical de improviso, mas com alguma estrutura definida. A terceira envolve sensações visuais e de temperatura, entre a luz e o calor do ambiente de modo a surpreender os presentes.
Ciclo de Filmes na sala Itaú Cultural
O ciclo de filmes é realizado de 7 a 10 de novembro (quinta-feira a domingo), na sala Itaú Cultural, com as 15 obras selecionadas – cinco na categoria Filmes e Vídeos Experimentais e 10 da carteira Documentários para a Web.
Das obras de Filmes e Vídeos Experimentais, além do já citado vídeo Já Visto Jamais Visto, que também entra neste ciclo, é exibido A Deusa Branca, de Alfeu França, que narra, com materiais de arquivo, a expedição, feita em 1958, pelo artista Flávio de Carvalho, um dos grandes nomes da geração modernista brasileira, e sua equipe pela região amazônica para realizar um longa-metragem que jamais foi concluído. Em Origem: Destino, o diretor Armando Praça mostra o universo de imigrantes africanos no Brasil, por meio de procedimentos ficcionais, documentais e experimentais. O Porto, de Clarissa Campolina, Julia de Simone, e Luiz e Ricardo Pretti, trata das tensões entre o passado e o presente no ambiente portuário do Rio de Janeiro. De Guile Martins, Cine Penhor é uma colagem de lembranças e formatos contada dentro de uma loja de penhores.
Os projetos selecionados na categoria Documentários para web revelam a tendência de abordar temas ligados à cidade e à urbanidade. O Centro Invisível, de Tiago Pedro, fala da modernização de Fortaleza e da transformação pela qual a cidade está passando. Centrado no trânsito, Sorria, É Sexta-Feira, de Luka Melero e Vinicius Vieira, entrevista motoristas presos no congestionamento na ponte Rio-Niterói, nas noites de sexta-feira. O Ponto Cego, de Chico Bahia, usa imagens de satélites e de outras câmeras posicionadas no local para tornar a imagem da capital de São Paulo mais nítida. Em outra ponta, Boca de Rua - Vozes de Uma Gente Invisível, de Marcelo Andrighetti, conta a história do jornal Boca de Rua, fundado por sem teto em Porto Alegre e que se transformou um canal de comunicação entre eles e representantes de outras classes sociais. De Camis Garcia, Saltimbancos é uma investigação sobre as motivações que levam os artistas às vias públicas das cidades.
Laboratório virtual
Nesta edição, há uma novidade: a categoria Documentários para a Web contou com um laboratório virtual para os selecionados. Durante seis meses, a produtora e pesquisadora Daniela Capelato realizou o laboratório com encontros online semanais para falar sobre os diversos caminhos que a internet abriu para a criação de obras audiovisuais, fazer consultoria sobre as possibilidades de cada filme e debates sobre roteiro, montagem, experimentação, interatividade e finalização. “Foi um período muito positivo de conversas e trocas de referências, que resultou em muitas descobertas e aprendizado para esses diretores tão jovens”, conta Daniela.
De acordo com ela, essa é uma experiência pioneira, pois webdoc é uma linguagem muito nova, que apesar de ter um formato clássico, pode se abrir para inúmeras oportunidades online. Este é o caso de Sinoâncias, de André Azevedo e Carol Argamim Gouvêa, que retrata a musicalidade de sinos de igrejas de São João del-Rei, em Minas Gerais. A ideia original era fazer uma reportagem com meninos que dobram os sinos. Depois das consultorias virtuais, consultora e autores decidiram disponibilizar as entrevistas online para quem tiver interesse em se aprofundar no conteúdo. O documentário ganhou, assim, uma linguagem poética, centrada no diálogo entre sinos de diferentes igrejas, sem narração. O personagem principal é o sino.
Para dar sustentação a essa nova abordagem, o Itaú Cultural disponibilizará a partir do ano que vem um hotsite que, além de complementar os documentários e o resultados do laboratório, será um espaço para discussões, publicação de textos de consultores e de links para outros portais e blogs referentes ao tema. “O hotsite dedicado aos documentários para a web possibilitará a criação de um importante canal de comunicação e discussão sobre os assuntos explorados”, adianta Daniela para informar que o filme Trans*lúcidx, de Tamíris Spinelli, o qual aborda os indivíduos transexuais, abre espaço para debates sobre questões de gênero e de sexualidade, por exemplo.
Espetáculos multimídia
Estes acontecem nos dias 13, 15, 16 e 17 de novembro (quarta-feira e de sexta-feira a domingo), sempre às 20h, com apresentação, respectivamente, de Som e Chão, de Tiago Romagnani Silveira e Diogo de Haro, Branco, de Mirella Brandi e Muep Etmo; Armadilhas, do Grupo Mesa de Luz; e Orquestra Vermelha, de Matheus Leston.
Além de exibir a obra performática Som e Chão no piso -2, Tiago Romagnani e Diogo de Haro, fazem um espetáculo multimídia com o mesmo nome no palco da sala Itaú Cultural. Um dos componentes mais fortes é a exploração da espacialidade, já que eles transcendem a boca de cena para se espalhar na plateia. Para eles, não somente os instrumentos musicais tem a função de criar conjuntos de sons rítmicos como também cadeiras, portas, e o que mais estiver ao alcance. “Ativamos o som em potencial dos objetos presentes em todo o espaço, mas de uma maneira improvisada e amplificada, andando por entre o público em busca dos sons”, explica Tiago. “No palco, ficam apenas objetos sonoros que se autodestroem e causam ruídos como espelhos, vidros e lâmpadas criando um diálogo com os demais barulhos,” conta.